picture from fiftiesweb.com |
Version en français
Um certo estado ou sentimento de isolamento é
praticamente inevitável, quando nos instalamos em um outro país, por mais
acolhedor que ele seja, e mesmo que estejamos protegidos pela lei e por um sistema de
apoio. Principalmente se não temos filhos, que são elos fortes entre os pais e
o mundo circundante.
Apesar de ter sido bem
acolhida e ter-me integrado razoavelmente bem onde vivo, nunca serei uma “pure
laine”, tal como se orgulha tanto a população daqui. Nunca farei um amálgama
perfeito com as pessoas do meu país de adoção, porque é impossível compartilhar
nossas experiências e nossa identidade como povo; podemos nos contar nossas
histórias, mas nunca será como ter o passado vivido nas mesmas circunstâncias. Por
outro lado, sinto falta das minhas origens, da minha família, do lugar onde
nasci e cresci. Sinto que já não é a mesma coisa, tudo mudou... talvez, eu
mesma. Aqui e lá, existe um hiato, uma lacuna que não se pode preencher.
O tempo não volta atrás para
que possamos vivenciar aquilo que perdemos com nossa ausência. O imigrante mora
no limbo, espécie de nenhures. Não se integra completamente ao país de adoção e
perde o elo com o país de origem. Em nenhures viverá o resto de seus dias.
O ponto positivo dessa
experiência é que ela amplia nosso jeito de ver as coisas, deixamos de ter a
visão limitada pelas fronteiras das intrigas da nossa primeira pátria. Ao nos
esforçarmos para a integração no país que nos acolheu, ao nos submetermos a uma
metamorfose para atingirmos um estado nativo, ao máximo que podemos, praticamos
um exercício saudável para os neurônios, que nos faz despregar de certos
condicionamentos. Ativamos outras conexões, sem estarmos limitados a elas. Um
pouco como aprender uma outra língua, que nos permite navegar em modos diversos
de pensar, usar o "switch".
Ganha-se de um lado, mas há
muita perda nesse processo também, claro. Porém, se não tentamos nos integrar, ficamos
só com as perdas, sem ganhos.
Num casal em que cada um é originário de países tão diferentes, com histórias diferentes, como é o nosso caso, na solidão solidária de cada um, há
pequenos oásis de recordações comuns, dentro do mesmo rincão de ocidentalidade, que nos propiciam momentos de alegrias singelas.
Hoje, meu marido chamou
nossa gatinha de “Rin-tin-tin”, numa brincadeira solitária; não podia passar
pela sua cabeça que eu compreenderia. Eu brinquei também, dizendo: “Aiô,
Rin-tin”. E começamos a rir e a nos lembrar dos personagens do famoso seriado
americano e de outros que povoaram nossas infâncias. Foi um momento mágico.
Para minha surpresa, me peguei
exclamando: “E viva a América!”
Os moradores de nenhures: versão mais longa (textão)
Os moradores de nenhures: versão mais longa (textão)
Adorei, tia Du!
ResponderExcluirNão sei o que é sentir o limbo que você descreveu, mas posso imaginar muito bem. Por isso é importante seguir sempre em frente.
As recordações são sempre importantes, fazem parte do nosso eu, mas podem nos machucar também. Vamos em frente!!! =)
Saudades!
Estava lembrando de quando eu estive em Paris e acabei me aproximando da Pinar, minha amiga turca, exatamente por que tínhamos alguns oásis de recordações comuns. Nos dias de hoje, com internet e tecnologias, creio que fica mais fácil ter essa conexão. Mas vi o quanto isso pode aproximar pessoas que viveram culturas tão diferentes.
ResponderExcluirVerdade, nos dias de hoje, as tecnologias estão facilitando em muitos aspectos.
ResponderExcluirObrigada, Lu, e "vamos em frente!!!" :-)