sexta-feira, setembro 30, 2016

Un petit café?

Versão em português


Une de mes premières gaffes, quand j’ai déménagé au Canada, a été à cause du café. La parenté de mon mari est venue nous visiter et, à un moment donné, j’ai décidé de leur offrir un café. Comme dirait ma mère : - Désirez-vous un petit café fraîchement fait? Et l’odeur de ce liquide magique remplissait la maison, personne ne résistait d’en prendre.
Quand j’étais petite, je prenais du café au lait, dans des tasses moyennes – la célèbre média, avec plus de lait que de café. Le lait était très, très chaud, parce que l’habitude était de le faire bouillir avant de le prendre, même s’il était pasteurisé. Et il était obligatoire d’avoir du pain avec du beurre, à n’importe quelle heure du jour ou de la nuit, littéralement.
Quelle joie, quelle sensation de confort, quand je me rappelle lorsqu’on était, parfois, au milieu du sommeil de la nuit, et ma mère nous servait cette délicieuse collation – peut-être qu’elle pensait que nous n’avions pas mangé assez pendant la journée, je ne sais pas – après le banquet, elle essuyait soigneusement nos lèvres beurrées; ce que je ne remarquais presque pas, de retour au sommeil heureux de l’enfance. Le café ne m'a jamais empêché de dormir. Mon système doit avoir développé une sorte de tolérance. Ou, peut-être, un réflexe conditionné: je remarque que quand je prends du café tard le soir, mes paupières deviennent lourdes et je m’endors agréablement.
On prenait du café noir aussi, et il n’y avait pas de limite d'âge pour le savourer, aussi fort qu’il pouvait être. Le café a été l'une des rares choses que j'ai appris à faire à la cuisine, depuis que j’étais petite. Il était fort, mon café, comme une teinture. Mais il devait être savoureux, car les visites disaient, en plaisantant: « Tu peux déjà te marier. » - un genre de plaisanterie, au Brésil, pour faire des compliments. Mais ce ne fut pas tout de suite, beaucoup d'eau a coulé à travers les filtres à café avant que je me marie... Ce qui me ramène au Canada et à ma gaffe.
Je suis allée faire du café et, pour calculer la quantité de poudre et d’eau à utiliser, j’ai demandé à toutes les personnes présentes si elles prendraient. J’ai posé la question, également, au seul enfant du groupe – pourquoi pas? – un garçon de 12 ans. Très vite, je me suis rendue compte que quelque chose clochait. Il a fait une grimace et a jeté un regard interrogateur, presque moqueur, à son père. Mon mari est venu rapidement à mon secours, en disant que les enfants ne buvaient pas de café au Canada et m’a demandé si c’était différent au Brésil. Avec les bonnes explications, j’ai échappé d’être considérée comme une délinquante à montrer le mauvais chemin aux jeunes.
Des statistiques intéressantes, que j’ai vues récemment, indiquent que le Brésil, en dépit d'être le plus grand producteur et exportateur de café au monde, ne figure pas parmi les pays ayant la plus forte consommation per capita, même pas parmi les 10 premiers consommateurs. Le Canada, par contre, est parmi les 10 pays ayant la plus forte consommation per capita de café. Pas étonnant! Bien qu'il y ait la fameuse limite d'âge, les Canadiens boivent du café pendant presque tout l'avant-midi, à des doses répétées de tasses de café pleines, avec quelques gouttes de lait ou de crème. Le café n’est pas fort concentré, mais le volume est impressionnant. Si le lieu de travail ne prévoit pas de café, ils amènent leur dose quotidienne dans des tasses thermiques.
Je me souviens de l'expression faciale de déception de mon mari, au Brésil, quand il a vu son café servi dans une toute petite tasse. Il a compris, tout de suite après, quand il a vu la couleur noire du liquide. Il dit que le café servi au Brésil est très épais – à couper au couteau – et que ça lui prend un bout de temps avant qu’il puisse cligner les yeux, après l’avoir bu. Mais, depuis ce temps-là, il est devenu un fan de "café fort". Actuellement, c’est lui qui fait le café chez nous. Il m’a largement dépassé, malgré toute mon expérience!

terça-feira, setembro 27, 2016

Alvíssaras!

