quarta-feira, junho 28, 2017

Fabricando o futuro




Condição sine qua non para fabricar um futuro promissor para todos os brasileiros é não interromper o processo de limpeza da corrupção que foi iniciado pela operação lava-jato. Muita coisa nesse sentido já foi feita com sucesso, mas ainda há muito a fazer. Para isso, o povo precisa continuar apoiando quem promove a justiça. Não sou eu que estou dizendo, os próprios juízes pedem apoio da população, para que não sejam obstruídos por poderosos. Temos que ouvir o clamor destes que estão realmente trabalhando para o povo.
Saber distinguir bem o que é corrupção é fundamental para que não caiamos em armadilhas. A própria noção do que é corrupção está sendo corrompida na cabeça de muita gente no Brasil. Praticar corrupção não é só receber propina ou ter conta no exterior. Desviar o dinheiro suado do povo para um partido político, para empresas, ONGs, para outros países, favorecer esquemas de propinas para manter outros no cabresto, para se manter no poder – esvaziando os cofres públicos – isso é das piores corrupções, pois afeta toda a população de um país.
Uma alegação de quem defende os últimos presidentes da autoproclamada “esquerda progressista” do Brasil é terem feito programas sociais que beneficiaram os pobres. Ora, sabemos que, em comparação com o montante envolvido em ilicitudes, o dinheiro usado nesses programas não passou de esmola, que se esvaiu com as consequências da corrupção. Com toda a soma desviada em falcatruas, no entanto, poderiam ter promovido a educação de várias gerações de pobres e ter solucionado todos os problemas sanitários do país.
Isso me faz lembrar das críticas que a própria esquerda fazia aos católicos, lá pelos anos 1950/60, de que davam esmolas aos pobres para apaziguar a consciência. É o que fazem hoje esses governos de esquerda do Brasil, para apaziguar consciências. Guardadas as devidas proporções, o princípio é o mesmo, e muitos pensam que isso está certo. Só porque eles deram essas esmolinhas para os pobres, isso não os redime de seus pecados.
Imbuídos da construção de um futuro melhor, precisamos ficar atentos aos pequenos gestos do dia-a-dia, também. Tudo o que fazemos em proveito próprio, que nos coloca em situação de vantagem em relação a outrem, ou que pode prejudicar alguém, é corrupção. Nada melhor do que a definição do dicionário para a palavra, a fim de nos inteirarmos bem do que se trata:
http://www.aulete.com.br/corrup%C3%A7%C3%A3o
ou aqui:
https://www.priberam.pt/dlpo/corrup%C3%A7%C3%A3o
Dito isto, precisamos de nos convencer de que não podemos delegar a outros a tarefa de construir o nosso futuro. Isso é direito e dever de cada um. Muitas tentativas serão feitas para ludibriar o povo. Toda a atenção será necessária, toda a desconfiança será pouca.
As pesquisas de intenção de votos, para as eleições de 2018, já começaram a aparecer. As empresas responsáveis pelas enquetes sugerem nomes de candidatos, mesmo antes que eles tenham manifestado o desejo de participarem. Parece até alguma estratégia para o povo ir-se acostumando com a candidatura de certos políticos e para teatralizar disputas, direcionando a vontade das pessoas. Esta astúcia pode também ter o intuito de entorpecer a mente da população quanto à possibilidade de outros candidatos, diferentes dos sugeridos... existem outras pessoas possíveis!
Diante dessa situação inusitada pela qual o Brasil está passando, com essa corrupção gigantesca e agarrada, acho que o povo brasileiro vai ter que INOVAR também nas táticas para encontrar soluções. Não sei quais meios diretos o povo teria para, especificamente, exigir dos partidos a indicação de candidato com a ficha verdadeiramente limpa, sem indícios de estar envolvido em bandalheira, sem sequer estar sendo investigado – árdua tarefa. Mesmo que não seja um partido para o qual votaríamos, temos que exigir candidatos decentes. Todos! Porque se não vamos votar num determinado partido, não significa que não estejamos correndo o risco de que o candidato dele ganhe.
Está aí um desafio para usar de modo correto o famoso "jeitinho brasileiro". Não temos muito tempo, talvez já ir avisando aos partidos que o povo não aceitará qualquer um.
O que vocês pensam que pode ser feito?

