Completamos 19 anos de
casados. Nosso casamento foi um tanto folclórico, primeiro porque nos conhecemos
já "idosos" e nos casamos o Léo com 51 e eu com 44 anos. Fez um calor
de rachar! O noivo queria ir de bermuda, eu que não deixei. Mas foi de sandália, daquelas mais fechadas, mas sandália. E ficou bem
contente quando viu que o padre também estava usando, e bem parecidas com as
dele. A camisa era
cor de rosa, de mangas curtas, calça branca e a gravata com um violino
estampado.
Fui
vestida sobriamente, com uma linda blusa em crochê que ganhei de minha cunhada,
Sarah, e uma saia que comprei por aqui mesmo, tudo num tom bege bem clarinho, como
um linho cru quase branco, os sapatos da mesma cor. O colar que usei me foi
emprestado por outra cunhada, Clélia. Os outros acessórios eu já tinha, brincos
de pérola, anel de noivado na mão direita e só. A maquilagem, eu mesma fiz. Um bom bronzeado não podia faltar, testei o verão nórdico, em preparação para o dia, e obtive bom resultado, para bem representar o meu Brasil, nesse quesito, e a roupa branca ajudou no contraste.
Nada
de véu e grinalda, não conseguia imaginar-me assim. De véu já bastaram os que
usei na infância – sim, eram obrigatórios na igreja, naquele tempo. Usei meus
cabelos mesmo, num coque simples, um pouco mais elaborado do que aquele que eu
costumo fazer, pois minha cunhada me ajudou. Mas já fui logo avisando que não
queria coque de “Miss Venezuela”. Não sei se ainda há Miss Venezuela, do jeito
que o país vai mal, hoje em dia, mas as moças lá são muito bonitas. No meu
caso, não sendo nenhuma “Miss Brasil”, quanto menos chamasse a atenção, melhor.
Uma
prima, Lurdinha, tinha me emprestado um vestido lindo dela, para que eu usasse
no casamento. Mas, após um mês de Canadá, eu não cabia mais na roupa. Soube de
gente no Brasil que, ao ver o filme e as fotos do meu casamento, pensou que eu
estava grávida. Não é que eu estivesse gorda, é que estava bem magra antes, e a
mudança nos horários e tipos de alimentos pesou na balança.
Fizemos
tudo da maneira mais simples possível, não tínhamos contratado nenhum fotógrafo
nem cineasta... e tivemos dois filmes ótimos e fotos de todos os ângulos
possíveis e imagináveis. Minha mãe e minha irmã tinham pedido muito que filmássemos,
pois elas não poderiam vir. Então, tudo de improviso, ao chegar na igreja, Léo
entregou sua câmera a um amigo e pediu para filmar. O outro filme foi meu
concunhado que fez.
Os
amigos do Léo fizeram questão de registrar o evento com fotos, pois ninguém
imaginava que ele se casasse um dia, muito menos na igreja, menos ainda com uma
brasileira. Casar e mudar também não estava nos meus projetos e, afinal, acabei
"desencalhando". Meu irmão, Chico Lima, e minha cunhada, Clélia, foram meus padrinhos
de casamento, eram os únicos brasileiros presentes. Eles também tiraram ótimas
fotos.
Uma
coisa que me deu um susto – bom, diga-se de passagem –, logo na chegada, foram
os sinos tocando. Aqui é de praxe, quando a noiva chega. Nós chegamos juntos,
achei ótimo. Não foi a chegada da noiva que foi aguardada, foi a do pai do noivo, que acabou
não aparecendo.
Quando
voltamos da igreja, alguns de nossos vizinhos estavam nas laterais da rua, cada
qual na frente da sua casa, acenando com lencinhos para o carro onde estávamos
e o cortejo atrás, buzinando... Foi “buzinaço” intermunicipal, desde a cidade
de Saint-Pie até chegarmos em casa, em Acton Vale.
Os
convidados foram poucos, só parentes próximos e amigos mais chegados do Léo. O méchoui que ele encomendou estava uma
delícia, muito bem servido. Uns músicos da vizinhança vieram tocar à noite, eles
que se ofereceram, fomos de sorte! Foi uma festança ao ar livre até de noitão,
com fogueira e muita alegria.
Hoje,
revendo as nossas fotos, fiquei pensando como o tempo passou depressa mas, sob
outro aspecto, como esse passado está tão longe. Como dizem aqui, “pas drôle vieillir”, mas pode ser bom
também.
Como todo mundo, passamos
por alegrias e tristezas, por dias mais difíceis, outros mais fáceis. Uma de
minhas cunhadas canadenses já me perguntou, várias vezes – este ano de novo –
qual é o segredo para manter o casamento por tantos anos. Não sei, não tenho
nenhuma receita mágica, nunca respondi, mas isso me fez refletir. A primeira coisa que me ocorre é que aprendi muito e continuo aprendendo com a vida a dois.
Penso que nos ingredientes
da receita deve haver amor, amizade e humor, com respeito mútuo e compromisso
com a verdade – sempre; sem faltar romantismo e sensualidade, obviamente, isso
não tem idade. Bater, nem no homem nem na mulher, sequer com uma flor – nunca, au grand jamais! Não consigo me imaginar numa situação dessa, seria o fim de tudo, imediatamente. É preciso ter ajuda mútua, cada um
cedendo um pouco aqui e ali. Uma boa pedida também é praticar aquele velho e
sábio ditado: “Quando um não quer, dois não brigam”, à chacun son tour. Melhor ser o primeiro a calar a boca e, quando
os dois usam a técnica, às vezes dá um silêncio... Depois que baixar a poeira,
é bom não deixá-la ali muito tempo, que o vento pode levá-la, e é a gente que
tem que fazer a faxina – não usar palha de aço, pode arranhar para sempre.
Dito assim, parece fácil. Não
é. Tudo tem que ser cultivado para crescer e se tornar grande. Tem-se que
aprender a conjugar o verbo perdoar em todos os tempos e modos. Conseguir essa
façanha é muito gratificante e resulta em incontáveis benefícios. Pronto, cá
estou eu a dar conselhos para casais. Desculpem-me. Cada um sabe o que é melhor
para si mesmo, não é? E o melhor para uns pode não ser para outros. Penso que
vou continuar sem responder à pergunta da minha cunhada.
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L'amour est bleu
20e anniversaire de mariage (em francês)
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