segunda-feira, julho 29, 2019

Substancialmente

In English
En français
Continuando minha série sobre a Transubstanciação, veio-me à mente uma ideia tentadora como analogia, embora grotesca diante da grandiosidade do assunto. Assisti a um vídeo do Padre Paulo Ricardo (1), falando sobre o tema, e sua tentativa de explicar o mistério da Eucaristia fez-me pensar na água. Sim, na água.

Resumindo em poucas palavras, ele diz que Jesus está presente no pão e no vinho em "substância", apesar de a forma "acidental" continuar a ser de pão e vinho e de não podermos experimentá-LO, portanto não é uma presença empírica. A explicação é muito interessante, vale a pena assistir ao vídeo no link ao final deste texto.

Imediatamente, pensei na água e suas inúmeras e variadas apresentações sólidas, no inverno glacial que ocorre onde moro. Há o gelo, que todos conhecemos, e há a neve que varia enormemente em sua forma e consistência, conforme as condições meteorológicas. Encantam-me, por exemplo, as rendas e bordados rebuscados que aparecem na janela da minha cozinha que, por sua localização, recebe os ventos do Polo Norte e sofre a ação mais vigorosa e direta do frio.

Todas essas apresentações são, substancialmente, HO, mas acidentalmente em visual e consistência diferentes. No caso da água, a presença também é empírica, podemos experimentar. Na Eucaristia, ao contrário, o que permanece são as características acidentais: aparência, consistência, gosto – de pão e vinho; muda a substância em cada um: pão e vinho passam a ser corpo e sangue de Cristo, respectivamente.

Obviamente, a analogia é precária, mas de certa forma didática, não acham?

~~~~
São Carlo Acutis, rogai por nós.
~~~~
Links relacionados

 


quinta-feira, julho 25, 2019

Só para os que creem ou gostariam de crer...

