terça-feira, junho 21, 2016

Amour intemporel


Source de la photo:
bhnostalgia.blogspot.com.br
Versão em português  English version

Would you know my name / If I saw you in heaven? / Would it be the same / If I saw you in heaven? Eric Clapton

1947, une photo avec vue aérienne de ma ville natale, Belo Horizonte. Un matin d’hiver, les camions arrivent pour approvisionner le Marché Central, et beaucoup de charrettes stationnées, en attente des clients. Peu de voitures en circulation, c’est tranquille. Quelques passants traversent l’Avenue Amazonas, pressés, à grands pas. La belle rosace de la ville, la Place Raul Soares, domine le paysage sans gratte-ciel, les montagnes en arrière-plan.
Tout à coup, je suis tombée dans un tunnel de temps, quand j'ai vu cette image envoyée par mon frère, par courriel, montrant une petite partie de la première maison où nos parents ont vécu, où ils ont commencé leur vie de jeunes mariés. Nous n’étions pas venus au monde encore, mais c’est comme si nous étions présents. Elle était là, notre mère, ce petit point blanc au balcon de la maison. Elle semble nous regarder, en haut d’un bâtiment ou dans un aéronef qui survole mystérieusement la ville. Elle ne savait pas, ni le photographe ne pouvait imaginer que nous étions là-bas, que l’on regardait à travers ce point de vue, à travers le temps. Une Hudson 1942 stationnée près de la porte d'entrée nous montrait que notre père était là aussi.
 « Qui cherche trouve. » C’est ce qui est arrivé à mon frère. Il a tellement cherché une photo avec cette maison, dans les vieux jours, qu’il a fini par la trouver. Et cette trouvaille a été encore plus fascinante, car c’est arrivé deux jours, à peine, après notre conversation à propos de quoi et de comment pourrait être la vie après la mort. Moi, j’ai mes croyances, à ma façon, et me demandais si les individus conserveraient un peu de ce qu’ils ont été à notre phase. Nos proches qui sont déjà partis, par exemple, auraient-ils encore un vestige de leurs affinités avec nous dans cette dimension?
Resterait-il, en eux, une certaine mémoire archaïque des sentiments tendres qu’ils avaient pour nous, compatible avec l'énergie ou quoi qu’il soit le matériau dont le prétendu «corps et âme» est fait? Auraient-ils conscience des liaisons génétiques qui nous connectaient? Ou seraient-ils tellement métamorphosés dans la grandeur infinie de l'amour et de la compréhension au-delà de nos frontières, que nous, encore dans cette vallée de larmes, serions pour eux comme de la poussière presque invisible?
Ce sont des interrogations que l’on se pose, tous, je crois que même les plus sceptiques. Nous avons une intuition qui nous pousse à croire à la continuité de chacun, quel que soit le modèle de civilisation dans laquelle nous vivons, quelle que soit l'influence reçue, en dépit de toutes idéologies ou théories contraires que nous essayons d’imposer à nous-mêmes. Cela fait partie de notre primitivisme intellectuel? Je ne sais pas. En tant que sentiment, bien sûr, cela fait partie de la phase de deuil dans laquelle nous sommes.
Cette photo semblait une réponse venue d'au-delà, un regard maternel à travers le temps - le temps, cet élément mystérieux qui nous restreint. Cette image reculée est venue toucher nos émotions, parce que la communication avec notre infime intelligence serait impossible. Un contact d'un passé lointain, comme nous sommes, nous-mêmes, des passagers antiques d'un aéronef qui voyage vers un avenir inconnu.
Un sentiment indescriptiblement bon s’est emparé de moi. J'ai eu l'impression que cet amour infini qui entrelace tous, qui nous rachète de nos pas sans but et tellement confus, devrait être en mesure de reconnaître les identités et les affinités. S'il y a de la compréhension de tout, il y aura de la magnanimité pour repérer et partager nos liens affectifs, quoique libre d’attaches.
Quoi qu'il en soit, je suis très reconnaissante de la formation chrétienne que j'ai reçue de mes parents. Tout dans le monde d'aujourd'hui m'amène à renforcer cette idée. Cette éducation a inculqué l’espoir dans mon esprit et la conscience que je dois me battre contre mes erreurs, mes faiblesses, mes peines, dans la foi que nous serons hors de notre propre portrait, par Lui, avec Lui et en Lui.
“Et vogue le navire...”  

sábado, junho 18, 2016

Amor atemporal

Fonte da imagem:
bhnostalgia.blogspot.com.br
English version
Version en français

Would you know my name / If I saw you in heaven? / Would it be the same / If I saw you in heaven? Eric Clapton

