segunda-feira, março 28, 2016

Viva America!


Picture from fiftiesweb.com
Versão em português
Version en français


A feeling of isolation is almost inevitable when we settle in another country, despite the welcoming, and even if we are protected by the law and a support system. It is worse if we don’t have children, these magic beings who build strong bonds between parents and the surrounding world.
Although having been welcomed and having been integrated fairly well where I live, I will never be a “pure laine”, like people here in Quebec are proud to be. I will never be perfectly amalgamated with people from my country of adoption, because it is impossible to share our experiences and our identity as a people; we can tell our stories to each other, but it will never be like having the past in the same circumstances. On the other hand, I miss my roots, my family, and the place where I was born and raised. I feel it's not the same thing any more, everything’s changed... perhaps I changed myself. Here and there, there is a hiatus, a gap that can’t be filled.
Time doesn’t go back so that we can experience what we missed in our absence. Immigrants live in the limbo, kind of nowhere. They don’t integrate completely in the country of adoption and lose the link with their country of origin. In nowhere they will live the rest of their lives.
The positive aspect of this experience is about broadening the way we see things, we stop having a vision limited by the frontiers of our first country. As we strive for integration in the country that welcomed us, submitting ourselves to a metamorphosis to reach a native state, the best we can, we practice a healthy exercise for the neurons, which makes us detach from certain conditionings. Other connections are activated, and we are not restricted to them. It is a bit like learning another language, which allows us to navigate in different ways of thinking, using an invisible "switch".
There are gains on one side, but, of course, there are significant losses in this process too. However, if we do not try to integrate, we just stay with losses, no gains.
In a couple where each one comes from such different countries with different histories, like in our case, there are small oasis of shared memories in the solitude of each one, in our common occidental limbo, which provide moments of pure joy.
Today, my husband called our cat using the name "Rin-tin-tin", in a solitary moment of fun; he couldn't imagine that I would understand. I reacted, saying: "Yooh Rinty!" And we began laughing and remembering the characters of the famous American series and many others we watched on TV in our childhood. It was a magical moment.
To my surprise, I found myself exclaiming: "Viva America!"

sábado, março 26, 2016

E viva a América!


picture from fiftiesweb.com
English version
Version en français


 Um certo estado ou sentimento de isolamento é praticamente inevitável, quando nos instalamos em um outro país, por mais acolhedor que ele seja, e mesmo que estejamos protegidos pela lei e por um sistema de apoio. Principalmente se não temos filhos, que são elos fortes entre os pais e o mundo circundante.
Apesar de ter sido bem acolhida e ter-me integrado razoavelmente bem onde vivo, nunca serei uma “pure laine”, tal como se orgulha tanto a população daqui. Nunca farei um amálgama perfeito com as pessoas do meu país de adoção, porque é impossível compartilhar nossas experiências e nossa identidade como povo; podemos nos contar nossas histórias, mas nunca será como ter o passado vivido nas mesmas circunstâncias. Por outro lado, sinto falta das minhas origens, da minha família, do lugar onde nasci e cresci. Sinto que já não é a mesma coisa, tudo mudou... talvez, eu mesma. Aqui e lá, existe um hiato, uma lacuna que não se pode preencher.
O tempo não volta atrás para que possamos vivenciar aquilo que perdemos com nossa ausência. O imigrante mora no limbo, espécie de nenhures. Não se integra completamente ao país de adoção e perde o elo com o país de origem. Em nenhures viverá o resto de seus dias.
O ponto positivo dessa experiência é que ela amplia nosso jeito de ver as coisas, deixamos de ter a visão limitada pelas fronteiras das intrigas da nossa primeira pátria. Ao nos esforçarmos para a integração no país que nos acolheu, ao nos submetermos a uma metamorfose para atingirmos um estado nativo, ao máximo que podemos, praticamos um exercício saudável para os neurônios, que nos faz despregar de certos condicionamentos. Ativamos outras conexões, sem estarmos limitados a elas. Um pouco como aprender uma outra língua, que nos permite navegar em modos diversos de pensar, usar o "switch".  
Ganha-se de um lado, mas há muita perda nesse processo também, claro. Porém, se não tentamos nos integrar, ficamos só com as perdas, sem ganhos.
Num casal em que cada um é originário de países tão diferentes, com histórias diferentes, como é o nosso caso, na solidão solidária de cada um, há pequenos oásis de recordações comuns, dentro do mesmo rincão de ocidentalidade, que nos propiciam momentos de alegrias singelas.
Hoje, meu marido chamou nossa gatinha de “Rin-tin-tin”, numa brincadeira solitária; não podia passar pela sua cabeça que eu compreenderia. Eu brinquei também, dizendo: “Aiô, Rin-tin”. E começamos a rir e a nos lembrar dos personagens do famoso seriado americano e de outros que povoaram nossas infâncias. Foi um momento mágico.
Para minha surpresa, me peguei exclamando: “E viva a América!”

