sábado, novembro 18, 2017

Foi um rio que passou?



Li um texto sobre os últimos acontecimentos no Rio de Janeiro, ótima análise de Vânia Gomes (clique aqui para ler), nos lembrando que a corrupção está disseminada no Brasil, não está centralizada em Brasília nem no Rio.
Penso, porém, que o Rio continua sendo quem dita as tendências do Brasil. Deixou de ser a capital do país em 1960, mas continuou sendo o pólo de muita coisa boa, mas de muita coisa ruim também, como a corrupção. Mesmo no caso do Aécio, citado no texto, aquele que foi apelidado de "menino do Rio", apesar de mineiro – de onde vem todo o seu poder? Fico intrigada com isso.
Salvador e Rio ficaram com a marca de terem sido capitais e, até hoje, arrastam esse mito, essa pseudossuperioridade, inconscientemente, na cabeça de todos nós, brasileiros. E a coisa passa de geração a geração, mesmo os jovens assimilam essa mensagem subliminar que paira no país. Não podemos negar, no entanto, que “fica sempre um pouco de perfume” em quem já tocou em rosas, um pouco de “majestade”, em quem já foi rei. A população das antigas capitais guarda, naturalmente, um trato cultural e social mais apurado, que se perpetua, mesmo que seja só oralmente, quando as instituições não se mantêm. 
 Infelizmente, fica também um certo mau cheiro em quem já lidou com chiqueiro... o lamaçal do poder corrompido, ou melhor, a areia movediça que afunda quase todos que chegam ao poder e que acabam atendendo aos chamados da "sereia" que habita os pântanos da corrupção.
Posso estar enganada, depois de tantos anos fora do Brasil. Mas a "mentalidade" de um povo não é coisa que muda em duas décadas.
Esse traquejo cultural e social a que me refiro não é necessariamente ligado a um nível acadêmico mais elevado, e mantém-se, igualmente, uma certa mentalidade tacanha em algumas camadas da população, o que denota ausência de diversidade nas opções de vida. Exemplo disso foi a declaração do menino, passista de samba, que se apresentou na Abertura dos Jogos Olímpicos, sobre a qual escrevi, em 2016 (clique aqui para ler texto completo):
Achei tudo lindo, tudo! Também fiquei encantada com aquele menininho sambando tão graciosamente. Mas, depois, ao ler reportagens sobre o evento, fiquei com o coração apertado pelo que foi falado sobre o pequeno passista. Disseram que o seu sonho é desfilar pela Mangueira e ter vida de artista.
Não que eu tenha alguma coisa contra isso. Sempre gostei de assistir aos desfiles de escolas de samba do Rio, são um espetáculo grandioso. Mas eu preferiria que o seu sonho fosse estudar e se formar em alguma coisa. Talvez ele tenha esse sonho também, não sei. Mas o fato é que constatei, através do depoimento da criança, que pouca coisa ou nada mudou. Desde que me entendo por gente – e isso não é pouco tempo – lembro-me de declarações desse tipo, de pessoas de origem pobre, no Rio, que sonhavam ser artistas em escolas de samba. Convenhamos que, hoje em dia, há uma vantagem nisso, ou seja, o fato de não sonhar em ser traficante de droga já é lucro.
Talvez toda essa influência exercida pelo Rio em todo o Brasil se deva, também, em boa parte, ao fato de a sede da maior rede de televisão brasileira estar situada no Rio de Janeiro, de onde, inegavelmente, emana verdadeiros comandos de comportamento, que atingem o povo de cheio.
Nem a cidade de São Paulo, sendo o maior centro econômico, consegue superar essa capacidade de influenciar o país. Tenho a impressão de que o povo paulistano, de um modo geral, é muito mais conscientizado, no bom sentido. Mas só de vez em quando consegue fazer o país embarcar na onda deles, como aconteceu com as fantásticas manifestações de 2013. Mas São Paulo também está atolado na corrupção, o Brasil inteiro está, infelizmente.
Mesmo assim, tenho confiança no povo brasileiro. O Rio de Janeiro sempre soube superar seus problemas com arte e brilho, talentos do seu povo, espelhando o contexto do resto do país. Tenho esperança de que melhores dias virão para a Cidade Maravilhosa e espero que o Brasil também siga esta tendência, mais uma vez.

terça-feira, novembro 07, 2017

Quem são os heróis?