In English
Fazei isto em memória de mim” (Lucas 22:19)
Fico imaginando que haja uma "função" de concretude inusitada para o ato recomendado na frase acima... A ordem foi comer o Corpo e beber o Sangue mesmo! Adentramos, aí, na tangibilidade do espiritual.
Eu me explico:
Pelo que podemos captar com os nossos sentidos, constata-se que o nosso “DNA” está preso dentro de um círculo vicioso, onde esta morte que a gente conhece desempenha um papel fundamental, desde o cenário de um diminuto átomo englobado por uma molécula até o cenário de pedaços de carne, folhas e frutos, etc, sendo deglutidos por seres humanos, como alimento. Assim o nosso DNA se mantém e se “procria” a partir da assimilação de produtos da morte de outros seres, tudo se resumindo naquela máxima de Lavoisier – « Rien ne se perd, rien ne se crée, tout se transforme. » - dentro deste "pool" de elementos que conhecemos.
Se cremos que Jesus é a palavra de Deus encarnada – fenômeno de grandeza desconhecida para nós –, há na nossa crença algo palpável, que deixou de ser apenas conjectura filosófica. Logo, que a "Palavra" seja capaz de transformar a hóstia em Corpo de Cristo, passa a ser algo banal, em comparação com a magnitude da encarnação do Verbo Divino.
            Não seria, então, a Hóstia o Elemento de Vida introduzido no círculo vicioso (mencionado acima) com a função exatamente de "contaminar" o pool da morte com a Vida? Ou seja, à medida que comemos este Pão que ressuscita, ele vai quebrando o círculo vicioso, preparando nossa matéria para um outro estágio (note-se bem que este "pool" é o mesmo desde que o tempo é tempo… vale para o que entendemos como "passado" e "futuro" também).
            Parece mirabolante, coisa de feitiçaria? Se pensarmos assim, tudo o que vivenciamos também parece… Quer coisa mais estranha do que uma criança se formar, ir crescendo, virar adulto, depois esse adulto ficar velho? Isso existe mesmo ou é efeito colateral da morte? Esse velho que você vê no espelho tem alguma coisa em comum com aquele bebê que você foi, não tem? Hein?
~~~~

terça-feira, julho 16, 2019

Une légende des Îles de la Madeleine


Il est probable que les légendes cachent un fond de vérité, on s’en doute. Moi, en tout cas, je n’ose pas dire tout simplement : - Ah, ce n’est qu’une légende ! Attention, « il n’y a pas de fumée sans feu ».
En 2017, on est allé aux Îles de la Madeleine. Ce fut un voyage magnifique, j’ai adoré ! J’ai écrit un texte basé sur mon carnet de voyage (1), pour enregistrer les bons souvenirs. Mais je n’ai pas tout raconté. Par exemple, il est arrivé quelque chose de bizarre quand on a visité la Pointe-aux-loups, une région des Îles.
Pour chaque endroit, je cherchais la localisation sur mon appareil mobile, pour avoir la météo à jour. C’est ce que j’ai fait aussi en arrivant à la Pointe-aux-loups, je n’ai pas eu de problème pour trouver le toponyme – je l’ai gardé. Le jour suivant, quand je me réveille et regarde la prévision météo… Tiens, tiens… le nom de la place avait changé, comme par magie. Où j’avais enregistré Pointe-aux-loups, c’était écrit « Le Buttereau-du-nègre » ! Comment ça ?
Je fouille sur Internet, en commençant par la carte et, voilà, le nom est là, dans la région de la Pointe-aux-loups; mon appareil a probablement raffiné la localisation. Tout de suite, j’ai fait une recherche sur ce nom intrigant et j’ai trouvé une légende populaire.
Voici un récit que j'ai copié de la page en référence (2), à la fin de ce texte: « Vers 1870, un naufragé noir échoue sur une plage de la Dune-du-Sud, près de Havre-aux-Maisons. Les habitants l’ensevelissent comme il se doit, dans la dune adjacente. Or, plusieurs années durant, le cadavre réapparaît, la face tournée vers le ciel, et chaque fois, les Madelinots le ré-enterrent. Après quelques années, on procède donc à une nouvelle sépulture, cette fois le cadavre face contre terre. Peine perdue. On décide alors de construire un cercueil et d’ensevelir le naufragé plus profondément et selon les rites habituels. Cette fois semble la bonne, mais des phénomènes étranges continuent de se produire : la nuit, des lueurs apparaissent au-dessus du buttereau, « en passant là les chevaux prenaient peur ; les roues de charrettes se détachaient ; les menoires cassaient » (Chiasson, Les légendes des îles de la Madeleine, Les Aboiteaux, 1969, p. 103). »
D'autres récits disent que tant que le Noir n'a pas été enterré avec les rituels catholiques, il continuait à revenir en surface. Ils disent, aussi, que sur cette place ni route ni maison ont été construites, depuis ces événements.
Enfin, le problème ne semble pas complètement résolu encore. N'est-ce pas bizarre que ce toponyme, dont je n'avais jamais entendu parler, ait pris le dessus sur l'autre que j'avais choisi ? Une façon virtuelle de revenir en surface encore ! :-)
Mais il y a d'autres problèmes ajoutés. La Commission de toponymie du Québec devra changer ce nom, parce que le mot « nègre » n'est plus politiquement correct (3). En plus, le toponyme n'est pas associé à un endroit précis, donc il n'apparaît plus sur bien des cartes modernes. On verra bien s'ils vont réussir à enterrer toute cette histoire, un jour. J'en suis sceptique. :-/

      (1)   Carnet de voyage
      (3)   Toponyme désofficialisé

quinta-feira, julho 11, 2019

Nunca fiando

Até meados do século XX, nos anos 1950, o sistema telefônico era ainda muito precário, embora significasse um grande desenvolvimento nas comunicações. Na zona rural do Canadá eram oferecidas linhas compartilhadas (lignes partagées, party lines, shared service line – também nos Estados Unidos). Quando um telefone tocava na casa de alguém, os que compartilhavam a linha ouviam um sinal e sabiam que não era na casa deles. Mas havia os curiosos que punham o aparelho no ouvido, para escutar a conversa; o sistema não tinha privacidade garantida, embora pudesse ser ouvido um “clic” quando o curioso tirava o aparelho do gancho, correndo o risco de levar uma bronca do outro lado. Já ouvi muitos casos anedóticos dessa época, em reuniões familiares, por aqui.
No Brasil, do que me lembro, nos anos 1960, as linhas eram individuais, em Belo Horizonte. Supostamente, as ligações não deveriam ser partilhadas com outras casas. No entanto, acontecia, com certa frequência, de ouvirmos pequenos ruídos no aparelho e, quando retirávamos do gancho para verificar, havia gente conversando em outra linha. Claro, mandava a boa educação que desligássemos o telefone imediatamente, para não ficar ouvindo conversa dos outros e, às vezes, a gente até avisava: " Ó, tá dando para ouvir a conversa de vocês." Também quando estávamos em uma ligação, por vezes, ouvíamos um estalido, dando a impressão de que mais alguém havia se juntado a nós, na escuta.
Por ser mais antiga, portanto tendo vivenciado mais falhas da incipiente comunicação por telefone, minha mãe costumava nos advertir, dizendo baixinho, para o interlocutor não ouvir, – Olha a linha cruzada – ao mesmo tempo que fazia um gesto com as duas mãos, cruzando os dedos, toda vez que ela achava que estávamos falando algo impróprio ou comprometedor.
Depois a coisa melhorou, telefone grampeado só mesmo por autoridades com mandato para tal. Mas minha mãe continuou sempre a fazer a advertência, mesmo depois que julgávamos que a telefonia já estava mais segura. – Nunca fiando era outro bordão que ela usava, para diversas circunstâncias.
Atualmente, apesar da enorme evolução da tecnologia, tudo pode vazar, nem sempre por mandato justificado, muito menos por motivos nobres. Como eu gosto de dizer, é muito difícil impugnar qualquer coisa que minha mãe dizia... Ela estava certa ao afirmar que não se podia confiar em nada.
Por essas e por outras, temos que pôr na cabeça que, o que não pudermos falar em um microfone para qualquer um ouvir, é melhor não falar de jeito nenhum. Está faltando pouco para lerem o pensamento da gente... e parece que já estão estudando esta possibilidade.
~~~~
Links relacionados: