quinta-feira, agosto 30, 2018

Padre Eustáquio - Saúde e Paz

Padre Eustáquio
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Em 30 de agosto celebramos o dia do Padre Eustáquio, nome religioso adotado por Hubertus (Huub) van Lieshout, um holandês que viveu boa parte da sua vida no Brasil, como missionário. É venerado em Belo Horizonte, apesar de ter passado pela capital mineira por pouco tempo, de abril de 1942 a agosto de 1943, quando faleceu de febre maculosa, transmitido por carrapato, segundo o que se sabe.
Missionários são verdadeiros heróis. Geralmente, são enviados, por suas congregações, a lugares muitas vezes inóspitos, por variados motivos, para converter populações pagãs. Após cursar filosofia e teologia, cumpriu um curto período de missão na Holanda, sendo depois despachado, com mais outros dois, em 1925, para os rincões bravios de Minas Gerais. Aí iniciou sua saga no Brasil, num lugarejo chamado "Água Suja", onde o povo era “formado em sua maioria por garimpeiros que tudo perdiam com a mesma facilidade com que ganhavam, e cuja vida atribulada — com frequência miserável — provinha da irreligiosidade, da dissolução e do crime”, segundo as palavras de Pe. Venâncio Hulselmans, em seu livro “Padre Eustáquio van Lieshout SS.CC.”.[1]
O livro diz ainda que o lugarejo “surpreendeu os sacerdotes sob vários aspectos. Não se continham de estupefação ao ver como aquele povo, ao mesmo tempo que possuía uma devoção que chegava às raias do entusiasmo, em particular a Nossa Senhora d’Abadia, tinha uma conduta de vida diametralmente oposta àqueles sentimentos. Cumpria mudá-la.” O sacerdote chegou a sofrer ameaças, mas não se intimidou, acabando por domar os incivilizados, com vigor e virtude. Ajudava a população desassistida, com o uso de folhas e raízes que ele próprio colhia e preparava para remediar males. A fama de santo milagreiro começou a se espalhar e, quando sua congregação resolveu transferi-lo para São Paulo, a população local tentou impedir sua saída.
Em 1935, foi, afinal, transferido para Poá, em São Paulo. Lá continuou a operar curas e conversões, com suas bênçãos das águas e no confessionário. Sua fama aumentou tanto que começaram a fazer romaria na cidade, provocando muito tumulto. Por esta razão, as autoridades decidiram afastá-lo. Padre Eustáquio chegou a escrever uma carta ao Arcebispo de São Paulo, dizendo: “Eis aí a santa vocação que em mim sinto: aliviar as dores corporais para poder avivar a fé abalada de nossos tempos.” Mas não conseguiu convencê-lo. Ficou recluso por um tempo, no Rio de Janeiro, com recomendação do Cardeal Dom Sebastião Leme de que suas bênçãos se processassem discretamente e sem publicidade de eventuais fatos extraordinários. Estava, por exemplo, proibido de curar paralíticos. [1]