Os moradores de nenhures: versão mais longa (textão)

terça-feira, março 22, 2016

Paradoxo e dissonância cognitiva

Também publicado pela KBR Digital, em 22/03/2016:
https://cronicasdakbr.kbrinternational.org/2016/03/22/paradoxo-e-dissonancia-cognitiva/
http://www.kbrdigital.com.br/blog/paradoxo-e-dissonancia-cognitiva/
e
https://www.cronicasdakbr.com/2016/03/22/paradoxo-e-dissonancia-cognitiva/

(Leon Festinger, psicólogo norte-americano (1919-1989) tornou-se Bacharel em Ciência pelo City College de Nova Iorque e desenvolveu a Teoria da Dissonância Cognitiva)


Escrevi este texto no intuito de tentar contribuir de alguma forma para diminuir um pouco os conflitos que estão dividindo a população brasileira; tentando entender a tolerância de alguns com relação à corrupção monstruosa institucionalizada pelo PT. São pessoas que, como várias conhecidas minhas e estimadas (alguns médicos, portanto instruídos), ainda defendem esse partido. É um fenômeno que me intriga, pois não duvido da honestidade dessas pessoas que conheço, muito pelo contrário.
Em conversa com um médico, amigo meu, acabamos chegando a uma hipótese que julgamos plausível, mas que merece ainda muita reflexão, e a uma conclusão.
Concluímos que é muito importante não ofender esses petistas "bem intencionados", como temos visto acontecer tão frequentemente, pois não resolve nada, só piora, porque eles se sentem extremamente honestos. Nesses casos, dos petistas instruídos e honestos (excluindo-se os que levam vantagens e os que estão diretamente implicados nos meandros do Foro de São Paulo), parece que caíram na chamada Dissonância Cognitiva.
Segundo essa teoria, todos nós usamos este mecanismo de defesa psicológico, automaticamente, conforme fui informada (não sou especialista), em maior ou menor grau de complexidade, para não nos contrariarmos. O perigo é nos auto-enganarmos. Um exemplo bem simples, do meu cotidiano: sei que preciso fazer uma caminhada todos os dias. Um dia, não vou. Aí passa pela minha cabeça que foi até bom não ter ido porque estava muito frio, poderia pegar um resfriado. É o meu cérebro tentando conciliar a minha atitude com a minha convicção, com a minha consciência. É um exemplo simplista, mas dá para ter uma ideia.
Por favor, leiam a sequência abaixo, supostamente com relação a essas pessoas que apoiam o PT e me digam se concordam.
1. Tiveram boa noção de honestidade em sua formação.
2. Foram bem educados de modo a querer a igualdade entre os seres humanos ou se chocaram ao presenciar situações graves de desigualdade.
3. Foram bem motivados a rejeitarem atitudes contrárias a 1 e 2.
Os 3 primeiros itens são sólidos em seu caráter, o que é bastante louvável.
4. Acreditaram muito no PT como portadores e realizadores desta nova ordem de coisas.
5. Investiram muito psicologicamente (muitas vezes até financeiramente) para chegarem próximos à realização de uma utopia.
6. Tiveram uma sensação de grande felicidade em contribuir para o bem da humanidade (pelo voto e outras contribuições).
Os itens 4, 5 e 6 representam um engajamento de corpo e alma, uma crença em que apostaram com fé... como numa religião.
7. Vieram as acusações e provas de desonestidade e populismo por parte do executor da utopia (PT).
8. Estas pessoas sofreram um aviltamento terrível em suas convicções.
9. Encontram dificuldades em aceitar a perda de tudo aquilo em que acreditavam e depositaram em confiança ao PT (dissonância cognitiva).
10. Tentam achar a culpa em outras entidades, fora do PT (tentativa de resolver o conflito interior).
11. Tentam minimizar a culpa do PT, em prol da realização da utopia, incapazes de aceitarem o fracasso daquilo em que acreditavam (tentativa de resolver o conflito interior). Tentam minimizar a culpa também pelo processo de encontrar culpa em outros.
Ora, quanto mais são acuados e pressionados por seus opositores, mais se sentem conflituados. Além do mais, as cobranças “dos dois lados” ativam reações de defesa sob a forma de ataque. E os conflitos se perpetuam, deixando a nação dividida, em frangalhos.
Muito mais simples seria para todos o fato de compreenderem que a intensificação no combate à corrupção não tem sua origem em nenhuma disputa interna do nosso país. Essas investigações e punições vêm sendo fortemente recomendadas pela Organização das Nações Unidas.
Já ficou devidamente esclarecido que a situação de miserabilidade em que se encontram dois terços da humanidade se deve, em grande parte, à corrupção que grassa no planeta, principalmente nos países do terceiro-mundo, onde a população ignorante não é capaz de exigir seus direitos, sequer de ter conhecimento deles. A determinação feita pela organização é para que máximos esforços se façam para combater a corrupção.
Para tal, existem modelos de estrutura policial e judiciária que são recomendáveis, e estão sendo usados em vários países, para que as ações de investigação e punição não possam ser coibidas por interesses escusos nem sujeitas a embaraços. Assim tem agido a UPAC (Unité Permanente Anticorruption) no Quebec, bem como em todo o Canadá.
Recentemente, uma ex-vice Premier do PLQ (Partido Liberal do Quebec), entre outros, foi presa, situação rara por aqui, e o Ministro da Segurança Pública disse que "é importante lembrar que não há absolutamente ninguém acima da lei, e que a UPAC deve fazer e faz seu trabalho de forma independente."
O atual Premier, que é do mesmo partido, está com as barbas de molho, as investigações ainda não terminaram. Leiam o artigo sobre o assunto[1], é interessante; há semelhanças e diferenças com os casos do Brasil.
Entre as semelhanças, está o fato de haver uma equipe que funciona de modo bastante parecido com o da equipe do Juiz Sérgio Moro, no Brasil, da qual tenho podido me orgulhar e, quando alguém aqui no Canadá me questiona sobre o que está-se passando no meu país de origem, posso responder de cabeça erguida que temos uma “UPAC” lá também.
Entre as diferenças está o fato de o povo todo aqui estar querendo a punição aos corruptos, e não são necessárias manifestações para isso, a punição vem. Não há ninguém da população, mesmo os partidários do PLQ, ninguém a favor dos corruptos. Todos querem limpar esta mancha imediatamente.
Quando se tenta levantar do berço esplêndido um Brasil adormecido, quando alguém tenta agir conforme as tendências mundiais anticorrupção, padrão primeiro-mundo, vêm as críticas um tanto paradoxais... na verdade, tento compreender esse tipo de reação, mas não consigo. Como assim? Isso é um desejo de que o Brasil fique eternamente fadado a ser um país do terceiro-mundo? É isso mesmo que querem?

