Padre Eustáquio |
Em 30 de agosto celebramos o dia do Padre Eustáquio, nome religioso adotado por Hubertus
(Huub) van Lieshout, um holandês que viveu boa parte da sua vida no Brasil,
como missionário. É venerado em Belo Horizonte, apesar de ter passado pela
capital mineira por pouco tempo, de abril de 1942 a agosto de 1943, quando
faleceu de febre maculosa, transmitido por carrapato, segundo o que se sabe.
Missionários
são verdadeiros heróis. Geralmente, são enviados, por suas congregações, a
lugares muitas vezes inóspitos, por variados motivos, para converter populações
pagãs. Após cursar filosofia e teologia, cumpriu um curto período de missão na
Holanda, sendo depois despachado, com mais outros dois, em 1925, para os
rincões bravios de Minas Gerais. Aí iniciou sua saga no Brasil, num lugarejo chamado "Água Suja",
onde o povo era “formado em sua maioria por garimpeiros que tudo
perdiam com a mesma facilidade com que ganhavam, e cuja vida atribulada — com
frequência miserável — provinha da irreligiosidade, da dissolução e do crime”, segundo as palavras de Pe. Venâncio Hulselmans, em
seu livro “Padre Eustáquio van Lieshout SS.CC.”.[1]
O livro diz ainda que o
lugarejo “surpreendeu os sacerdotes sob
vários aspectos. Não se continham de estupefação ao ver como aquele povo, ao
mesmo tempo que possuía uma devoção que chegava às raias do entusiasmo, em
particular a Nossa Senhora d’Abadia, tinha uma conduta de vida diametralmente
oposta àqueles sentimentos. Cumpria mudá-la.” O sacerdote chegou a sofrer ameaças, mas não se intimidou, acabando por
domar os incivilizados, com vigor e virtude. Ajudava a população desassistida,
com o uso de folhas e raízes que ele próprio colhia e preparava para remediar
males. A fama de santo milagreiro começou a se espalhar e, quando sua
congregação resolveu transferi-lo para São Paulo, a população local tentou impedir
sua saída.
Em
1935, foi, afinal, transferido para Poá, em São Paulo. Lá continuou a operar
curas e conversões, com suas bênçãos das águas e no confessionário. Sua fama aumentou tanto
que começaram a fazer romaria na cidade, provocando muito tumulto. Por esta
razão, as autoridades decidiram afastá-lo. Padre Eustáquio chegou a escrever
uma carta ao Arcebispo de São Paulo, dizendo: “Eis aí a
santa vocação que em mim sinto: aliviar as dores corporais para poder avivar a
fé abalada de nossos tempos.” Mas não conseguiu convencê-lo. Ficou recluso por um tempo, no Rio de
Janeiro, com recomendação do Cardeal Dom Sebastião Leme de que suas bênçãos se processassem
discretamente e sem publicidade de eventuais fatos extraordinários.
Estava, por exemplo, proibido de curar paralíticos. [1]
Parece piada, mas não é. Em
vez de avaliar o caso cautelosamente, simplesmente puseram de lado um indivíduo
que estava conseguindo a conversão de milhares de pessoas. O que queria,
finalmente, a cúpula da Igreja Católica? Não foi isso que Jesus disse aos
apóstolos, que eles fariam prodígios em nome dEle?
Também no Rio, a multidão
acorreu a ele, levando o Cardeal Leme a praticamente expulsá-lo da cidade. Foi
abrigado por amigos em uma fazenda no Estado de São Paulo e, finalmente, a
pedido do Arcebispo de Belo Horizonte, Dom Antônio dos Santos Cabral, foi
transferido para Belo Horizonte, em abril de 1942. Por ordem de superiores,
teve seu apostolado reduzido, com horários limitados. Mesmo assim, o povo de
Belo Horizonte recebeu muitas bênçãos e muitos milagres são relatados.
Muitos
belo-horizontinos contam histórias de prodígios que se operavam através do
Padre Eustáquio, com relatos de curas e conversões. Os milagres continuaram e
parece que continuam ainda a se processarem por seu intermédio [2]. Por onde passou,
deixou sua marca de santidade, aclamada pelo povo. Foi beatificado em 2006 e há
processo em andamento para a sua canonização. [3]
São
muitos os casos contados pelo povo, sobre a personalidade "carismática" do Padre
Eustáquio, que tocava os corações, até nos mínimos gestos. Meu pai contava que,
certa vez, estava caminhando por uma rua de BH, com um de seus irmãos, quando
avistaram, ao longe, Padre Eustáquio, também a pé, indo na direção oposta ao
lugar onde estavam. – Olhe, não é o Padre
Eustáquio? – perguntou um ao outro – Poderíamos ir pedir-lhe uma bênção.
Neste mesmo instante, o padre voltou-se e fez o Sinal da Cruz em direção a
eles.
Com
minha mãe, que também era muito devota dele, houve uma espécie de manifestação
em dois sonhos, já alguns anos após a morte do sacerdote. Ela tinha perdido o
primeiro filho, recém-nascido, e sonhou com o padre que lhe dizia que ela
perderia um filho. Ela dizia que já tinha perdido um e perguntava se era desse
que ele estava falando. Ele não respondeu, nem sim nem não.
Outro
episódio interessante que ocorreu com meus pais foi que, também em sonho, o
Padre Eustáquio disse à minha mãe que ela teria sete filhos. Sem que ela
tivesse comentado nada sobre isso, meu pai deu a ela um presente – não sei se
no dia seguinte, ou dias depois: uma peça de louça com sete criancinhas
pintadas; e perguntou se não seria uma boa conta. Ela ficou impressionada
porque era o mesmo número do sonho.
Naquele
tempo, as famílias católicas não evitavam filhos, viessem quantos viessem.
Pois, anos depois, após finalizada a produção da “fábrica”, minha mãe
lembrou-se dos sonhos e constatou que estavam certos. Ela teve sete filhos,
contando com os dois que morreram pequeninos. Sim, ela teve um outro que morreu
recém-nascido – uma menininha. Coincidências estranhas... Sinais para ajudar a
fortalecer a fé?
A
tradicional saudação do Padre Eustáquio era “Saúde e Paz - Saúde para
vossos corpos, Paz para vossas almas.” [4]
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[2] https://www.youtube.com/watch?v=6wnXr8N6T74
[3] http://www.vatican.va/news_services/liturgy/saints/ns_lit_doc_20060615_eustaquio_po.html
[3] http://www.vatican.va/news_services/liturgy/saints/ns_lit_doc_20060615_eustaquio_po.html
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