Parece piada, mas não é. Em vez de avaliar o caso cautelosamente, simplesmente puseram de lado um indivíduo que estava conseguindo a conversão de milhares de pessoas. O que queria, finalmente, a cúpula da Igreja Católica? Não foi isso que Jesus disse aos apóstolos, que eles fariam prodígios em nome dEle?
Também no Rio, a multidão acorreu a ele, levando o Cardeal Leme a praticamente expulsá-lo da cidade. Foi abrigado por amigos em uma fazenda no Estado de São Paulo e, finalmente, a pedido do Arcebispo de Belo Horizonte, Dom Antônio dos Santos Cabral, foi transferido para Belo Horizonte, em abril de 1942. Por ordem de superiores, teve seu apostolado reduzido, com horários limitados. Mesmo assim, o povo de Belo Horizonte recebeu muitas bênçãos e muitos milagres são relatados.
Muitos belo-horizontinos contam histórias de prodígios que se operavam através do Padre Eustáquio, com relatos de curas e conversões. Os milagres continuaram e parece que continuam ainda a se processarem por seu intermédio [2]. Por onde passou, deixou sua marca de santidade, aclamada pelo povo. Foi beatificado em 2006 e há processo em andamento para a sua canonização. [3]
São muitos os casos contados pelo povo, sobre a personalidade "carismática" do Padre Eustáquio, que tocava os corações, até nos mínimos gestos. Meu pai contava que, certa vez, estava caminhando por uma rua de BH, com um de seus irmãos, quando avistaram, ao longe, Padre Eustáquio, também a pé, indo na direção oposta ao lugar onde estavam. – Olhe, não é o Padre Eustáquio?  – perguntou um ao outro – Poderíamos ir pedir-lhe uma bênção. Neste mesmo instante, o padre voltou-se e fez o Sinal da Cruz em direção a eles.
Com minha mãe, que também era muito devota dele, houve uma espécie de manifestação em dois sonhos, já alguns anos após a morte do sacerdote. Ela tinha perdido o primeiro filho, recém-nascido, e sonhou com o padre que lhe dizia que ela perderia um filho. Ela dizia que já tinha perdido um e perguntava se era desse que ele estava falando. Ele não respondeu, nem sim nem não.
Outro episódio interessante que ocorreu com meus pais foi que, também em sonho, o Padre Eustáquio disse à minha mãe que ela teria sete filhos. Sem que ela tivesse comentado nada sobre isso, meu pai deu a ela um presente – não sei se no dia seguinte, ou dias depois: uma peça de louça com sete criancinhas pintadas; e perguntou se não seria uma boa conta. Ela ficou impressionada porque era o mesmo número do sonho.
Naquele tempo, as famílias católicas não evitavam filhos, viessem quantos viessem. Pois, anos depois, após finalizada a produção da “fábrica”, minha mãe lembrou-se dos sonhos e constatou que estavam certos. Ela teve sete filhos, contando com os dois que morreram pequeninos. Sim, ela teve um outro que morreu recém-nascido – uma menininha. Coincidências estranhas... Sinais para ajudar a fortalecer a fé?
A tradicional saudação do Padre Eustáquio era “Saúde e Paz - Saúde para vossos corpos, Paz para vossas almas.” [4]
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quarta-feira, agosto 22, 2018

