terça-feira, outubro 27, 2020

Uma Copa do Mundo de tirar o fôlego!

 

Esther, foto de 1999

Outro dia, acordei engasgada, à noite. Deve ter sido com saliva, foi um engasgo típico. Não conseguia parar de tossir e lágrimas de esforço escorriam. Meu marido pensou que eu estava morrendo, mas, ao me ver levantando para ir tomar água, caiu no sono de novo, numa rapidez impressionante. "Benza Deus!" 😆

O episódio trouxe à minha lembrança o que minha mãe tinha, de vez em quando, que a gente chamava de engasgo, mas tenho minhas dúvidas sobre o que era aquilo, realmente. Parecia um tipo de apneia, estando ela acordada. De repente, ela parava de respirar, chegava a ficar com os lábios um pouco roxos. Ficava aflitíssima, sem emitir som algum. Acho que a laringe se fechava, sei lá (como o reflexo que acontece no início do afogamento – eu tive isso quando quase me afoguei [1]).

Lembro-me de que nós descobrimos (não sei se foi ela mesma que descobriu ou se fui eu) que, tomando uns golinhos de água, pausadamente, a respiração voltava. Depois de uns goles, ela pigarreava e respirava uma primeira vez com dificuldade semelhante a uma crise de asma e, em seguida, a respiração se normalizava. Depois que descobrimos isso, ela até ficava menos aflita, quando tinha um episódio, e já ia fazendo o gesto, como alguém segurando um copo bebendo água, para a gente trazer um copo d'água para ela.

Ela consultou com médicos por este motivo e nunca descobriram nada – acho que nem deram muita importância ao fato, provavelmente acharam que era “piti”.

Nunca encontrei uma explicação para aquilo. Parecia uma falta de coordenação motora para respirar e, ao tomar goles de água, destravava. Estranhíssimo. Não sei se o fato de passar água pelo esôfago estimulava algum receptor na vizinhança anatômica, "acordando" a laringe; beber água, pausadamente, era a única coisa que aliviava mais rápido.

Hoje, estava aqui conjecturando, misturando conhecimento médico com palpite leigo (das piores combinações que podem ser feitas 😊) para tentar explicar o fenômeno. Quem sabe era um engasgo com saliva mesmo, que ocorria no afã de falar alguma coisa. E, em vez de tossir para expelir o líquido, ela tinha o reflexo de fechamento da laringe, como nos primeiros instantes do afogamento – um mini-afogamento. Alguma memória (reflexa) do sistema nervoso dela, de quando ela quase se afogou, na infância? Ou, simplesmente, envelhecimento e alteração dos reflexos de deglutição?

 A primeira vez que o falso engasgo aconteceu com ela foi na Copa do Mundo de 1970 (ela tinha 54 anos), no gol do Brasil contra a Inglaterra, naquele jogo difícil; ela foi dar um grito (nós todos estávamos gritando e pulando) e o grito dela não saiu, a respiração travou. Foi tragicômico... hahaha... Mas tudo acabou bem. Ela e a Copa do Mundo, a melhor de todos os tempos, na minha opinião. Foi de tirar o fôlego, literalmente!

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Links relacionados:

[1] Afogamento

 

quarta-feira, outubro 21, 2020

Química das cores

 

English (Prof Shakhashiri)

Français

Esta é uma tradução da antiga página do Prof. Shakhashiri. Convido o leitor a visitar a nova página, para ver belas imagens do outono. O novo endereço da web é:

http://www.scifun.org/CHEMWEEK/AutumnColors2017.pdf

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A cada outono, no hemisfério norte, a redução da duração da luz do dia e as temperaturas em queda induzem as árvores a se prepararem para o inverno. Assim, elas perdem bilhões de toneladas de folhas. Em certas regiões, como a nossa, a queda das folhas é precedida por um espetáculo de cores feéricas. As folhas anteriormente verdes adquirem brilhantes tonalidades de amarelo, laranja e vermelho, assim como de castanho. Estas mudanças de cor são o resultado da transformação dos pigmentos presentes nas folhas.

O pigmento verde das folhas é a clorofila. Ela absorve os elementos vermelho e azul da luz solar. Desta maneira, a luz refletida, menos vermelha e menos azul, aparece verde. A clorofila compreende, na realidade, dois pigmentos, a clorofila a e a clorofila b.  As moléculas desses compostos são grandes: C55H72MgN4O5 para a clorofila a e C55H70MgN4O6 para a clorofila b. Essas moléculas são insolúveis no meio aquoso que preenche as células. Elas são fixas às membranas dos cloroplastos, estruturas semelhantes a discos, presentes no interior das células. Os cloroplastos são a sede da fotossíntese, o processo pelo qual a energia luminosa é convertida em energia química. Dentro dos cloroplastos, a luz absorvida pela clorofila fornece a energia usada pelas plantas para transformar o dióxido de carbono e a água em oxigênio e carboidratos, cuja fórmula geral é Cx(H2O) x.

