sexta-feira, abril 23, 2021

Cartinha para minhas sobrinhas em 2001

 

Foto enviada por Leonídia a Maria do Carmo,
pela internet, em 31/01/2000.


Cartinha para as sobrinhas mais novas, enviada pelo correio, em setembro de 2001, pouco tempo após a morte de minha irmã.

Para Laura e Júlia

Acton Vale, 20 de setembro de 2001

                Minhas queridas sobrinhas,

                Estou escrevendo esta cartinha para vocês lerem quando forem grandes. O meu intuito é transmitir-lhes o que sei sobre a sua tia, uma pessoa extraordinária, que vocês não puderam conhecer de verdade, pois eram muito pequenininhas quando ela morreu. Foi muito triste para todos nós e ela nos faz muita falta. Como ela foi e continuará a ser um exemplo a seguir, sinto-me na obrigação de contar-lhes um pouco sobre a sua vida. Assim você, Júlia, conhecerá um pouco melhor a sua madrinha e você, Laura, minha afilhada, terá uma contribuição minha no conhecimento da tia Lé, modelo inigualável.

Vocês, sobrinhas que eram para ela como verdadeiras netas, como ela própria dizia, por se considerar um pouco mãe do seu pai, que ela admirava muito e de quem gostava demais, juntamente com sua mãe.

Maria Leonídia Rodrigues Vieira nasceu em 23 de abril de 1950 e morreu de câncer, aos 29 de abril de 2001, em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Mamãe, vovó Teté, sempre contou que ela nunca deu trabalho, nem para nascer, pois no seu parto ela saiu sozinha, sem nenhum esforço, para surpresa do médico, que teve que correr para segurar sua cabecinha, que "escorregou" para fora. Já aí começou sua característica independência, traço importante de sua personalidade.

Desde a infância já mostrava sinais de bondade e inteligência: cuidava da casa desde pequena e, nos estudos, era sempre exemplar, além de líder nata entre os colegas de escola. Desde cedo, também, manifestou sua incrível habilidade na redação, com pensamento claro e objetivo. E, aqui, lembro-me de uma particularidade: tinha uma letra que jamais vi tão perfeita.

Após terminar o curso Normal, foi ser professora primária, atividade em que trabalhou até que fez um concurso para o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, onde começou como oficial judiciário, no Serviço de Pagamento. Sempre gostando muito de estudar, formou-se em Letras e, depois, em Direito, tendo recebido vários prêmios de melhor aluna, entre eles o mais importante, o Prêmio Rio Branco. Sem falar nos concursos que fez, obtendo sempre o primeiro lugar.

No entanto, nunca se gabou de suas qualidades e talentos. Tinha, mesmo, aversão a elogios. Mas a sua sabedoria transbordava tanto que não podia passar despercebida. No seu trabalho, foi convidada a ocupar cargos importantes e de muita responsabilidade. Foi escrevente, depois escrivã, depois assessora da Presidência do Tribunal de Justiça. Sempre muito querida por seus colegas e superiores.

Sua diversão era tocar violão, cantar e ler. Às vezes, passava horas a ler trechos de livros para o papai, o vovô Yvon, que era uma pessoa muito culta. Os comentários que eles faziam, nestes momentos culturais, eram verdadeiras aulas para nós. Ela não gostava muito de sair de casa, a não ser para trabalhar, estudar e ir à Igreja, o que lhe tomava muito tempo. Talvez por isto, quando tinha um tempo livre, preferia ficar em casa, desfrutando do convívio familiar. Era uma pessoa muito educada e delicada, incapaz de magoar quem quer que fosse, mesmo em detrimento de seu próprio bem-estar.

Ser sobrinha da tia Lé era algo muito especial. Conversem com suas primas, Ana Clara, Clarissa e Luisa. Elas poderão, melhor que eu, contar-lhes o que foi essa experiência. Experiência esta que vocês duas tiveram também, mas muito provavelmente não deverão-se lembrar com o passar do tempo.

Mas no que mais a tia Lé se destacou foi no amor ao próximo, que não se limitou aos familiares, que tiveram o privilégio de conviver com ela e por ela foram muito ajudados em todos os aspectos. O seu amor estendeu-se a toda a humanidade, representada pelas crianças e adultos, a quem ela ensinava o catecismo na sua Paróquia e nas favelas, ansiando por um mundo cristão. Dedicou-se exaustivamente a esta tarefa, que julgava de suma importância.

Eu sei quanto ela gostaria de poder ter convivido por mais tempo com vocês, para transmitir-lhes o que sabia e vê-las crescerem em bondade e beleza, no caminho único e verdadeiro que leva à VIDA, que é JESUS. Por isto peço-lhes que guardem-na no seu coração, com carinho e confiança, pois de onde ela está, no mistério da eternidade, que costumamos chamar de "céu", ela está olhando por vocês e por todos nós.

            Da sua tia que as ama muito,

            Maria do Carmo (Tia Du).