1947, uma antiga foto com vista aérea de Belo Horizonte. Manhã de inverno, os caminhões chegando para abastecer o Mercado Central, e muitas carroças estacionadas, aguardando os clientes. Poucos carros circulando, a cidade tranquila. Alguns transeuntes atravessam a Avenida Amazonas apressados, a passos largos. A bela rosácea da cidade, a Praça Raul Soares, impera na paisagem sem arranha-céus, a serra ao fundo.
Subitamente, entrei num túnel do tempo, quando vi essa foto que meu irmão, Francisco, me enviou por e-mail, mostrando um pedacinho da primeira casa onde nossos pais moraram, onde começaram a vida de casados. Nós não tínhamos nascido ainda, mas é como se estivéssemos presentes. Lá estava ela, nossa mãe, lá embaixo, aquele pontinho branco no terraço, olhando para nós, no alto de algum prédio, ou navegando numa aeronave que sobrevoava misteriosamente a cidade. Ela não sabia, nem o próprio fotógrafo podia imaginar que nós estávamos lá, vendo-a através daquele ponto de vista, através do tempo. Um Hudson 1942, estacionado perto da porta de entrada, mostrou que nosso pai também estava lá.
Quem procura, acha. Foi assim com meu irmão. Tanto procurou uma fotografia que mostrasse aquela casa, naqueles velhos tempos, que encontrou. E esse achado foi ainda mais fascinante, pois aconteceu dois dias após termos conversado sobre o que e como poderia ser a vida após a morte. Eu, que tenho minhas crenças, a meu jeito, já um tanto buriladas, me perguntava se os indivíduos manteriam algum remanescente do que foram neste nosso estágio. Nossos entes queridos que já se foram, por exemplo, teriam ainda algum resquício de suas afinidades conosco nesta dimensão?
Restaria neles alguma memória arcaica dos afetos que tiveram por nós, compatível com a energia ou seja lá qual for o material de que é feito o "corpo e alma"? Teriam consciência das conexões genéticas que nos ligaram? Ou estariam tão metamorfoseados na infinita grandiosidade do amor e do entendimento para além de nossas fronteiras, que nós, ainda neste vale de lágrimas, seríamos como poeira quase invisível para eles?
São interrogações que fazemos, todos, creio que mesmo os mais céticos. Temos uma intuição que nos impele a acreditar na continuidade de cada um, qualquer que seja o modelo de civilização em que vivemos, qualquer que seja a influência que tenhamos recebido, apesar de todas as ideologias ou teorias contrárias que tentamos nos impor. Faz parte do nosso primitivismo intelectual? Não sei. Como sentimento, faz parte, com certeza, da fase de luto pela qual passamos.
Aquela fotografia pareceu, para mim, uma resposta vinda do além, um olhar materno através do tempo - o tempo, esse misterioso elemento que nos limita tanto. Uma imagem remota veio tocar nossas emoções, pois uma comunicação com nossa ínfima inteligência seria impossível. Um contato de um passado distante, assim como nós somos, passageiros sempre antigos de uma nave que voa para um futuro desconhecido.
Fui tomada por uma sensação indescritivelmente boa. Tive a impressão de que esse amor infinito que entrelaça todos, que nos redime de nossos passos sem rumo, tão desacertados, deve poder reconhecer identidades e afinidades. Se há grandiosidade e compreensão de tudo, há de haver magnanimidade para o reconhecimento e partilha de nossas ligações afetivas, mesmo que livre de amarras.
 Seja como for, sinto-me imensamente grata à formação cristã que tive, recebida de meus saudosos pais. Tudo no mundo de hoje tem-me levado a reforçar essa ideia. Essa educação que me inculcou a esperança e o saber que tenho de lutar contra meus erros, minhas misérias, minhas penas, na fé de que estaremos fora do nosso próprio retrato, com Ele, nEle e por Ele.
“E la nave va...”            

segunda-feira, junho 13, 2016

Viva a Lusofonia!