Nesta transformação endotérmica, a energia da luz absorvida pela clorofila é convertida em energia química, que é armazenada nos carboidratos (açúcares e amido). Esta energia química é a base das reações bioquímicas responsáveis pelo crescimento, produção de flores e sementes.

A clorofila não é um composto muito estável e a luz brilhante do sol provoca sua decomposição. Para manter a clorofila nas suas folhas, as plantas a sintetizam continuamente. Esta síntese requer luz solar e temperaturas quentes. Assim, durante o verão, a clorofila é constantemente decomposta e renovada nas folhas das árvores.

Um outro pigmento encontrado nas folhas de muitas plantas é o caroteno. Este absorve as cores azul-verde e azul da luz. A luz refletida pelo caroteno aparece amarela. Este pigmento constitui-se em uma molécula também grande (C40H36) contida nos cloroplastos de muitas plantas. Quando o caroteno e a clorofila estão presentes numa mesma folha, juntos eles absorvem as cores vermelha, azul-verde e azul da luz solar. A luz refletida aparece verde. A energia da luz absorvida pelo caroteno é transferida à clorofila, que a usa na fotossíntese. O caroteno é um composto muito mais estável que a clorofila. Ele persiste nas folhas mesmo após o desaparecimento da clorofila. Quando esta desaparece, o caroteno remanescente confere à folha uma cor amarela.

Um terceiro pigmento, ou classe de pigmentos, que ocorre nas folhas, são as antocianinas. Elas absorvem a luz azul, azul-verde e verde. Desta maneira, a luz refletida pelas folhas que contêm antocianinas aparece vermelha. Contrariamente à clorofila e ao caroteno, as antocianinas não são fixas às membranas das células, mas dissolvidas no citoplasma. A cor produzida por estes pigmentos é sensível ao pH do citoplasma da célula. Se este é muito ácido, a cor se torna mais purpúrea. Estes pigmentos são responsáveis pela cor vermelha das maçãs maduras e pela cor purpúrea das uvas maduras. Eles são formados pela reação entre os açúcares e certas proteínas dentro do citoplasma. Esta reação ocorre somente quando a concentração de açúcar no citoplasma é muito grande e requer, também, a presença de luz. É por isto que, frequentemente, vemos maçãs vermelhas de um lado e verdes do outro; o lado vermelho é o que estaria voltado para o sol e o lado verde é o que estaria na sombra.

Durante o verão, as folhas das árvores são fábricas que produzem açúcar a partir do dióxido de carbono e da água, pela ação da luz na clorofila. Esta, por sua vez, faz com que as folhas tomem a cor verde (as folhas de algumas árvores, tais como os vidoeiros e os choupos-do-canadá, também contêm caroteno; suas folhas são de cor verde mais brilhante porque o caroteno absorve a luz azul-verde). A água e os nutrientes fluem das raízes até os ramos e as folhas. Os açúcares produzidos pela fotossíntese fluem das folhas para outras partes da árvore, parte da energia sendo utilizada para o crescimento e outra parte armazenada.

O encurtamento dos dias e as noites frias do outono, desencadeiam mudanças na árvore. Uma dessas mudanças é o crescimento de uma camada semelhante à cortiça entre um ramo e o caule da folha. Esta camada interfere na circulação de nutrientes para dentro da folha. Estando o fluxo de nutrientes bloqueado, a  produção de clorofila diminui e a cor verde desbota. Se a folha contém caroteno, como acontece com o vidoeiro e com a nogueira americana, sua cor muda de verde para amarelo brilhante, à medida que a clorofila desaparece. A camada semelhante a cortiça também impede a saída de açúcar da folha. Em algumas árvores, à medida que a concentração de açúcar aumenta na folha, uma reação ocorre para formar as antocianinas. Estes pigmentos tornam vermelhas as folhas amarelecidas. Os áceres, os carvalhos e alguns sumagres produzem antocianinas em abundância e são os que apresentam as folhas mais vermelhas e brilhantes na paisagem outonal. Em outras árvores, como a faia, quando os carotenoides amarelos são destruídos, sua cor é substituída pelo marrom, que resulta da oxidação dos taninos da folha.

A variedade e a intensidade das cores do outono são grandemente influenciadas pelo clima. Baixas temperaturas destroem a clorofila. Se a temperatura permanece acima do ponto de congelação, ocorre a formação das antocianinas. O sol brilhante também destrói a clorofila e aumenta a produção de antocianina. Um clima seco, pelo fato de aumentar a concentração de açúcar no citoplasma, aumenta também a formação de antocianina. Assim, as cores mais brilhantes do outono são produzidas quando dias secos e ensolarados são seguidos por noites frias e secas.