Na foto, Sá Ana e Maria do Carmo
Version en français
A mãe e seus seis filhos tinham acabado de chegar a Montreal, o pai viria só no outro dia, por causa do trabalho. Era a primeira vez que as crianças visitavam a grande metrópole. Tomaram um ônibus para ir à casa de uns parentes. Não estava cheio, todos foram se assentando rapidamente, a mãe supervisionando tudo, antes de tomar o seu lugar. A pequena Isabelle, pouco mais de 3 anos de idade, ficou de pé, encostada na sua mãe, uma agarrada à outra.
Seria um longo trajeto a percorrer. Em todo caso, Isabelle poderia se sentar no colo da mãe. De relance, divisou um olhar dirigido a ela e percebeu que sobrava um lugar vago, ao lado de uma senhora negra e idosa, que, gentilmente, lhe mostrava o assento, sorrindo. Sua mãe deu-lhe, imediatamente, o consentimento para que ela fosse lá se acomodar. Sentindo um misto de vergonha, medo e respeito, a menina se viu obrigada a aceitar o convite, mas não pôde conter o choro, com o impacto da proximidade de alguém como ela jamais tinha visto. Assim, uma amiga canadense, aproximadamente da minha idade, me contou, com riqueza de detalhes, sobre a primeira vez em que viu uma pessoa negra, de perto.
Devo confessar que, ao ouvir essa história, fiquei profundamente comovida, com muita pena daquela senhora, tive que conter minhas lágrimas. Mas também fiquei com pena da menina. 
Fiquei pensando... provavelmente, da mesma maneira se sentiria uma criança negra africana, morando em alguma aldeia onde jamais tivesse ido um homem branco, ao ver um branquelo, de perto.
Isso é tão diferente do que aconteceu com os brasileiros! Pelo menos os da minha geração. Por favor, sintam o que estou querendo dizer... Primeiramente, vou-me situar na história: sou uma pessoa viva no ano de 2016 – idosa, vá lá, nos meus 61 anos de idade, mas nem tão velha assim – e meus avós nasceram antes da abolição da escravatura no Brasil; eles possuíam escravos. Convenhamos, a escravidão não é tão antiga. Quando era jovem, esse período da história me parecia muito longe no passado. Hoje, não tenho mais essa impressão.
Os tempos da minha infância eram outros, contudo, há já mais de meio século. Naquela época, justamente porque as consequências da escravidão estavam mais próximas ainda, era mais fácil ter empregadas domésticas, que eram negras, na maioria das vezes. Não se pagava muito, não havia nenhuma legislação sobre esse tipo de trabalho, e a função era muito concorrida. Não faltava mão-de-obra, elas batiam à porta pedindo emprego com muita frequência.
Claro, quanta gente foi liberada da escravidão sem que existisse nenhum programa social de suporte para essa enorme população deixada à deriva. Foram, naturalmente, aumentando em número, tendo seus filhos em condições precárias de vida, sem ter a mínima chance de ingressar nas escolas, pois tinham que começar a trabalhar cedo. A única opção era o trabalho doméstico para as mulheres e, para a maioria dos homens, o trabalho braçal, principalmente em construções e em minas, numerosas na nossa região.
Em Belo Horizonte, uma cidade “inventada”, as famílias, em geral, eram recentemente chegadas do interior, deslocadas para funções na nova capital mineira, ou atraídas pelo seu rápido crescimento urbano. Meus irmãos e eu éramos um dos raros casos, na nossa geração, em que os pais tinham nascido na cidade; meus avós foram pioneiros. Somos belo-horizontinos “da gema”.
Também as favelas estavam começando a crescer, naqueles idos dos anos 1950, e eram formadas por famílias igualmente vindas do interior, em busca do sonho de uma vida melhor na capital do estado; eram, na maioria, negros, que se instalavam nos morros, em terrenos não reclamados por ninguém e tacitamente cedidos pelas autoridades; ali, eles construíam seus barracões, formando as favelas.
Na casa paterna, apesar de não sermos ricos, tínhamos várias empregadas: cozinheira, faxineira, lavadeira/passadeira, babás... Pensando nisso agora, parecia um local público, com gente transitando para todo lado, constantemente. Quem eram essas pessoas que trabalhavam na nossa casa? Com exceção de duas ou três jovens de famílias conhecidas, vindas diretamente do interior do estado, em certo período, passaram por nossa vida, em diferentes fases, várias senhoras e senhoritas que moravam na favela próxima, o “Morro do Pau Comeu”.
Já, já o leitor verá aonde vou chegar...
A escravidão foi uma tragédia que aconteceu no Brasil, que, jamais, em tempo algum, pode ser justificada pelos ganhos econômicos que o país teve com o trabalho dos milhões de negros arrancados da África. Da escravidão sofremos sequelas até hoje, pagamos e pagaremos caro por isso, não se sabe até quando. Mas de tudo, até da desgraça, podemos enxergar um lado bom. Só percebi este outro lado da moeda depois que vim morar no Canadá. Apesar do pesadelo que povoa o berço esplêndido dos brasileiros atualmente, com problemas de toda ordem, tenho um pensamento bom para nós, enquanto povo... Alvíssaras!
