Primeiramente, agradeço aos amigos do Facebook que
colaboraram com a minha enquete a respeito dos costumes de tomar café. Foi uma
conversa tão deliciosa, como se estivéssemos juntos, tomando um. Para mim, café
não tem hora nem idade. E vi, pelos resultados da minha pesquisa, que é assim
também para muita gente.
Uma das primeiras gafes que
cometi, quando me mudei para o Canadá foi por causa do café. Uns primos do meu
marido vieram nos visitar e, conversa vai, conversa vem, decidi oferecer um
cafezinho às visitas. Como diria minha mãe: - Aceita um cafezinho da hora? E a
casa ficava toda envolvida por aquele cheirinho mágico, não havia quem
resistisse.
Quando criança, tomava café
com leite, naquelas xícaras de tamanho médio – a famosa “média”, com mais leite
que café. O leite pelando de quente, pois o costume era ferver antes de tomar,
mesmo que fosse pasteurizado. E não podia faltar o pão com manteiga. A qualquer
hora do dia ou da noite, literalmente.
Que delícia, que sentimento
de aconchego, lembrar quando minha mãe nos servia, às vezes, no meio do sono da
noite – talvez por achar que não nos tínhamos alimentado suficientemente
durante o dia, não sei – os lábios ficavam lambuzados de manteiga, misturada
com o café com leite, e ela os limpava cuidadosamente, após o banquete; o que
eu nem percebia muito, já retomando o sono feliz da infância. O café nunca me
atrapalhou de dormir. O organismo deve ter desenvolvido algum tipo de
tolerância. Ou, quem sabe, um certo reflexo condicionado: já reparei que, se tomo
café tarde da noite, sinto um sono pesado e gostoso, as pálpebras criam vontade
própria para se fecharem.
Tomávamos café puro também,
e não me lembro de nenhum limite de idade para saboreá-lo, por mais forte que fosse.
Foi uma das poucas coisas que aprendi a fazer na cozinha, desde bem pequena. O
meu café era carregado, como uma tinta. Mas devia ser gostoso, as visitas
sempre diziam brincando: “Já pode casar”. Mas não foi “pra já”, muita água passou pelos coadores e pelos filtros de café antes que eu me casasse... O que me
traz de volta ao Canadá e à minha gafe.
Lá fui eu preparar o café e,
para calcular a quantidade de pó que deveria usar, perguntei a cada um dos
presentes se iria tomar. Fiz a pergunta também à única criança do grupo – por
que não? – um menino de 12 anos. Logo, logo, percebi que havia algo de errado.
Ele fez uma carinha de “vergonha alheia” e lançou um olhar de indagação, quase
de deboche, ao seu pai. Meu marido veio rapidamente em meu socorro, dizendo que
criança não tomava café aqui no Canadá e já me perguntando se no Brasil era
diferente. Com as devidas explicações, escapei de ser considerada uma delinquente
a desencaminhar os jovens.
Recentemente, vi dados
estatísticos interessantes, mostrando que o Brasil, apesar de ser o maior
produtor e exportador mundial de café, não está entre os países de maior
consumo per capita, sequer entre os
10 primeiros consumidores. O Canadá, sim, está entre os 10 países de maior
consumo per capita de café. Pudera!
Apesar de haver o tal limite de idade, os canadenses o consomem durante
praticamente toda a parte da manhã, em repetidas doses de canecas repletas de
café e algumas gotas de leite ou creme. Eles tomam o café bem ralo, mas o
volume é impressionante. Se o local de trabalho não fornece o café, eles levam
a sua dose cotidiana em canecas térmicas.
Lembro-me da expressão
facial de decepção que meu marido fez ao ver seu café servido em uma “xicrinha”,
no Brasil. Ele só entendeu melhor quando viu a cor negra do líquido e, diga-se
de passagem, ficou fã de “café forte”. Nunca mais quis saber do “chafé”
canadense. Costuma dizer que nosso café pode ser cortado com faca, de tão
espesso – “à couper au couteau” – e que fica algum tempo sem conseguir piscar
os olhos. Atualmente, quem “passa” o café aqui em casa é ele, que me superou, e
muito, apesar de toda a minha experiência!
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