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Imagem do TSE: http://www.tse.jus.br/

terça-feira, junho 20, 2017

Sapatos ululantes




Hoje o dia foi lindo, com nuvens cor de chumbo, trespassadas por fulgurantes raios de sol que descortinavam um puro azul ao fundo e faziam a chuva intermitente brilhar fininha – “chuva com sol, casamento de espanhol” – as poças d’água refletindo o espetáculo.
Bons tempos eram aqueles em que se usavam galochas. Lembro-me só das masculinas. Não sei se as mulheres, por vaidade, preferiam ficar com os pés molhados, ou se foi porque passávamos por uma fase de transição, quando nem todos usavam mais. Pesquisando na internet, constatei que agora existem modelos elegantes e coloridos, que se adaptam a qualquer tipo de sapato. Será que alguém ainda usa? Ou têm receio de serem chamados de “chatos de galocha”?
Lembro-me que, em dias chuvosos, ao nos defrontarmos com poças d’água, não estando equipados de galocha, o jeito era saltá-las. Se mergulhássemos os pés, pronto, saíamos escorregando dentro dos sapatos, que faziam aquele barulho encharcado de dar arrepios e nunca eram mais os mesmos depois da aventura aquática.
No Canadá, os sapatos do dia-a-dia podem não ser tão elegantes como os brasileiros, mas são impermeáveis. Aprendi isso logo nos meus primeiros tempos aqui quando, após uma chuvarada, comecei a pular na rua, no trajeto até chegar ao carro. Meu marido parou e, com um olhar entre espantado e irônico, me perguntou o que eu estava fazendo. – Saltando as poças, ora! – fui logo respondendo, com aquele ar de quem estava lidando com uma obviedade... Foi uma lição a mais, para mim, de que mesmo o óbvio é relativo e nem sempre ululante.

Noyade


  Versão em português
  English version
 
« La réponse instinctive à la noyade est silencieuse et limitée à des mouvements subtils » Dr Francesco A. Pia

Je suis consternée de constater par les nouvelles, encore cette année, plusieurs cas de noyade au Québec. Quatre personnes, un adulte et trois enfants, en moins d’une semaine! C’est trop! Chaque fois que j’entends parler de noyade, je me souviens de ce qui m’est arrivé et j’aimerais donner ma contribution, avertir les gens de certains signes, pas toujours évidents et dont l’observation pourrait sauver des vies.
On imagine que les personnes crient, agitent les bras et appellent au secours, quand elles sont en train de se noyer. Cela peut arriver, mais la réaction typique est très discrète, aux yeux des autres. Pour ceux qui ne sont pas entrainés pour identifier une telle situation, les signes peuvent passer inaperçus.
Quand c’est arrivé à moi, j’ai eu ce qu’ils appellent « la réponse instinctive à la noyade, une réaction silencieuse et limitée à des mouvements subtils ». Je suivais un cours de natation. J’étais seule dans une piscine pour débutants, l’instructeur me laissait pratiquer, parce que j’allais bien dans les premiers exercices, et il se promenait au bord d’autres piscines pour donner des instructions à d’autres.
À un moment donné, j’ai fait un mouvement brusque et mon corps s’est tourné, de sorte que j’avais le visage vers le haut. Je n’étais pas capable de revenir à la position précédente, je ne savais pas gérer mes gestes dans l’environnement aquatique. Je n’ai pas crié, pas agité le corps, la priorité était de respirer; le petit peu de temps que je réussissais à sortir la tête de l’eau n’était même pas suffisant pour compléter un cycle de respiration, moins encore pour parler quoi que ce soit. J’essayais de garder la tête au-dessus du niveau de l’eau, mais je ne réussissais pas, la tête submergeait encore et encore. Je ne sais pas combien de temps cela a duré.
J’ai été chanceuse car l’instructeur était en train de passer près de la piscine où j'étais et il m’a vu en train de me noyer. J’ai commencé à entendre sa voix qui me parlait, il me donnait des instructions pour me sortir de cette situation-là. Mon attention s’est tournée vers l’audition, vers sa voix, et j’essayais de faire les mouvements qu’il me recommandait, mais je les ratais et mon corps s’obstinait, comme un réflexe, à faire les mêmes tentatives d’avant, qui ne portaient pas de fruits.
Ce que je trouve très bizarre, c’est que le fait d’entendre sa voix m’a transmis un calme tellement dense, dans la certitude qu’il me sauverait, que s’il n’avait pas décidé de me retirer de l’eau, je crois que j’aurais décédé en toute tranquillité. Bien que consciente, je me sentais complètement incapable de m’en sortir, et je me suis convaincue que lui, en tant qu’instructeur de natation, qu’il verrait ce qui se passait et serait suffisamment habile pour me sauver. Je me suis attachée à cette pensée et cela me calmait. Une chance qu’il l’a vraiment fait. Ceci, probablement, n’a pas duré plus que quelques secondes, mais c’était comme une éternité.
Quand j’ai été placée en toute sécurité, il était difficile de respirer. Je ne pouvais qu’expirer, une sorte de toux explosive à plusieurs reprises, sans intervalle pour l’inspiration, et seulement de l'eau sortait de ma bouche et de mon nez, sous forme de multiples petits jaillissements. Cela m'a causé beaucoup de détresse. Quel soulagement quand j’ai réussi, finalement, à inspirer un peu d’air!
Probablement, quand il m’a retiré de l’eau, j’étais dans la phase de fermeture du larynx, une réaction physiologique de défense qui arrive juste avant l’inondation des poumons.
Quand j’ai été capable de remarquer ce qui se passait au tour de moi, j’ai vu que des regards effrayés de tout le monde dans l’académie étaient tournés vers moi... Après la peur, la honte de m’être presque noyée dans une piscine peu profonde s’est emparée de moi. Vous pouvez rire, mais, s'il vous plaît, ce serait bon d’expliquer à tout le monde, y compris les enfants, que si on voit quelqu’un qui semble ne pas bouger beaucoup, la tête qui sort de l’eau pour ensuite submerger, et cela plusieurs fois, même s’il n’y a pas des signes de détresse, il faut demander tout de suite si la personne va bien. Si elle ne répond rien, c’est parce que ça va mal, la noyade est silencieuse. Alors, on doit crier au secours, et il faut agir vite pour la sauver.
S’il vous plaît, lisez l'article ci-dessous, il est très important et instructif:
 http://mariovittone.com/la-noyade-en-francais/
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quinta-feira, junho 15, 2017