Este texto não tem nenhuma intenção de orientar “autoajuda”, o objetivo é rir mesmo. Mas se servir para auxiliar algum semelhante, melhor ainda. Sempre existem semelhantes, inútil nos vangloriarmos da originalidade de nossas trapalhadas. Quando resolvemos partilhar nossas esquisitices, aparece um sem número de casos similares e todo mundo ri ao mesmo tempo.
Rir de nós mesmos é muito melhor do que rir dos outros. Além de ser realmente muito engraçado, é um jeito de resgatar o controle da situação, quando, por exemplo, cometemos uma gafe. Além do mais, isso nos liberta de qualquer barganha que queiramos fazer com o nosso próprio ego; desnecessário ficar arranjando desculpas esfarrapadas, nada de “feitiço do tempo”, tampouco precisamos ter medo ou vergonha de que riam de nós.
Se a mancada que cometemos é daquelas de provocar risadas, nada melhor do que assumir e liberar a gargalhada geral. Rir primeiro é muito melhor do que rir por último. Ninguém fica magoado quando o sujeito e o objeto do motejo somos nós mesmos. Chega a ser um ato de amor ao próximo, pois, assim, ninguém se sente maldoso por estar rindo do outro. Vamos rir juntos.
Para tímidos, é um remédio sem igual. Digo isso por experiência própria. E não me faltam gafes, posso desopilar o meu fígado e o de quem mais quiser saber dos meus casos anedóticos. De relance, já me lembrei de vários. Aliás, deve ser pelo número elevado de ocorrências, que consegui este grau de aperfeiçoamento no processo de zombar de mim mesma. Rir é preciso.
Tenho muitas histórias cômicas relacionadas com minha completa falta de orientação, por exemplo. Definitivamente, não tenho vocação para pombo-correio. Dirigindo carro num itinerário conhecido, se houver alguma coisa que impeça a passagem por uma rua e tiver que tomar um desvio do caminho costumeiro, me perco e tenho que perguntar a transeuntes para que lado devo ir. Agora, tenho um GPS e isso facilitou muito a minha vida. Só lamento não poder usá-lo a pé, quebraria bem o galho dentro de shoppings ou, no tempo em que eu ainda morava no Brasil, na saída do consultório do meu dentista, para achar o elevador. Assim, eu o teria poupado do trabalho de sempre vir à porta, com um sorriso curioso (será que ela vai errar o caminho de novo?) e preocupado em me mostrar a direção.
Fico encantada com uns novos “gadgets” que estão aparecendo no mundo da informática, que mostram tudo, até mesmo onde achar produtos nas prateleiras de um estabelecimento; mas a rima com meu “budget” é apenas um engodo, não dá nem para fazer trocadilho. De qualquer maneira, eu encontraria um jeito de dar mancadas com qualquer dispositivo à minha disposição.
São tantos tipos de gafes, não tenho preferências. Já tentei abrir porta de carro que não era meu, nem era da mesma marca, só a cor parecida. Sem falar de uma vez em que me aboletei no lado do passageiro de uma caminhonete que não era a do meu marido. E ele, rindo do que eu estava fazendo, me perguntou se eu não queria ir com ele. Ainda bem que o proprietário do veículo era seu amigo e, melhor ainda, não estava no carro naquela hora.
Antigamente, gostava de ir trabalhar a pé. Sempre gostei de caminhar. Mas nem sempre tinha tempo, ia de carro mesmo. Um dia, me sobressaltei ao chegar em casa e não ver o veículo na garagem. Roubaram meu carro – fui logo pensando. Mas, não, tinha ido trabalhar de carro aquele dia. Tive que voltar para resgatá-lo, ele estava no mesmo lugar onde eu o havia deixado.
Vivendo no Canadá francófono, tenho uma lista já bem crescidinha de gafes em francês, mas estas vou deixar para uma outra vez. Não, não estou com vergonha de contar. É que o texto ficaria longo demais e tenho uma boa, em português mesmo.
Se todos à minha volta estiverem falando só uma língua, sem problema, eu me comporto bem. Mas quando pessoas que falam línguas diferentes conversam comigo, ao mesmo tempo, cada uma na sua língua, eu sempre misturo tudo. Não serviria para fazer tradução simultânea, pois enlouqueceria os ouvintes, sem me dar conta disso. Quase invariavelmente, falo francês com quem teria que falar português, por exemplo, e vice-versa. Se tiver um terceiro que fale inglês, as frases saem trilingues, sem escapatória.
Certa vez, recebi a visita de uma de minhas sobrinhas brasileiras, fiquei radiante e acelerada, para não dizer eufórica, de estar com ela; pude ressuscitar minha lusofonia já confinada ao limbo há tanto tempo, pois nem estava pensando em português mais, tal a imersão no francês. Com a chegada dela, aproveitei para “tirar a barriga da miséria”, embora ela seja poliglota e eu pudesse continuar falando a língua local, sem nenhum problema.
Passeando pela cidade de Saint-Hyacinthe com ela, eu na direção do carro, a uma certa altura, havia uma rua interditada e um inspetor redirecionando os veículos. Pronto, a coisa já me perturbou. Justamente aquela única rua por onde eu passo para ir ao centro da cidade. E eu ainda não tinha o meu GPS. Parei perto do inspetor e perguntei a ele por onde poderia passar, dando-lhe os detalhes da destinação desejada. Ele me respondeu, tranquilamente, e lá fomos nós.
- O que houve? Pourquoi tu ris? – perguntei à minha sobrinha.
- Tia, você falou em português com ele, ele respondeu em francês, como quem tivesse compreendido. Isso está muito engraçado, tia.
Mais tarde, comentando o episódio com minha cunhada canadense, que mora em Saint-Hyacinthe, ela me pediu para descrever como era o inspetor. Embora ele não tivesse nenhuma característica muito diferente que o distinguisse, a minha descrição foi suficiente para que ela concluísse que se tratava do único funcionário português que havia na cidade. Era ele, pois. Isso, sim, é que é sorte!
Viva a lusofonia!