Mesmo para quem não aceita que, por mais brancos que sejamos, somos miscigenados com os negros, desde os portugueses que temos em nossa ancestralidade – testes de DNA feitos no Brasil et ailleurs provam – nós temos motivos de sobra para nos identificarmos com os negros, até muito mais do que pela genética. Tivemos contato com nossas, digamos assim, segundas mães, negras, desde que nascemos. Fossem babás, cozinheiras, lavadeiras ou passadeiras, elas fizeram parte do primeiro lote de seres humanos que conhecemos e com quem partilhamos nossos primeiros afetos.
Em países como o Canadá, até hoje, a maioria da população tipicamente do país só chega a ver algum negro, de passagem, em uma cidade grande, ou pela televisão. Muitos do interior do país, que nunca saíram fora de sua região, nunca sequer passaram perto de um. É até difícil, diria impossível, conseguirmos nos colocar no lugar deles, termos empatia, para saber o que sentem.  
Creio que na Europa deve ter-se passado coisa semelhante, anos atrás. Certa vez, ouvi o relato de um espanhol, de uma geração mais velha que a minha, que dizia ter visto pessoas negras só em enciclopédias e revistas, antes de se mudar para o Brasil. Penso que só nos últimos tempos é que houve uma migração maciça de africanos para os países que os colonizaram. Talvez isso explique a recente (mas anterior à "crise migratória") onda planetária de combate ao racismo, exatamente porque ainda é recente esse sentimento de estranheza entre pessoas que têm aparência diferente, nesses países... não nos que foram colonizados, claro.
No Brasil, estamos infinitamente mais avançados nessa maratona contra o racismo. Temos que assumir, que estar cientes disso e parar de importar maus exemplos de outros países, onde sequer imaginamos como se passa o relacionamento entre as várias etnias e suas trajetórias. Diga-se de passagem, o Canadá não se enquadra nos maus exemplos, pelo contrário, o povo é naturalmente receptivo, aberto a tudo e a todos.
Quanto a nós, brasileiros, conhecemos a nossa história, sabemos que prevalece um sentimento positivo em nossas ligações afetivas e culturais com todos os povos que nos formaram, apesar do conflito que existe no confronto com as desigualdades socioeconômicas. Não precisamos nos menosprezar e querer copiar modelos inadequados de outras terras. Se é para copiar, vamos copiar o que há de bom. Temos que nos esforçar para pôr ordem em nossos bons sentimentos e valorizá-los, para superar nossas fraquezas.
Entre nossas fraquezas, menciono a dependência de ter alguém para fazer os trabalhos domésticos. Isso não é bom nem para os patrões, nem para os empregados. Valeu como transição para que ambos se adaptassem à nova situação de liberdade, mas é preciso evoluir, a transição não pode durar eternamente. Precisamos largar esse ranço dos tempos da escravidão. Por esse lado, os países que não tiveram povos escravizados nos dão um bom exemplo a copiar. Ninguém depende de terceirizar o cuidado da sua própria casa.
Uma das coisas de que mais gostei, aqui no Canadá, foi de não ter empregada doméstica, uma situação que sempre me incomodou no Brasil. Mas aqui, claro, existe infra-estrutura para viver sem estas “dependências”. Há maior divisão dos trabalhos em família, todos se envolvem, é um trabalho de equipe, em casas bem equipadas de eletrodomésticos. Para os casos em que ambos, mãe e pai, trabalham fora, existem creches em profusão para cuidar das crianças pequenas, enquanto os pais se ausentam (as grandes permanecem na escola o dia inteiro); no caso de idosos com perda de autonomia, também existem numerosas casas com cuidadores profissionais.
Vamos nos emancipar, viver nossas próprias vidas e deixar os outros viverem as deles. “É pra frente que se anda.” Para isso, não se deve tardar em colocar mãos à obra para melhorar as condições de vida dos pobres do Brasil, para que eles possam alçar voo com suas próprias asas.
Em homenagem às minhas queridas que tanto ajudaram minha mãe na labuta diária, vou dar uma ideia aos brasileiros: que se abram muitas creches e muitos asilos decentes e se dê formação às empregadas domésticas para trabalharem nesses locais, num primeiro tempo, para que deixem de ser empregadas domésticas, sem ficarem desempregadas. O nível de satisfação será, certamente, muito maior, em todos os sentidos, para todos.
Com um detalhe inovador: os asilos poderiam funcionar como as creches, os idosos permanecendo lá só enquanto seus cuidadores naturais (filhos, por exemplo) se ausentam de casa, para trabalhar.
E o trabalho em casa? Façam como aqui no Canadá: dividam tarefas e horários entre os membros da família, pais e filhos. Allez, hop!

