sábado, setembro 22, 2018

Espirros, risadas e latidos



Podemos até pensar que fazemos o que bem entendemos, mas nem sempre ouvimos o que entendemos, muito menos entendemos o que ouvimos. Pronto, já me confundi toda. O jeito é rir. E para rir por escrito, em português do Brasil, já não se usa muito o famoso riso anserino quaquaquá. Mas continuamos navegando nas ondas da moda.
O usuário de redes sociais está todo risos em versão abreviada – rsrsrs,  ou onomatopeica – kkkkkk; esta última bastante perigosa se formos econômicos no número de letras k, deixando só três, por exemplo; pessoas de outras línguas poderão não achar muita graça. Um amigo de rede social já me perguntou, certa vez, porque meus amigos brasileiros repetiam tanto a sigla daquela organização supremacista branca americana.
Ainda há os mais antigos na internet, como eu, que optam pelos hehehe ou hahaha, sem esquecer o famoso “LOL” – “laughing out loud” explicando para quem pegou o bonde andando, sem saber onde cantava o galo. Mas tudo isso tende a ficar obsoleto, para dar lugar às inúmeras imagens icônicas.
Muito interessante também é a interpretação dos latidos de cães. Aqui no Canadá, eles fazem "woof, woof". No Brasil é "au, au". Em Portugal é “ão, ão”; saudações ao português Francisco Santos, que explicou isso muito bem: “Em Portugal é ão, ão, sem dúvida. Até porque o animal chama-se cão. O cão faz ão, ão :-)”.
Uma amiga chinesa disse que na China eles fazem "uã, uã"... Se repetir muitas vezes, fica igual ao cachorro português. Torna-se imperativo que latam, por favor, e constatarão. Como tem mais chinês que tudo no mundo, ganharam o “dog voice” os cães chineses e portugueses por maioria absolutíssima... cain cain cain
Mas para espirrar é que são elas. Devo confessar que não consigo espirrar em francês, que é a língua que falamos em casa. Já tentei, em vão. Acho tão engraçado o som do espirro ser diferente conforme a primeira língua que falamos. [1] Quando eu espirro, meu marido morre de rir e diz que eu falo "catchim". Sempre achei que eu espirrava "atchim"... hahaha. Os francófonos espirram "atchoum" (som de 'um' no final).
Mas nem sempre fala-se alguma coisa ao espirrar. Na casa de meus pais, a ala feminina esteve bem representada com gradações de espirro de um extremo a outro. Minha mãe, quando espirrava, parecia que uma porta tinha batido com a força de uma ventania (observação do meu pai); nem "atchim", nem nada que se pareça com alguma representação fonética. A gente levava muito susto, era forte. Não dava para ver ainda bem mas o que era para ser posto para fora, devia ser eliminado no ato. Acho que é por isso que ela raramente tinha gripes ou resfriados (este é um comentário puramente leigo). O meu espirro é um "mini" do da minha mãe, mas para quem nunca ouviu o dela, dá para causar sobressalto.
Minha irmã não emitia som algum: o extremo oposto da minha mãe. A gente só sabia que ela tinha espirrado, porque não sei quando, alguém perguntou o que era aquilo e ela contara que era um espirro... hahaha. Não estou exagerando, ela só fechava os olhos e dava um discreto arranco com o tórax. Se eu tentar fazer isso, sai pelos tímpanos, com perfuração total, bilateral.
Não posso me esquecer deste: disse um amigo que mora na Inglaterra (alô, João Magalhães) que o espirro dos escoceses tem o som "whiiiiskey" :-).
Não é o meu caso, mas já imaginou você em um outro país, falando perfeitamente um idioma, como um nativo, satisfeito por ninguém perceber que você é estrangeiro, e vem aquele espirro inesperado... Duvido que alguém consiga disfarçar. Nem um “brasilianista” (isso ainda existe?) dos mais treinados vai conseguir me enganar com um “atchoum”... Ah, isso é que não.

[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Espirro#Em_outros_idiomas

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