Vue de la terrasse supérieure


Vista do terraço by Chico Lima
Versão em português
English version

J’ai déjà écrit beaucoup à propos de ma mère, très peu sur mon père. Maintes fois, j’ai essayé et je finissais par abandonner l’idée. Plusieurs oncles, tantes, cousins et cousines plus vieux nous ont dit à nous, les enfants, que nous n’avons pas connu notre père dans toute la vigueur de la jeunesse. Pas de doute là-dessus, il s’est marié à l’âge de 42 ans. L’avantage que nous pouvons en tirer pour nous c’est la maturité. Dommage que ce fût de courte durée, car sa maladie a commencé quand nous étions encore jeunes. Mais il a accompli sa mission comme père avec précision et extrême dévouement, en pleine forme, quand nous avions besoin de lui pour avoir une bonne éducation.
Je ne veux pas m’allonger trop au sujet de ses qualités et de ses réalisations, parce que l’être humain que j’ai connu n’était pas du tout du genre à se vanter de ses gestes. Cependant, je serais injuste si je ne faisais aucune mention à ses activités humanitaires et scientifiques, ses actions pour aider non seulement sa grande famille, mais aussi les nombreux pauvres d’un Brésil antique, indigent, sous-développé, sauvage. Tout cela sans fanfare ni trophée, mais il avait la reconnaissance des personnes secourues et l'admiration de ceux qui l’ont côtoyé.
J’ai été induite à écrire ce texte lors d’une visite virtuelle à la terrasse supérieure de la maison d’une amie, où l'on peut avoir une ample vue de montagnes et un ciel immense qui s’offre aux yeux réceptifs aux merveilles, sans aucun bâtiment pour embarrasser le spectacle. Mon père aimait les maisons avec terrasse supérieure et ainsi il a construit la nôtre.
Ah... Tant de souvenirs ont fait surface! L'harmonie du couple éternellement amoureux qui nous a fourni un environnement solide. Notre « Google », notre encyclopédie, il savait tout. La recherche pour le travail scolaire à la maison avait de la voix et dessinait au besoin. Et les lectures et les discussions philosophiques et littéraires de ma sœur aînée – dont l’intelligence se manifestait déjà en abondance depuis son jeune âge – et que mon père écoutait avec une patience énorme, certainement fier de sa fille. J'ai appris énormément en écoutant leurs conversations!
En ce qui concerne la musique, il jouait un peu, oui, de la guitare, du piano et du violon. Quand il s’agissait de l’écouter au violon, on ne voulait pas qu’il arrête car, une fois enfermé dans l’armoire, l’instrument disparaissait de circulation pour longtemps – parce que ce n’était pas un jouet, il était très jaloux de son violon. Il jouait plus souvent de la guitare et, même moi, sans aucun talent pour la musique, j’ai reçu quelques leçons de mon père. Moins que l’élémentaire, mais les accords semblaient élaborés, ce qui faisait les gens rire de la petite fille avec sa guitare, aussi petite.
Ah! Le piano... il jouait au piano dans les rares occasions où les portes du salon chez ma grand-mère étaient ouvertes au public. Il avait commencé à fabriquer un piano chez nous mais il ne l’a jamais achevé.
Les enfants plus âgés l’ont connu plus vigoureux, bien sûr. Il commençait déjà à faiblir au fil du temps. Malgré cela, mon frère plus jeune se souvient de beaucoup de leçons apprises de lui et se rappelle encore de comment il soulignait et répétait que tous les êtres humains sont égaux. Cela est resté marqué dans sa mémoire. Il y a eu beaucoup de moments joyeux avec les enfants plus jeunes aussi; enchantés et sans vouloir le lâcher un seul instant, il fallait que leur père leur demande de compter de un jusqu’à quand la circonstance exigeait, pour les faire patienter, en attendant qu’il quitte la salle de bain.