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Link original:

https://mcvieira.tripod.com/leonidia.htm








 

quinta-feira, abril 22, 2021

La guitare avatar

 

Português

Ceci est la traduction d’un texte que j’ai écrit en décembre 2017. Je veux laisser cette petite histoire aussi en français, car je vais donner ma guitare à quelqu’un de la famille de mon mari - une forme de lui rendre hommage. C'est aussi un hommage à ma sœur, pour sa fête demain, 23 avril – elle aurait 71 ans. Elle serait contente de savoir que ma guitare avatar aura enfin quelqu'un qui saura en faire bon usage.

Ma sœur et sa guitare
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-        Qui joue à la guitare ici ? – quelqu’un m’a demandé. Mon mari ne joue pas, moi non plus.

Mais nous en avons une chez nous, avec une histoire spéciale. J’ai déjà pensé à vendre ou la donner, mais elle ne veut pas s’en aller. C’est une sorte d’avatar qui représente part de l’histoire de ma vie.

Elle reste dans son coin, en silence, dans sa boîte originale, telle comme quand je l’ai achetée. Parfois, quand je suis seule à la maison, elle sort toute désaccordée et me demande de l'ajuster – si, je sais faire cela, je l'ai appris quand j'étais petite. Je profite de ces moments pour chanter des chansons d'autrefois, qui m'emmènent des souvenirs. Mais ce n'est pas long que je cède aux douleurs de mes mains laïques en musique, et l'avatar revient à son rangement, protégé de la poussière.

Enfant encore, j'ai appris avec mon père des accords très simples, pour accompagner une chanson folklorique que je n'entendais chanter que pendant mon enfance, jusqu'à mon adolescence, et puis plus jamais. Le max que j'ai réussi à évoluer dans cet art, c'était d'appliquer ces accords aux comptines et berceuses. Et puis, en regardant ma sœur et en essayant de l'imiter, j'ai réussi à rendre mes doigts un peu moins rouillés, ils ont même commencé à former des callosités aux extrémités – après beaucoup de douleur. Mais l'effort a été vain, je manquais d'agilité, je manquais de talent. Il ne me restait qu'à chanter dans la sphère domestique, en chœur avec d'autres, donc mes échecs n'étaient pas en évidence.

« À quelque chose malheur est bon »... J'explique. C'est parce que je reçois des compliments de mon mari, il dit qu'il aime m'écouter, quand il me surprend en flagrant délit. Je considère cela comme une preuve d'amour, je suis chanceuse. Mais j'évite d'insister sur le mal... il peut changer d'avis.

Revenons à l'histoire de l'avatar... Un mois après la mort de ma sœur, je suis retournée chez nous au Canada. Ma mère, mes frères et moi – je ne me souviens plus qui a lancé l'idée, peut-être moi-même – nous avons tous convenu que la guitare de ma sœur viendrait avec moi. Mais elle ne voulait pas s'exiler, la possibilité de voyager si loin de son amie de tant de moments joyeux et sacrés a été rejetée. Lorsque j'étais au « check in », on m'a empêché d'entrer dans l'avion avec l'instrument. Il devrait aller dans le compartiment à bagages. Je ne voulais pas que la guitare traverse cette expérience, j'avais peur qu'elle se blesse. J'ai préféré la laisser avec ma famille.

J'étais triste, comme si un autre morceau de ma sœur se déconnectait de moi. S'il y avait encore des pleurs à verser, si des larmes avaient été retenues auparavant, elles se sont effondrées pendant le voyage. Cela a été cathartique.

J'ai repris ma vie. Un jour, lors de mes promenades, je me suis retrouvée devant un magasin de musique. Il y avait toutes sortes d'instruments à vendre. Même si je me demandais à quel point ce serait utile, j'ai acheté une guitare – l'avatar.

Cela n'explique peut-être pas logiquement pourquoi j'ai l'instrument chez moi, ça a l'air excentrique. Mais, comme dit le dicton: Ça prend toute sorte de monde pour faire un monde.

 

Ma sœur et sa guitare

segunda-feira, abril 19, 2021

Desacralization

 

Your dictionary
Français

Português

Another church sold in the province of Quebec [1]. It is more and more frequent. This news touched me to the heart, because it is our Great Love which is being taken away from our lives, the churches emptied and sold. The parish priest will be responsible for the desacralization, he must bring the Blessed Sacrament to another church. Very sad.

I could not help but make the comparison with the preparation of my move. It made me sad. I am too emotional in this phase of mourning, emptying our “sanctuary of love”, the house where we have lived together for over 21 years, my husband and me. I am also desacralizing our home. It hurts my heart to see each thing going away . Even if it is to donate to those in need, or to whom it will be more useful, this activity makes me very distressed.

Our human love, in this world, although being natural, also has something sublime, sacred, supernatural, in the image and likeness of the infinite Love of God. It comes from Him.

According to the mentioned canon [2], if the church can no longer be used for divine worship, then it is better to protect the Blessed Sacrament by transferring it to another church. Likewise, I protect our love, giving a humanitarian destiny to my husband's personal belongings and the items in our house.

Now, I am the “tabernacle” of our love, in this world; I carry this treasure in my heart. Thanks to Rowena, Inez, JC, JEduardo and Maria AB, who helped me welcome the sadness that struck me with this news, in this heartwarming thought. Thank you to all who have communicated with me, in one way or another, in response to my anxieties, I'm not feeling alone on this journey.

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Related links :

[1] Désacralisation

[2] Can. 1222

[3] Your dictionary