quinta-feira, fevereiro 28, 2019

Nova Lima au bout du tunnel

© Maria do Carmo Vieira-Montfils

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Je suis une montagnarde, c'est certain. Mes premiers pas et les suivants ont été faits sur le sol d’une ville dont l’altitude varie entre 800 et 1100 m au-dessus du niveau de la mer, d’où s'élèvent des chaînes de collines jusqu’à 500 m ou moins, en atteignant approximativement 1500 m au-dessus du niveau de la mer, aux points les plus élevés. Les rues en pente nous font vivre à monter et à descendre, toujours entourés par un mur à l'horizon... tellement bel horizon!
Mais nous savons que nous sommes des montagnards pour de nombreuses raisons, pas besoin de mesurer; parmi tant d'autres, l'air que nous respirons. Il est plus léger, demande de temps en temps une respiration profonde, en dilatant les poumons avec de l'air frais qui veut voler. C'est une physiothérapie respiratoire obligatoire. Le soupir nous arrive normalement; puis, quand on est triste, on sait déjà soupirer, naturellement.
J'ai remarqué cette différence encore plus après mon déménagement. Je vis depuis de nombreuses années presque au niveau de la mer, bien que très éloigné, entre 50 et 100 mètres d’altitude, à un endroit de relief plat, la vision dégagée, où le magnifique et surprenant ballet des nuages ​​est exposé, à ciel littéralement ouvert – mais ceci est une autre histoire. En fait, je ne soupire plus comme avant. L'atmosphère ici est nettement plus dense, cela donne l'impression que je peux prendre un morceau d'air avec mes mains – "de l'air à couper au couteau". Il y a trop d'oxygène, c'est spécial; mes poumons n'étaient pas habitués à de tels régals.
Les montagnes dessinent et délimitent notre petit monde. Quand j'étais jeune enfant, je pensais que la montagne était la dernière frontière du monde. J'ai lu le texte d'une écrivaine, également de Minas Gerais, qui dit la même chose – donc je n'étais pas seule dans cette pensée, j'ai décidé de la partager 😊. D’ailleurs, je vous recommande de lire le texte d’Elisa Santana, chez Luzias, en portugais (cliquez ici), lucide, poétique, peiné par les effets de l’activité minière dans Minas Gerais.
C’est très loin dans ma mémoire cette idée que les montagnes étaient où le monde aboutissait, je ne sais pas quel âge j’avais. J’ignorais ce qui pourrait avoir en arrière; quand mes frères et ma sœur plus âgés que moi montaient la colline près de chez nous, je m’inquiétais pour eux, sans savoir exactement pourquoi. Étant donné que mes parents ne me laissaient pas aller à cause de mon jeune âge, peut-être que je songeais qu’il y aurait un danger quelconque. Notre maison se situait très proche d’une colline et je pensais que c’était près d’où le monde finissait. Aujourd’hui, une hypothèse m’est venue à l’esprit, que peut-être j’avais entendu quelqu’un dire que nous habitions « au bout du monde », au sens d’une place pas bonne pour vivre, et j’aurais compris littéralement, je ne sais pas… 😂 – en fait, il y avait, dans la famille, ceux qui n’appréciaient pas où notre maison se situait.
Un jour, j’ai entendu mon père dire que, si on avait un tunnel dans la montagne, on arriverait à Nova Lima. J’imagine qu’il faisait référence à un autre endroit à Belo Horizonte, mais j’ai pensé qu’il parlait de notre colline. Cela fut comme un dévoilement pour moi – le monde existait de l’autre côté aussi ! Mais je me suis retenue, je n’ai rien dit à personne car j’étais gênée d’avoir pensé cela; je trouvais, alors, que c’était une absurdité enfantine. Aujourd’hui, en lisant le texte de l’écrivaine Elisa Santana, je me suis rappelée de notre voisin, le « bout du monde », et de cette lumière au bout du tunnel – Nova Lima.
Ce que je ne pouvais pas imaginer, c’est que ces montagnes, si intrinsèques à mon être, en tant que partie intégrante de mon âme, comme l’écrivaine que j’ai mentionnée a bien dit, seraient détruites un jour et transformées en boue toxique et mortelle pour nous. J'espère que nous aurons une lumière au bout du tunnel pour mettre fin à ces barrages de résidus miniers qui ont tué tant de gens, afin que nos montagnes bien-aimées ne représentent pas la fin du monde pour les habitants de Minas Gerais.
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quarta-feira, fevereiro 27, 2019