L'un des plus beaux cadeaux que nous avons reçu de lui, c’est qu'il nous a enseigné à extrapoler dans l'univers inébranlable de sa foi. Pour donner un exemple, en revenant d’une leçon de catéchisme de notre paroisse, je me souviens que j’avais plein de questions au sujet des images dessinées pour représenter Dieu, Adam et Ève au Paradis. En peu de mots, il m'a sensibilisé à l'impondérable, quand il m’a expliqué que nous ne pouvons pas savoir comment Dieu est, ni Adam, ni Ève. Ces représentations en images étaient pour faciliter notre faible compréhension humaine. Il savait que les enfants pouvaient capturer des idées sans attaches, plus librement que les adultes. Il ne nous a pas ménagé et c’est bien.
Mon père aimait admirer une nuit étoilée, il allait sur la dalle du premier étage de notre maison et, après la construction du deuxième étage, il allait sur la terrasse. Il nous montrait les constellations, il nous a donné la notion de l'immensité de l'univers. De cette façon, il m'a inculqué cette fascination que j'ai, en regardant le ciel, de ressentir ma petitesse devant l'incommensurable, de comprendre qu'il existe l’incompréhensible.
Je pense qu’une ample vue du Ciel et de la Terre est l'image qui mieux représente mon père, soit dans le sens évident, soit métaphoriquement. C’est sur la terrasse de ma mémoire que je le visualise, le regard vers l'infini, le mien dans le sien.
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Yvon Rodrigues Vieira

Yvon Rodrigues Vieira, né et mort à Belo Horizonte, MG, Brésil (*23-02-1905 +15-02-1979), fut un médecin anatomopathologiste. Il a travaillé au Département d’Anatomie Pathologique de l’UFMG (entre 1927 et 1936); médecin à l’Instituto de Cegos São Rafael; médecin au Service Public de l’État de Minas Gerais; Co-fondateur de l’Université Pontificale Catholique de Minas Gerais, Co-fondateur de la Faculté de Sciences Médicales de Minas Gerais, professeur  en Histologie et Embryologie; professeur de Médecine Légale à la Faculté de Droit; membre du conseil d'administration de la Sociedade Mineira de Cultura, institution responsable des facultés catholiques de Minas Gerais; anatomopathologiste au Laboratoire Central du Département de Maladie de Hansen de l’État de Minas Gerais, jusqu’à l’année de sa retraite, en 1963. 



Quelques références trouvées sur la Web, à des fins d’illustration :

http://site.medicina.ufmg.br/cememor/wp-content/uploads/sites/51/2016/11/TURMA_1926.pdf          
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http://site.medicina.ufmg.br/apm/sobre/   (ver Histórico)                                                                         
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http://rmmg.org/artigo/detalhes/566                                                                                                          
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 https://www.pucminas.br/centrodememoria/documents/inventario-dom-antonio.pdf
( inventário de correspondências recebidas por Dom Antonio dos Santos Cabral, incluindo Carta de Yvon Rodrigues Vieira, em 10/12/1948: aceitação do convite para a Regência da cadeira de Medicina Legal da UCMG)