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Referências:

http://www.scifun.org/CHEMWEEK/AutumnColors2017.pdf

http://mcvieira.tripod.com/cores.htm

Chimie des couleurs

 

English (Prof Shakhashiri)

Português

Ceci est la traduction de l’ancienne page du prof Shakhashiri. Je vous invite à visiter la nouvelle page, pour voir des belles images de l’automne. La nouvelle adresse web est : 

http://www.scifun.org/CHEMWEEK/AutumnColors2017.pdf

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En automne, dans l'hémisphère nord, les jours raccourcissent et la température se refroidit. Ces changements incitent les arbres à se préparer pour passer l'hiver: ils perdent des milliards de tonnes de feuilles. Dans certaines régions, comme dans les nôtres, une féerie de couleurs précède la chute des feuilles. Les feuilles autrefois vertes, selon l'espèce, peuvent se transformer en nuances brillantes de jaune, orange et rouge, ainsi que de brun.  Ces changements de couleurs sont dus à la transformation des pigments présents dans les feuilles.

Le pigment vert des feuilles, c'est la chlorophylle. Elle absorbe la lumière rouge et bleue du soleil qui atteint les feuilles. La lumière réfléchie, moins rouge et moins bleue, apparaît verte. La chlorophylle comprend en fait deux pigments, la chlorophylle a et la chlorophylle b. Les molécules de ces composés sont grandes: C55H72MgN4O5 pour la chlorophylle a et C55H70MgN4O6 pour la chlorophylle b. Ces molécules sont insolubles dans la solution aqueuse qui remplit les cellules végétales. Elles sont fixées aux membranes des chloroplastes qui apparaissent comme de petits disques: c'est là que se produit la photosynthèse. L'énergie de la lumière se transforme en énergie chimique. Les plantes alors produisent de l'oxygène et des hydrates de carbone avec du dioxyde de carbone et l'eau. Voici la formule de Cx(H2O) x.  

Lors de cette transformation endothermique, l'énergie de la lumière absorbée par la chlorophylle se change en énergie chimique emmagasinée dans les hydrates de carbone (sucres et amidons). Cette énergie chimique contrôle les réactions biochimiques qui permettent aux plantes de croître, de fleurir et de produire des graines.

La chlorophylle n'est pas un composé très stable: la lumière brillante du soleil la décompose. Pour conserver de la chlorophylle dans leurs feuilles, les plantes en synthétisent continuellement, sous l'effet du soleil et des températures chaudes. C'est ainsi que durant l'été la chlorophylle est décomposée et régénérée continuellement dans les feuilles des arbres.

Les feuilles de plusieurs plantes contiennent un autre pigment, le carotène. Il absorbe la lumière bleu-vert et la lumière bleue. La lumière réfléchie apparaît jaune. Le carotène est aussi une grosse molécule (C40H36) contenue dans les chloroplastes de plusieurs plantes. Quand le carotène et la chlorophylle sont présents dans la même feuille, elles absorbent la lumière rouge, bleu-vert et bleue: la lumière réfléchie apparaît verte. La lumière absorbée par le carotène est transférée à la chlorophylle. Étant un composé plus stable, le carotène demeure dans les feuilles même après la destruction de la chlorophylle. Les feuilles apparaissent alors jaunes.

Un troisième pigment, ou classe de pigments, les anthocyanines, se rencontrent dans les feuilles. Les anthocyanines absorbent la lumière bleue, bleu-vert et verte. La lumière réfléchie apparaît alors rouge. Contrairement à la chlorophylle et au carotène, les anthocyanines ne sont pas fixées aux membranes des cellules et sont dissoutes dans la sève cellulaire. La couleur produite par ces pigments est sensible au pH de la sève cellulaire. Si la sève est entièrement acide, les pigments produisent une brillante couleur rouge. Si la sève est moins acide, la couleur est alors pourpre. La pelure rouge des pommes mûres et le pourpre des grappes de raisin sont dus aux anthocyanines. Dans la sève cellulaire, elles sont le produit d'une réaction entre les sucres et certaines protéines. Pour que cette réaction se produise, il faut de la lumière et une sève fortement concentrée en sucre. C'est pourquoi les pommes apparaissent rouges d'un côté et vertes de l'autre.

Durant l'été, grâce à l'action de la lumière sur la chlorophylle, les feuilles des arbres sont des usines qui produisent du sucre à partir du dioxyde de carbone et de l'eau. La chlorophylle fait apparaître les feuilles vertes (les feuilles de certains arbres, comme les Bouleaux et les Peupliers, contiennent aussi du carotène. Le vert apparaît plus brillant alors, le carotène absorbant la lumière bleu-vert). À partir des racines, l'eau et les éléments nutritifs circulent dans les branches et dans les feuilles. Les sucres produits par la photosynthèse circulent, à partir des feuilles, vers les autres parties de l'arbre. L'arbre utilise une partie de l'énergie chimique pour croître et emmagasine le restant. 