Genealogia do abortado


Não vou falar do brasileiro abortado pela mãe-civilização, pois nem sei se é só uma intuição minha, um tanto emaranhada; não tenho conhecimento suficiente de todas as implicações internacionais para ousar explicações.
Isso está parecendo conversa de doido? Espere só para ler o resto do que tenho para escrever... Ou melhor, não espere, leia, por favor, o que penso do brasileiro abortado dentro do Brasil. O que acontece lá já basta para horrorizar qualquer um e, certamente, para o bem da mulher é que não é.
Nota de meio de página: o masculino genérico é usado sem discriminação, com o intuito de tornar o texto mais ágil e, também, com finalidade inclusiva do ser humano macho, que está se tornando minoria excluída – se não em número, em estima e autoestima. E, pior, sem saber que nessa história é ele ainda o principal “ator”. Não que seja, necessariamente, o mocinho bom ou o bandido do filme, mas é o alegado leitmotiv dessa zorra toda, ora bolas! Tem, portanto, que ser incluído nos debates e nas soluções.
Não estou julgando ninguém. Meu texto propõe uma reflexão, uma ajuda na tomada de decisões para tentar melhorar o futuro. O passado precisa ser superado, perdoado, ao mesmo tempo que serve de aprendizado.
       Bom, chega de ter que pedir desculpas por cada frase ou palavra que escrevo! Desse jeito, não conseguirei parir o assunto desejado. Vamos lá...
Em muitos países, até do chamado “primeiro mundo”, apesar de todo o suposto desenvolvimento científico, não conseguiram chegar a um acordo sobre o que é o corpo de uma mulher e o de um embrião e, atabalhoadamente, os fundiram, como se o novo ser pertencesse ao corpo da mãe (como se não tivesse metade de seu conteúdo genético de outra pessoa que não a mulher que o abriga), ou concluíram que aquilo é só um amontoado de células – e que amontoado, hein! Decidiram, então, como coisa legal, amputar o embrião, em alguns casos até o feto, enquanto “membro indesejado” – o que, na minha opinião, não passa de um “inocenticídio” (desculpem aí o neologismo)!
No Brasil, ainda há uma grande parcela da população acreditando que abortar é pecado, outra que tem convicção de que isso é crime, com base no princípio de que o embrião que resulta da união entre óvulo e espermatozóide humanos é um ser humano e que o aborto é, portanto, um homicídio – paradoxos da humanidade, pois num país com tão elevado índice de permissividade ao crime, como o Brasil, a legalização do aborto é rejeitada pela maioria. Há esperança.
Mas o “sim” para o aborto está crescendo e, quando não conseguem escapar dos argumentos que convencem de que esse procedimento não é um direito da mulher, qual é a justificativa que toma força? É aí que fica evidente a genealogia do abortado e, talvez, não só do brasileiro.
Como? Se a ideia de que a mulher é dona do seu corpo, tendo o direito de abortar, não passa, vêm com a justificativa de que inúmeras mulheres fazem aborto clandestino e acabam morrendo ou adquirindo sequelas irreversíveis do ato praticado em condições precárias. Se pesquisarmos profundamente por que essas mulheres procuram o aborto clandestino, provavelmente, encontraremos duas razões principais: primeiro, porque o companheiro não está disposto ou não tem condições para assumir a paternidade e compartilhar o sustento; segundo, porque elas correm o risco de perder o emprego ou as chances de ter uma carreira profissional.
No primeiro caso, embora o casal tenha grande parcela de responsabilidade por não ter tomado precauções contraceptivas, há também a situação horrível em que se vive no país, que não dá condições às pessoas de sustentarem uma família; mas, francamente, sem vitimizações, é o “ator mascarado”, o macho, que é o primeiro a abandonar ou a desencorajar a mulher, em vez de tentar batalhar por uma realidade melhor. Isso desestabiliza o emocional dela que, em muitos casos, já vive oprimida pelo companheiro.
E no segundo caso? É o patrão. Pode ser a patroa, mas esta também está sob as rédeas do sistema que não dá o apoio necessário às mães. São leis que foram feitas por homens para os homens, há muito tempo, e que vêm sendo adaptadas, paulatinamente, mais lentamente do que a mulher tem conseguido sair da “prisão domiciliar”, após muitos esforços reivindicatórios das feministas.
Não é à toa que as mulheres renegam, talvez inconscientemente, a metade paterna do conteúdo genético do embrião, recusando-lhe a identidade de um ser humano, originado da relação dela com outro, querendo dispor dele como bem entender. No fundo, é uma reação à rejeição que elas sempre sofreram dentro do sistema. E a corda sempre arrebenta do lado mais fraco e, nesse caso, é do outro lado da placenta o bebê.
          Sendo favorável ao aborto, a mulher está se colocando do lado do sistema opressor. Este, quando representado pelos homens, na maioria das vezes, nem se dá conta de que oprime nesse sentido, até porque a mulher está tomando para si toda a propriedade do “membro indesejado”.
Há países que oferecem muitos benefícios para a maternidade, como o Canadá – bom lembrar que o motivo não é tão bonzinho assim, há o interesse econômico em incentivar a natalidade, pois o país tem crescimento demográfico insuficiente, vai acabar faltando mão de obra. Mas é por esses benefícios para a maternidade que deveríamos lutar, tanto os homens quanto as mulheres.
Querer resolver os problemas da mulher – que, como já disse, não são exclusivos dela – com o aborto denota uma visão distorcida da realidade; nada justifica o ato de matar um inocente embrião, que é um ser humano.
Pronto, essa discussão levanta a lebre para uma outra. Surge, repentina, a pergunta: - E os embriões de laboratório? Na minha opinião, dá na mesma, melhor não concebê-los, se for para, deliberadamente, depois, matá-los... se não quisermos ficar dependurados nos galhos das árvores genealógicas dos abortados, como ancestrais de um erro.
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sexta-feira, agosto 10, 2018