Nova Lima ao final do túnel

© Maria do Carmo Vieira-Montfils

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 English version

Sou montanhesa, com certeza. Meus primeiros passos, segundos e terceiros, foram sobre o solo de uma cidade com altitudes variando entre 800 e 1100 m acima do nível do mar, de onde brotam cadeias de morros e colinas de mais uns tantos, até 500 m ou menos, somando aproximadamente 1500 m acima do nível do mar, nos pontos mais altos. É um sobe e desce sem fim de ladeiras e sempre tem uma muralha enfeitando o horizonte... tão belo!
Mas a gente sabe que é montanhês por muitos motivos, não precisa contar os metros; entre tantos, o ar que respiramos. Ele é mais leve, pede uma respiração profunda, de vez em quando, expandindo os pulmões com um arzinho fresco, querendo voar. É fisioterapia respiratória compulsória. O suspiro é de natureza... natural, quando vem alguma tristeza, a gente já sabe suspirar, é normal.
Percebi mais ainda essa diferença depois que me mudei. Há muitos anos estou vivendo quase ao nível do mar, embora longe dele, entre 50 e 100 metros de altitude, num lugar bem plano, visão desimpedida, onde o lindo e espantoso bailado das nuvens fica exposto, literalmente ao ar livre – mas isso é uma outra história. O fato é que notei que não suspiro mais como antes. A atmosfera aqui é nitidamente mais densa, dá a impressão de que posso pegar um pedaço de ar com as mãos – “de l’air à couper au couteau”. Tem oxigênio em demasia, não estava acostumada com tamanha regalia.
As montanhas desenham e delimitam o nosso mundinho. Quando era bem pequena, pensava que o mundo acabava na montanha. Li o texto de uma escritora, também mineira, que disse a mesma coisa – vi que não estava sozinha nesse pensamento, resolvi partilhar 😊. Aliás, recomendo ler o texto de Elisa Santana, em Luzias (clique aqui), lúcido, poético, dolorido pelos efeitos da mineração em Minas Gerais.
Essa lembrança de que eu imaginava o mundo acabando na montanha ao lado é bastante remota, não sei que idade eu tinha. Não imaginava o que pudesse ter atrás; quando os irmãos mais velhos subiam o morro perto de casa, eu ficava temerosa por eles, sem saber bem por quê. Talvez, como meus pais não me deixavam ir, por ser muito pequena, eu devia deduzir que havia algum perigo. Nossa casa ficava muito perto do Morro do Pau Comeu – o nome não ajuda –, e eu achava que nós estávamos perto do fim do mundo. Uma hipótese que passou pela minha cabeça, hoje, é que talvez eu tenha ouvido alguém dizer que morávamos no "fim do mundo", com sentido de lugar ruim, e tenha compreendido ao pé da letra, não sei... 😂 – realmente havia, na família, quem fosse de opinião que nossa casa era mal localizada.
Um dia, ouvi meu pai falando que, se se fizesse um túnel na montanha, sairíamos em Nova Lima. Imagino que ele fazia referência a outro local em Belo Horizonte, mas pensei que ele falava do nosso morro. Aquilo foi como um descortinar para mim – o mundo continuava do outro lado! Mas me contive, não falei nada com ninguém, com vergonha do que eu havia pensado antes, que me pareceu, então, um pueril absurdo. Hoje, lendo o texto da escritora luziense, é que fui lembrar-me desse “fim de mundo”, nosso vizinho, e dessa luz ao final do túnel – Nova Lima.
O que não podia imaginar é que aquelas montanhas, tão intrínsecas ao meu ser, fazendo parte de minha alma, como bem disse a escritora que mencionei, seriam destruídas um dia e transformadas em lama tóxica e mortal para nós. Espero que tenhamos uma luz ao final do túnel, para acabar com essas barragens de rejeito assassinas, para que nossas amadas montanhas não representem o fim do mundo para os mineiros.
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Link relacionado:
Barragens de rejeitos
 

sexta-feira, fevereiro 15, 2019

Un autre wagon de train

La vie va bon train, chacun son chemin
C’est bientôt Carnaval, le plaisir général
Puis Carême et Pâques, du tac au tac
N’importe quel rituel
Le train est ponctuel
Il vient de klaxonner
Pour bien nous souhaiter
De la joie à la folie, sans perdre la tête
Puis de la foi bénie, sans diète