terça-feira, setembro 20, 2016

Afogamento



Version en français
English version

A resposta instintiva ao afogamento é silenciosa e limitada a movimentos sutis” Dr. Francesco A. Pia

Ficamos todos consternados com a morte do ator brasileiro, no Rio São Francisco. Eu mesma, que já estou há tantos anos morando fora do Brasil e nunca tinha ouvido falar dele, fiquei muito triste e também preocupada com o estado psicológico da atriz que o acompanhava no momento do afogamento; não deve ser fácil presenciar um acontecimento como esse, sem poder ajudar.
O depoimento que ela deu pela televisão me remeteu a um episódio que aconteceu comigo, eu me lembrei da reação que tive, quando quase me afoguei. Houve comentários achando estranho o que ela disse, por exemplo, que o ator parecia paralisado; alguns até pensaram em desígnios sobrenaturais. Isso porque muitos imaginam que as pessoas gritam e se debatem quando estão-se afogando. Pode até ser que haja esse tipo de comportamento, mas parece que a reação clássica é mesmo muito "discreta", aos olhos dos outros. Para quem não foi treinado para identificar determinados sinais, o quadro pode não ser muito evidente.
Têm surgido algumas publicações na web, tentando entender o que pode ter acontecido, explicando como reagem as vítimas de afogamento. Também eu quero contribuir para esses esclarecimentos, principalmente com o intuito de apaziguar possíveis inquietudes, mas também para alertar os desavisados, com o relato do meu próprio comportamento.
Quando aconteceu comigo, creio que tive o que chamam de “resposta instintiva ao afogamento”, que é uma “reação silenciosa e limitada a movimentos sutis”. O fato ocorreu durante um curso de natação. Eu estava sozinha numa piscina para principiantes e o instrutor, vendo que eu ia bem nos primeiros movimentos, me deixava ir praticando e ia para outras piscinas dar instruções a outros. Num dado momento, fiz um movimento mais brusco e meu corpo virou, e eu não sabia ainda como me desvirar, eu ainda não sabia lidar com meus gestos no meio aquático. Não gritei, nem me agitei, a prioridade era respirar; e o pouquíssimo tempo em que conseguia manter a cabeça acima da água, nem dava para completar um ciclo de respiração, muito menos falar alguma coisa. Acho que fiquei tão surpresa com aquilo, que fiquei tentando raciocinar e manter minha cabeça fora da água, mas não conseguia, ela voltava a submergir. Não sei quanto tempo durou.
A sorte foi que, nessa hora, o instrutor devia estar passando por perto e me viu afogando, porque comecei a ouvir sua voz a conversar comigo, me dando instruções de como sair daquela situação... Minha atenção se voltou para a audição, para a voz dele. Tentava fazer os movimentos que ele recomendava, mas fracassava e meu corpo voltava a fazer as mesmas tentativas infrutíferas de antes.
O estranho é que, ouvindo aquela voz, fui tomada por uma calma tão lerda – na certeza de que ele me salvaria – que, se ele não tivesse decidido me puxar para fora da água, acho que eu teria morrido calma e tranquila. Apesar de estar consciente, estava-me sentindo completamente incapaz de me livrar daquela situação, e passei a ter certeza de que ele, sendo um professor de natação, veria o que estava acontecendo e seria hábil o suficiente para me salvar. Este pensamento me acalmou. Ainda bem que ele viu mesmo. Isso não deve ter durado mais do que alguns segundos, mas parecia uma eternidade.
Quando fui colocada a salvo, foi difícil conseguir voltar a respirar. Só conseguia expirar, num tipo de tosse explosiva, repetidas vezes, sem intervalo para inspiração, e só saía água em forma de múltiplos, pequenos esguichos. Isso me causou muita aflição.
Provavelmente, quando ele me retirou da água, eu estava na fase de fechamento da laringe, uma reação fisiológica de defesa que ocorre antes da inundação dos pulmões. Que sensação de alívio quando eu consegui, finalmente, inspirar um pouco de ar!
Foi aí que percebi que todos os olhares de quem estava na academia estavam apreensivamente voltados para mim... Passado o susto, veio a vergonha de ter quase me afogado numa piscina sem muita profundidade.
Podem rir, mas, por favor, leiam o artigo no link abaixo, pois é muito importante saber isso. O texto é muito esclarecedor:

