Hoje o dia foi lindo, com
nuvens cor de chumbo, trespassadas por fulgurantes raios de sol que
descortinavam um puro azul ao fundo e faziam a chuva intermitente brilhar
fininha – “chuva com sol, casamento de espanhol” – as poças d’água refletindo
o espetáculo.
Bons tempos eram aqueles em
que se usavam galochas. Lembro-me só das masculinas. Não sei se as mulheres,
por vaidade, preferiam ficar com os pés molhados, ou se foi porque passávamos
por uma fase de transição, quando nem todos usavam mais. Pesquisando na
internet, constatei que agora existem modelos elegantes e coloridos, que se
adaptam a qualquer tipo de sapato. Será que alguém ainda usa? Ou têm receio de
serem chamados de “chatos de galocha”?
Lembro-me que, em dias
chuvosos, ao nos defrontarmos com poças d’água, não estando equipados de galocha, o jeito era
saltá-las. Se mergulhássemos os pés, pronto, saíamos escorregando dentro dos sapatos,
que faziam aquele barulho encharcado de dar arrepios e nunca eram mais os
mesmos depois da aventura aquática.
No Canadá, os sapatos do
dia-a-dia podem não ser tão elegantes como os brasileiros, mas são
impermeáveis. Aprendi isso logo nos meus primeiros tempos aqui quando, após uma
chuvarada, comecei a pular na rua, no trajeto até chegar ao carro. Meu marido
parou e, com um olhar entre espantado e irônico, me perguntou o que eu estava
fazendo. – Saltando as poças, ora! – fui logo respondendo, com aquele ar de
quem estava lidando com uma obviedade... Foi uma lição a mais, para mim, de que
mesmo o óbvio é relativo e nem sempre ululante.
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