"É por isso que o Brasil não vai pra frente."

Em vez de lançar um olhar de compaixão sobre a história dos bandidos que ficaram famosos no Brasil, compreendendo suas circunstâncias e limites temporais, porém sem subir no patamar do julgamento, a sociedade brasileira insiste em continuar cultivando esses criminosos como heróis.
Exemplo disso são os ensinamentos até hoje presentes nas escolas, que pintam a imagem de Lampião e Maria Bonita como heroica, inspiração para “a estética da resistência”, como vi numa das questões do Enem 2017, que me pareceu emblemática. Não vi todas as questões. Da pequena amostra a que tive acesso, constatei que a linguagem do nosso “ensino” não mudou nada, desde os meus velhos tempos de Universidade... e já se vai quase meio século desde que passei no “Vestibular”. Obviamente, se o ensino não muda, fica difícil evoluir, mantém-se o status quo.
Os “coronéis” que oprimiam o povo na época de Lampião não eram santos. Os cangaceiros também não e, na maioria dos casos, seguiam ordens de uns coronéis para massacrarem outros e quem estivesse do lado deles.
Tudo leva a crer que o grupo de Lampião era independente, mas reproduzia as atitudes criminosas da classe dominante, com gana de poder e vingança. Conta a sua história que ele próprio entrou para o cangaço para se vingar de quem estava envolvido na morte de seu pai, que fora assassinado num confronto com a polícia, em decorrência de disputas armadas que sua família travava contra outras famílias, por limites territoriais.
Não é preciso ser grande filósofo para concluir que sede de poder e vingança são motivações que não levam a resultados construtivos, só fazem corroborar e perpetuar o banditismo, com a mesma disposição de oprimir o semelhante, seja ele quem for.
E é exatamente isso que constatamos no cotidiano brasileiro atual, não só da parte dos que detêm o poder, como também da parte dos novos cangaceiros (que não são grupos de nordestinos, isso é uma analogia), esses que assaltam, roubam, matam, invadem lares para cometer seus crimes, no Brasil inteiro. E não faltam defensores seletivos de direitos humanos para os vitimizarem, oprimindo sempre o cidadão honesto. Estes, não há quem os defenda.
Afinal, quem são os heróis nessa história toda?
Precisamos mudar tudo no Brasil, principalmente a nossa autoanálise.

quarta-feira, novembro 01, 2017

November

Versão em português
Version en français

I never forgot the words of one of my husband's aunts during my first autumn here in Canada – "I hate November, it's the worst month of the year." – she said.
In the early years, when everything was new to me, I thought she was exaggerating. Despite all the bureaucracy I had to deal with and all the expenses I had to face for changing civil status and moving to another country – a whirlwind of measures to take I was delighted with everything, because love makes us overcome all obstacles. It would not be thirty days that would disturb my joy.
That year, we had a sunny and very hot summer, the Northern Hemisphere had been generous to the point of receiving me so warmly, living up to my "tropicality". Autumn followed with all the beauty of the foliage in dazzling colours, a show that I knew only from pictures or paintings. Then, the leaves have fallen, as we learn at school, but we do not have the opportunity to see with the same magnitude in our "tropical paradises".
A short "Indian summer" came before I marvel at winter, with all the surprising varieties of water conditions also my first time to see these capricious forms of solid H2O: the beautiful and silent crystals in snowflakes, but also the dreaded ice storm the rain that freezes and sticks on the surfaces. Not to mention the freezing cold that taught me rituals and gestures never imagined clothes and even ways to walk.
Over the years, I got accustomed, but not like people from these latitudes. I keep a certain respect and, why not say, fear of these mood states of nature, not always favorable.
Now, I begin to agree with my dear aunt. I share her displeasure with this month. Yes, it is the worst of all. The darkness of the days becomes more evident, the green remains only in coniferous trees a green without strength at this time. Migratory birds have already left to the south, insects and spiders are trying to come into our homes in search of shelter, and we no longer hear the birds singing. The wind is strong and cold, announcing that winter shall soon be on our doorstep.
Let the snow come, then, to erase all those shadows wanting to take possession of us. May it reflect our lights and show us the right paths. And when December comes, our hope will be renewed, the light of day will start staying longer with us. We will celebrate the gift of LIFE again. May Christmas come!