En automne, le raccourcissement des jours et les nuits fraîches déclenchent des changements dans l'arbre. Une couche de liège se forme entre la branche et la tige de la feuille. La circulation des éléments nutritifs étant alors bloquée, la production de la chlorophylle diminue et la couleur verte des feuilles s'estompe. Si les feuilles contiennent du carotène, comme celles du Bouleau et du Noyer, elles passeront du vert au jaune brillant au moment de la disparition de leur chlorophylle. La couche de liège entre la branche et la feuille empêche aussi la circulation du sucre à partir de la feuille. Chez certains arbres, au moment où la concentration en sucre augmente, le sucre réagit pour former des anthocyanines. Grâce à ces pigments, les feuilles alors jaunes deviennent rouges. Les Érables rouges ou Plaines rouges, le Chêne rouge et le Sumac vinaigrier produisent des anthocyanines en abondance et affichent les rouges et les pourpres les plus brillants dans le paysage automnal. Chez d'autres arbres, comme le hêtre, lorsque les caroténoïdes jaunes sont détruits, leur couleur est remplacée par le brun qui résulte de l'oxydation des tanins de la feuille.

La variété et l'intensité des couleurs automnales sont grandement influencées par la température. Les basses températures détruisent la chlorophylle. Si elles demeurent au-dessus du point de congélation, elles favorisent la formation des anthocyanines. Le soleil brillant détruit aussi la chlorophylle tout en augmentant la production des anthocyanines. Un temps sec, en augmentant la concentration de sucre dans la sève, donne le même résultat. Ainsi, les couleurs automnales les plus flamboyantes se manifestent quand des jours ensoleillés et secs sont suivis de nuits fraîches et sèches.

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Référence :

http://www.scifun.org/CHEMWEEK/AutumnColors2017.pdf

http://mcvieira.tripod.com/couleurs.htm

terça-feira, outubro 20, 2020

Respiratory droplets

 

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A directive established in this pandemic could remain: the social distancing of at least 2 meters. People are used to always being close. If we are looking for a product on a supermarket shelf, the aisle may be empty and soon someone will come and look at the same shelf. Like that, several similar cases happen... or happened, before Covid.

I liked the joke about the Swedes [1]: « Il y a une blague qu’on fait souvent [en Suède], c’est que les Suédois ont hâte que la règle de distanciation de deux mètres soit relevée pour qu’ils puissent retrouver leurs cinq mètres d’avant. Ce n’est pas un peuple qui est super chaleureux, comme nous on peut l’être au Québec »… in free translation (with the inevitable distancing): “Swedes are looking forward to ending the two meter rule, so that they can resume the five meters distancing they were used to keep before. They are not super warm people like we can be in Quebec”.

I don't agree with that. To be warm, we don't have to be clingy! And Quebecers are not clingy.

From early childhood, we learned what respiratory droplets [2] (perdigotos in Portuguese) were. Our Aunt Conceição used to cover her cup with her hand as we approached. Of course, we asked our parents the reason for this gesture. The ruthless curiosity of the children is infallible and the explanation was: "It is because of the respiratory droplets". With good didactics, this was proved conclusively, against the light to see the droplets coming out of the mouths of people who were speaking. Some people don't even need a backlight to give us proof of the phenomenon. I think it internalized in my mind, I still maintain some social distancing, very handy today, with the pandemic. I understand the Swedes. Did they have Conceição aunts?

Vive my aunt Conceição !

I also don't do without a napkin on my mug, in case there is a coffee-loving bug, even if there isn’t any flying around the house. This also applies to respiratory droplets 😆. This habit comes from my mother, when our house was still almost in the countryside, so to speak, and windows and doors had no screens. My mother kept all the pans covered, and when a person stepped away from his/her plate, she waved her hand like a fan over the plate, or asked the one sit just beside the absent person to do so.

Another recommendation that I remembered and started to follow, in these times of pandemic, whenever possible, was what my father's cousin jokingly said that my father avoided touching the places where everyone touches, in the hospitals where he worked. To push open a door like those opening without a handle, like swing or sliding doors, he said my father would touch them at the top. But the really good thing is washing our hands, ALWAYS! My mom and dad were unbeatable in this regard, they would put any WHO recommendation in the shade, and their surveillance was more than “googlean”.😉

I take this opportunity to repeat: don't forget the MASK!😷

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Related links:

 

[1] Au pays où le masque est en option

[2] Image URL