Ó o apito do trem… Ouiiiiiiiiiii-ouiiiiiiiiiiiiiiiiiiii-ouiiiiiiiiiiiiii




domingo, fevereiro 10, 2019

Reminiscências


No dia 11 de fevereiro, dia de Nossa Senhora de Lourdes, comemoramos também o aniversário de casamento de meus pais, em 1947. Também no mês de fevereiro meu pai nasceu (dia 23) e morreu (dia 15).
Lembrei-me de um texto (segue abaixo) do primo Leonardo Vieira Péret [1], falando sobre meu pai, em época anterior ao meu nascimento e quando eu ainda era muito pequena – um texto que me emocionou muito e que guardei nos meus arquivos mais preciosos. Hoje, o relato dele vem a calhar, pois menciona os tempos de noivado dos meus pais e até mesmo o casamento deles.
A bem da verdade, não tive convivência praticamente nenhuma com este primo, só o vi pouquíssimas vezes na casa de Vovó Chiquinha, em ocasiões festivas. Meus irmãos mais velhos o conheceram melhor. As contingências da vida o distanciaram do convívio com meus pais e conosco. Ele fala sobre isso no texto. Por um breve período, em 2004, nos comunicamos através da internet, em um fórum que eu havia criado, bem antes de se falar em Facebook. Foi um intercâmbio familiar ótimo, com vários participantes. Boa hora em que tive aquela ideia, usufruo dos bons frutos até hoje.
Coincidentemente, o aniversário de nascimento do Leonardo também é em fevereiro, no dia 26. Vamos celebrar também!
Segue o texto do primo:
Pave'esheeva
DUCA
Vão aqui algumas reminiscências.
Década de 40: ainda criança, às vezes tio Yvon e tia Esther (ainda noivos) passavam em nossa casa na Marechal Deodoro de automóvel (um HUDSON modelo 42 que era um senhor automóvel) e convidava os quatro (Thereza, Francisca, João Baptista e eu) para dar uma volta. A CATH ainda não tinha nascido. Como era o menor, ia na frente, no colo de tia Esther. Nessa ocasião ganhei de presente de aniversário um conjunto para fazer bolas de sabão (que alegria!). Depois disto veio o casamento. Para nós meninos um festão. Tio Yvon e Tio Geraldo eram os que cuidavam de nossa saúde.
Década de 50: Naquela ocasião eu gostava muito de astronomia e de astrofísica e por muitas vezes fui à Rio Doce para compartilhar com os grandes conhecimentos, na mesma área, do tio Yvon. A casa tinha somente a laje, para a qual nós subíamos à noite para apreciar as estrelas. Por muitas vezes observamos as constelações do Escorpião, Sagitário e Capricórnio bem como o movimento dos planetas. O tio Yvon me emprestou vários livros que possuía sobre astrofísica, cosmogonia e teoria da relatividade. É uma fase de minha vida que não esqueço. Em muitos sábados, à tardinha, me dirigia para a Rio Doce e ele lá estava me esperando. Onde a gente se encontrava (na Paraúna, na Lavras ou mesmo na rua) sempre sobrava assunto.
A partir de 60 entrei para a faculdade de medicina o que muito me absorveu e em 68, após terminar a residência, vim para Barbacena. Tio Yvon e tia Esther estiveram aqui nos visitando por ocasião do nascimento do Frederico pois tinham vindo visitar os Bias Fortes devido ter falecido o Simão (os dois fatos ocorreram no mesmo dia). Depois contarei alguns fatos pitorescos. Também contarei a passagem do respeitável Domiciano por Barbacena. É uma história interessante pouco conhecida pela família. 
Abraços Mantsi
Leonardo
(nanoshe'hame)
04/04/2004
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Comentário de meu irmão, Chico Lima:
Horas a fio conversando, à noite, sobre a laje da Rio Doce, com papai. Assunto era astronomia. Naquela época, BH era pequena, com céus noturnos muito visíveis. Eu acompanhava os dois e, como era muito menino ainda, tinha que ser puxado por um deles, do final da escada até a laje. Leonardo gostava de ir lá em casa e era muito querido do Yvon e da Esther. São tempos remotos.
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[1] Leonardo Vieira Péret nasceu em Belo Horizonte, em 26/2/1941, filho de José Amédée Péret e Lúcia Vieira Péret. Formou-se médico pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais (1965). Residência médica na Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte. Foi para Barbacena em 1968, onde exerceu a especialidade de Tocoginecologia. Foi professor de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina de Barbacena. Casou-se com Maria Efigênia Pires Péret, seus filhos são: Frederico e Leonardo, também médicos e Cristina, administradora de empresas. Faleceu em Belo Horizonte, em 24/01/2008.

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