sábado, setembro 20, 2014

Abaixo o sutiã!

Version en français

Não, este não é um apelo feminista, tampouco ligado a obscenidades. Não, este é um alerta para a saúde da mulher. Provavelmente, vocês já devem ter ouvido falar sobre estudos feitos com indígenas que vivem nas reservas da Floresta Amazônica, a respeito da ausência de câncer de mama nestas populações. Foram realizados vários estudos para tentar identificar por que elas não desenvolvem o câncer de mama. Foram encontradas pequenas diferenças na atividade genética mitocondrial, que foram atribuídas ao tipo de alimentação; foram detectados, também, níveis hormonais diferentes, provavelmente explicados pelas gestações mais precoces e mais numerosas e pelo aleitamento mais prolongado – estes fatores as protegeriam do câncer de mama.
Mas há um fator que foi ignorado nos estudos, penso eu. As índias da Amazônia nunca usam sutiã, elas estão sempre nuas. Há especialistas que afirmam ser o sutiã  uma peça inofensiva. Mas, uma vez constatada a ausência de câncer de mama nessas populações, eu não ousaria excluir esse fator no desenvolvimento dessa doença. Obviamente, há vários outros fatores envolvidos, mas não se pode excluir este. Trata-se de uma diferença gritante que teria que ser levada em conta.
Certamente que o fato de usar sutiã durante toda a vida deve provocar algum tipo de agressão aos tecidos. E sabemos que uma agressão a uma célula pode provocar uma mutação que desencadeia o câncer... Compressão + imobilização pelo sutiã = dificuldade na circulação sanguínea e linfática, assim como diminuição da drenagem de produtos tóxicos do metabolismo celular => sofrimento do tecido.
Não existem estudos provando que o sutiã pode ser um fator causal a mais para o câncer de mama, mas tampouco existem estudos que provam o contrário.
 Não estou falando como uma especialista, falo como irmã de alguém que morreu por causa do câncer de mama. Digo a vocês que estou tentando colocar todas as chances do meu lado. Não uso mais sutiã, pronto.


Reencarnação pela tecnologia


Trouville, France - 1998
Version en français
          Fico maravilhada, quando vejo como a tecnologia tornou-se tão corriqueira, disponível para todos nos dias de hoje, com tantos “dispositivos móveis” que tornam possível a comunicação quase que instantaneamente, entre lugares tão distantes.
Em 1996 – na minha idade, isso não faz muito tempo – já tinha eu 16 anos de oncologia no meu currículo, imersa no estudo da quimioterapia, em um mundo de moléculas que se desafiam entre a vida e a morte, este ambiente de medos e sonhos, ações e interações, efeitos desejados e outros menos tolerados... Foi nesse rude contexto que uma nova química veio me apanhar, a química do amor.

Eu queria me modernizar, ter as últimas atualizações dos tratamentos oncológicos, antes mesmo que eles fossem anunciados nos próximos congressos de oncologia. Talvez eu nem precisasse mais viajar para participar de conferências, para troca de informações. Eu poderia ter tudo a partir de meu escritório em casa!
Com essa idéia em mente, encomendei meu primeiro computador. No dia previsto, enormes caixas chegaram, cheias de avisos e alertas, eram como repositórios repletos de desafios a enfrentar. Sentia-me como uma criança que abre um presente de Natal. Segui rigorosamente as instruções – até mesmo de como abrir as caixas da maneira correta. O tesouro se revelava em pedaços a decifrar, a montar, a conectar.
Eu me lembro que tinha feito tantas perguntas sobre a “máquina” a um amigo, que ele me dera de presente um livro chamado “Windows passo a passo”. Sim, era um “PC” que eu tinha adquirido, um “personal computer” que me guiou, passo a passo, à felicidade.
A etapa seguinte foi a Internet. O kit necessário para me conectar, instalada ao mundo... Pronto, a coisa funcionava! Eu podia fazer minhas pesquisas de protocolos de tratamento ao redor do planeta!
Além disso, como bônus, eu tinha um programa de bate-papo, o melhor de todos os tempos – estou sendo nostálgica, talvez – e comecei a usá-lo para praticar as línguas estrangeiras que estudava, nas horas vagas. Dizem que nada acontece por acaso. Que coincidência, encontrei um quebequense bilingue. Quando diz-se “bilingue” no Canadá, subentende-se que a pessoa fala inglês e francês – justamente duas das línguas que eu estudava. Nós começamos nossa amizade nos instruindo. Trocamos informações sobre nossos países, endereços na internet e fotos.
Foi fascinante, apesar da baixa velocidade das conexões, em comparação aos dias de hoje. Precisávamos praticar a paciência, e o fizemos com grande prazer e encantamento, diante de tal maravilha do progresso. Acompanhamos a evolução desta tecnologia, ao mesmo tempo que nossa amizade também ia-se reconfigurando. Mas eu não sabia ainda que navegaria tão longe e que meu porto de chegada seria ao norte.
Nós nos apaixonamos um pelo outro e eu acabei me mudando para o Quebec em 1999. Minha vida, meu ambiente mudou completamente. Eu diria que é como se fosse uma reencarnação – não posso mais dizer que não acredito nisso. Tive a chance de viver uma segunda vida. Ciência, tecnologia e amor – uma bela história que perdura... Feliz.