segunda-feira, setembro 19, 2016

Réfugiés dans la mémoire

Jean Saint-Germain




« Les temps sont durs. La politique, les arts, le journalisme, l'université. Ça me gêne de chercher l’abri dans le passé. La douleur de vivre dans la nostalgie. » José Eduardo de Lima Pereira

Cette semaine, un écrivain et poète brésilien (il a plusieurs titres, j’ai choisi son talent d’écrire pour l’identifier), a laissé échapper une petite explosion de sentiments, sur les réseaux sociaux, que j’ai mise en épigraphe.
Je ne sais pas si cela nous arrive parce que nous devenons plus âgés, car nous ne nous identifions plus avec les changements de mentalité, au cours des années. C’est indéniable qu’il y a eu un développement remarquable dans le domaine de la technologie, par exemple. Mais aurait-il été suivi par un progrès aussi mémorable dans les autres domaines?
Il me semble avoir déjà entendu des reproches similaires, autrefois, de la part des générations précédentes. Mais c’est vrai, également, que nous ne voyons plus des personnes qui cultivent les mêmes valeurs comme dans les vieux temps. Autrement dit, la proportion de ces gens par rapport à la population générale ne semble plus être la même.
En fait, le monde n’est plus celui que nous avons connu depuis notre jeunesse. La face de la Terre est toute autre, effectivement, pour nous qui sommes déjà dans la deuxième moitié de notre propre siècle de vie. Nous ne voyons plus toutes les faces qui nous étaient familières, plusieurs de nos chers sont déjà partis.
Particulièrement la semaine passée, j’ai eu un sentiment semblable de désarroi en face du monde actuel. Une des personnalités remarquables de la société québécoise est décédée. C’était un homme bon, simple, dont la richesse était dans sa tête. Il était un inventeur, une vraie machine à idées. Il vivait de ça, il a élevé sa nombreuse famille avec la rémunération que ses inventions lui procuraient, mais sans jamais en tirer profit. Il était toujours en train de penser à quelque chose qui pourrait aider à mieux vivre, par l’utilité ou pour l’amusement. Comme ses enfants disent, il n’a jamais fait fortune, « il était un artiste, pas un homme d’affaire du tout. Mais il a vécu heureux, plus qu’un multimillionnaire.»[1]
Oui, je parle de Jean Saint-Germain. Je ne l’ai pas connu personnellement, mais j’ai vu des photos, et j’ai tellement entendu parler de lui et des histoires de ses inventions, que je l’imaginais comme un personnage de conte de fées. Avec sa longue barbe, ses cheveux sous l’effet du vent… le vent de ses idées géniales, probablement, car ça soufflait en t… intensément, disons. Son regard vers le haut, il voyait ses rêves tournés en réalité. Effectivement, il était une personne spéciale.
La semaine passée, on a perdu un morceau important, ce qui nous donne de la nostalgie. C’est comme si j’entendais le conteur Fred Pellerin, dans son monologue à propos du Québec… « C’était une fois, c’était un temps de mythes… les chemins étaient pas long, ils s’ouvraient sur du vaste… y’avait des poètes au pouvoir, y’avait des possibles à pleine clôture… »
Traversons-nous une période difficile sur la planète entière? Ou c’est moi? Il me semble qu’il n’y a plus d’enchantement à construire l’avenir, à planifier avec joie. Les règlements qui s’imposent pour les bons rapports entre nous, les humains, et entre nous et notre entourage sont plus raisonnables que jamais auparavant, mais les gens se battent pour les suivre, avec un esprit de guerre, les uns contre les autres. C’est contradictoire.
Je réussis à trouver que ce n’est pas désagréable de me réfugier dans la mémoire.