sábado, março 19, 2016

Brasil, país de terceiro-mundo





As Nações Unidas já esclareceram que a situação de miserabilidade em que se encontram dois terços da humanidade se deve, em grande parte, à corrupção que grassa no planeta, principalmente nos países do terceiro-mundo, onde a população ignorante não é capaz de exigir seus direitos, sequer de ter conhecimento deles. A determinação feita pela organização é para que máximos esforços se façam para combater a corrupção.
Para tal, existem modelos de estrutura policial e judiciária que são recomendáveis, e estão sendo usados em vários países, para que as ações de investigação e punição não possam ser coibidas por interesses escusos nem sujeitas a embaraços. Assim tem agido a UPAC (Unidade Permanente Anticorrupção) no Quebec, bem como em todo o Canadá.
Recentemente, uma ex-vice Premier do PLQ (Partido Liberal do Quebec), entre outros, foi presa, e o Ministro da Segurança Pública disse que "é importante lembrar que não há absolutamente ninguém acima da lei, e que a UPAC deve fazer e faz seu trabalho de forma independente."
O atual Premier, que é do mesmo partido, está com as barbas de molho, as investigações ainda não terminaram. Leiam o artigo sobre o assunto[1], é interessante; há semelhanças e diferenças com os casos do Brasil.
Entre as semelhanças, está o fato de haver uma equipe que funciona de modo bastante parecido com o da equipe do Juiz Sérgio Moro, no Brasil, da qual tenho podido me orgulhar e, quando alguém aqui no Canadá me questiona sobre o que está-se passando no meu país de origem, posso responder de cabeça erguida que temos uma “UPAC” lá também.
Entre as diferenças está o fato de o povo todo aqui estar querendo a punição aos corruptos, e não são necessárias manifestações para isso, a punição vem. Não há ninguém da população, mesmo os partidários do PLQ, ninguém a favor dos corruptos. Todos querem limpar esta mancha imediatamente.
Quando se tenta levantar do berço esplêndido um Brasil adormecido, quando alguém tenta agir conforme as tendências mundiais anticorrupção, padrão primeiro-mundo, vêm as críticas feitas por tantas pessoas... Como assim? Isso é um desejo de que o Brasil fique eternamente fadado a ser um país do terceiro-mundo? É isso mesmo que querem?