Muitas mudanças ainda estão por vir para o ser humano, certamente. Não presenciarei, mas penso que a tecnologia ainda será capaz, um dia, de nos desmaterializar no lugar onde estamos e nos rematerializar a distância – como no seriado Star Trek – a verdadeira reencarnação pela tecnologia.
Ah! Quem dera poder ir à minha terra amada dessa maneira, ver aquele Belo Horizonte, que a viagem para lá chegar fosse num piscar de olhos... 

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Link relacionado:
Internet antigamente


sexta-feira, setembro 19, 2014

Réincarnation par la technologie

(écrit le 10 novembre 2012)
Versão em português

 Trouville, France - 1998

Je m'étonne quand je vois comment la technologie est devenue si banale de nos jours, à portée de tous, avec autant de «dispositifs mobiles» qui permettent d’établir la communication presque instantanément, entre des lieux si éloignés.
En 1996 – à mon âge, ça ne fait pas si longtemps – j’avais déjà 16 ans d’oncologie dans mon curriculum, plongée dans l’étude de la chimiothérapie, dans le monde des molécules qui se disputent l’enjeu de vie et de mort, cet environnement de craintes et de rêves, d’actions et d’interactions, d’effets souhaités et d’autres moins désirés… C’est dans ce rude contexte qu’une nouvelle chimie est venue m’attraper, celle de l’amour.

Je voulais me moderniser, avoir les dernières mises à jour à propos des traitements oncologiques, avant même qu’ils ne soient annoncés aux prochains congrès d’oncologie. Peut-être, je n’aurais même plus besoin de voyager pour participer à des conférences, pour échanger d’information. Je pourrais tout avoir à partir de mon bureau, chez moi!
C’est avec cette idée en tête que j’ai commandé mon premier ordinateur. Le jour prévu, de grosses boîtes sont arrivées, pleines d’avertissements affichés, pleines de défis à relever. Je me sentais comme un enfant qui ouvre un cadeau de Noël. J’ai suivi rigoureusement les instructions – et il y en avait même pour la bonne façon d’ouvrir les boîtes. Le trésor se dévoilait en morceaux à déchiffrer, à assembler, à connecter.
Je me souviens que j’avais posé tant des questions à propos de la machine à un ami, qu’il m’avait donné un livre appelé « Windows pas à pas ». Oui, c’était un « PC » que j’avais acheté, un « personal computer » qui m’a guidé, pas à pas, vers le bonheur.
L’étape suivante était l’internet. La trousse nécessaire pour me connecter, installée au monde... Voilà, cela marchait! Je pouvais faire mes recherches des protocoles de traitement partout au monde!
Eh bien, en bonus, j’avais un logiciel de clavardage, le meilleur de tous les temps – je suis peut-être nostalgique – et j’ai commencé à l’utiliser pour pratiquer les langues que j’étudiais, comme loisir. On dit que rien n’arrive pour rien. Quelle coïncidence, j’ai rencontré un Québécois bilingue. Quand on dit « bilingue » au Canada, c’est sous-entendu que la personne parle anglais et français – justement deux des langues que j’étudiais. Nous avons commencé notre amitié par des échanges culturels. Nous échangions des informations à propos de chacun de nos pays, des adresses internet, des photos.
C’était fascinant, malgré la basse vitesse des connexions, en comparaison à aujourd’hui. Il fallait pratiquer la patience, ce que nous faisions avec grand plaisir et enchantement devant une telle merveille du progrès. Nous avons suivi l’évolution de cette technologie en même temps que notre relation, elle aussi changeait. Mais je ne savais pas encore que je naviguerais si loin et que mon port d’arrivée serait au nord.
Nous sommes devenus des amoureux et j’ai fini par déménager au Québec en 1999. Ma vie et mon environnement ont changé complètement. Je dirais que c’est comme une réincarnation – je ne peux plus dire que je n’y crois pas. J’ai eu la chance de vivre une deuxième vie. Science, technologie et amour : c’est une belle histoire qui perdure. C’est le bonheur.
Beaucoup de changements sont encore à venir pour l’être humain, c’est certain. Je ne serai pas témoin, mais je pense que la technologie sera un jour en mesure de nous dématérialiser à l'endroit où nous sommes et nous ré-matérialiser à distance – comme dans la série Star Trek – la vraie réincarnation par la technologie.
Ah! Si je pouvais aller à ma terre natale de cette façon, voir le "Belo Horizonte", et que le voyage pour y arriver ne durait que quelques secondes...