Podemos até pensar que fazemos o que
bem entendemos, mas nem sempre ouvimos o que entendemos, muito menos entendemos
o que ouvimos. Pronto, já me confundi toda. O jeito é rir. E para rir por
escrito, em português do Brasil, já não se usa muito o famoso riso anserino quaquaquá.
Mas continuamos navegando nas ondas da moda.
O usuário de redes sociais está todo
risos em versão abreviada – rsrsrs, ou onomatopeica
– kkkkkk; esta última bastante perigosa se formos econômicos no número de
letras k, deixando só três, por exemplo; pessoas de outras línguas poderão não
achar muita graça. Um amigo de rede social já me perguntou, certa vez, porque
meus amigos brasileiros repetiam tanto a sigla daquela organização supremacista
branca americana.
Ainda há os mais antigos na internet, como eu,
que optam pelos hehehe ou hahaha, sem esquecer o famoso “LOL” – “laughing out
loud” – explicando para quem pegou o bonde andando, sem saber onde cantava o galo. Mas tudo
isso tende a ficar obsoleto, para dar lugar às inúmeras imagens icônicas.
Muito interessante também é a
interpretação dos latidos de cães. Aqui no Canadá, eles fazem "woof,
woof". No Brasil é "au, au". Em
Portugal é “ão, ão”; saudações ao português Francisco Santos, que explicou isso
muito bem: “Em Portugal é ão, ão, sem dúvida. Até porque o animal chama-se cão.
O cão faz ão, ão :-)”.
Uma amiga chinesa disse que na China
eles fazem "uã, uã"... Se repetir muitas vezes, fica igual ao cachorro
português. Torna-se imperativo que latam, por favor, e constatarão. Como tem
mais chinês que tudo no mundo, ganharam o “dog voice” os cães chineses e portugueses
por maioria absolutíssima... cain cain cain
Mas para espirrar é que são elas.
Devo confessar que não consigo espirrar em francês, que é a língua que falamos
em casa. Já tentei, em vão. Acho tão engraçado o som do espirro ser diferente
conforme a primeira língua que falamos. [1] Quando eu espirro, meu marido morre de rir e
diz que eu falo "catchim". Sempre
achei que eu espirrava "atchim"... hahaha. Os francófonos espirram "atchoum" (som de 'um'
no final).
Mas nem
sempre fala-se alguma coisa ao espirrar. Na casa de meus pais, a ala feminina
esteve bem representada com gradações de espirro de um extremo a outro. Minha
mãe, quando espirrava, parecia que uma porta tinha batido com a força de uma
ventania (observação do meu pai); nem "atchim", nem nada que se pareça com alguma
representação fonética. A gente levava muito susto, era forte. Não dava para ver – ainda bem – mas o que era para
ser posto para fora, devia ser eliminado no ato. Acho que é por isso que ela
raramente tinha gripes ou resfriados (este é um comentário puramente leigo). O
meu espirro é um "mini" do da minha mãe, mas para quem nunca ouviu o
dela, dá para causar sobressalto.
Minha
irmã não emitia som algum: o extremo oposto da minha mãe. A gente só sabia que
ela tinha espirrado, porque não sei quando, alguém perguntou o que era aquilo e
ela contara que era um espirro... hahaha. Não estou exagerando, ela só fechava
os olhos e dava um discreto arranco com o tórax. Se eu tentar fazer isso, sai
pelos tímpanos, com perfuração total, bilateral.
Não posso
me esquecer deste: disse um amigo que mora na Inglaterra (alô, João Magalhães)
que o espirro dos escoceses tem o som "whiiiiskey" :-).
Não é o meu caso, mas já
imaginou você em um outro país, falando perfeitamente um idioma, como um nativo, satisfeito por
ninguém perceber que você é estrangeiro, e vem aquele espirro inesperado...
Duvido que alguém consiga disfarçar. Nem um “brasilianista” (isso ainda existe?) dos mais treinados
vai conseguir me enganar com um “atchoum”... Ah, isso é que não.
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