TV Itacolomi


Vi uma publicação, em rede social, na página da prima Adriana, falando sobre Lamartine Babo num contexto bem carioca. Um pianista e compositor chamado Alfredo Sertã conta a história de como o Lalá compôs os hinos consagrados – embora extraoficiais – para os times de futebol do Rio [1].
O que muitos não devem saber é que Lamartine Babo, já famoso no Brasil inteiro, passou por BH, onde foi atração muito admirada. Sim, na 🎶 TV Itacolomi, canal 4, Belo Horizonte, Minas Gerais 🎶 [2]! Procurei em biografias dele na web e nada encontrei sobre isso. Só fui achar alguma coisa em uma página que fala sobre a TV mineira [3].
Pois me lembro bem dele sentado atrás de uma mesa em frente à câmera, contando anedotas, fazendo trocadilhos e cantarolando suas marchinhas de carnaval. Não me lembro por quanto tempo durou a tal programação em BH, mas também é exigir demais da minha memória. Só pode ter sido entre 1955 – ano em que nascemos a TV Itacolomi e eu – e 1963, que foi o ano em que ele morreu. Contam que Lamartine Babo ia de trem para BH, pois tinha muito medo de avião.
Outros artistas famosos também passaram pela emissora belo-horizontina, nessa época, como Chico Anysio, de cujo personagem me lembro também: o Santelmo. 
          E havia, claro, as produções locais, muito criativas, incluindo teleteatro e programas de auditório. Ao final deste texto, acrescentei alguns depoimentos de pessoas que se lembram da TV Itacolomi.
Naquele tempo, televisão era novidade, tudo era agradável de ver, até mesmo aquela imagem imóvel com a figura de um índio [4], que encarávamos pateticamente durante longo tempo, à espera do início da programação do dia. Quando ela aparecia, substituindo o chuvisco de fora do ar, sabíamos que, a qualquer momento, as transmissões poderiam começar. Os horários não eram muito rígidos, havia muita improvisação.
Depois, fiquei sabendo que imagem semelhante aparecia em todos os lugares e era usada para ajustar as câmeras. Aqui no Canadá, o cartaz também tinha um índio. E meu marido me contou que eles também ficavam olhando para ele, esperando a programação começar 😂.
Nos primeiros anos, as transmissões eram feitas a partir do centro de BH. Quantas e quantas vezes, ajustávamos a antena do aparelho de TV voltada para o lado do Edifício Acaiaca, onde ficavam as instalações da Itacolomi. É... sou antiga mesmo. Isso é do tempo em que a gente falava, brincando e sem acreditar, que um dia talvez conversássemos pelo telefone vendo a pessoa do outro lado.
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Testemunhos que colhi:

- George Lima: “A Itacolomi é um fenômeno, a meu ver, pouco estudado. A garra demonstrada supera qualquer avaliação que não a enquadre como extraordinária. Jornalismo, esportes, shows e dramaturgia. Esta com o Grande teatro Lourdes, Garrafa do diabo...
Tinha uma banda de crianças chamada "Bando dos Cariunas". Aqui em Brasilia tenho uma amiga que tocava acordeon. Maestro Elias Salomé. 

- Luiz Ricardo Amédée Péret: “A TV Itacolomi canal 4 era o meu canal predileto na minha infância. Lembro dos programas Seu saber é pra Valer, Universidade Popular da manhã, desenhos, seriados, programas esportivos como o Bola na Área, Papo de Bola, os Jogos de futebol com o Fernando Sasso, Kafunga, Ronan Ramos...
Curiosidade: Teve na TV Itacolomi um programa que entrevistava casais. O homem e a mulher respondiam as mesmas perguntas, só que separadamente. Aquele casal que as respostas mais coincidiam vencia a competição. Papai e mamãe foram convidados a participarem do programa. E não é que eles venceram....rsrs. Ganharam o prêmio: papai uma gravata importada e mamãe um anel. Isto aconteceu no final dos anos 60. Este programa tinha uma parte musical com participação do Célio Balona.


- José Eduardo de Lima Pereira: “Minha irmã Rosinha, Rosa De Lima Pereira RSCM, protagonizou glorioso episódio nos estúdios da Itacolomi: foi vencedora de uma das rodadas das Sabatinas Maizena, programa produzido e apresentado por Bernardo Grimberg. Toda a família se instalava diante do aparelho Invictus de 21 polegadas para ver a Rosinha responder a todas as questões acadêmicas com aquela fleugma que sempre lhe foi peculiar.”
Bernardo Grimberg

- Célio Balona: “Amigo José Eduardo,tenho de TV Itacolomi,as melhores recordações...Tive dois programas lá,Balona é o Sucesso,aos sábados a tarde e um quadro no A Tarde é Nossa do saudoso Danilo Valle!!!Além disso tudo começou pra mim quando ganhei no programa Confiança no Sucesso o primeiro lugar e fui contratado pela emissora...Bons e inesquecíveis tempos!!!”
 
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