segunda-feira, setembro 30, 2019

A mala e o que nos faz odiá-la


Recente extravio de malas em viagem de familiares meus à Europa e a crônica de Claudia Valle (Malas para mulheres – ver link ao final) relembraram-me minhas peripécias, ora engraçadas ora não muito.
Não foi à toa que adjetivaram o substantivo mala para definir pessoas enjoadas, chatíssimas. Que coisa aborrecida e cada vez mais problemática. Meu desgosto por malas foi gradativamente aumentando à medida que as regulamentações foram sendo modificadas em função da segurança em aviões. Concomitantemente, meu gosto por viajar vem diminuindo numa proporção bem próxima.
Nunca fui de viajar muito. Quando viajava, não era por longos períodos, a mala não precisava ser muito abastecida. A primeira vez que fiz uma viagem mais longa foi para encontrar e conhecer meu namorado virtual, hoje meu marido. Dessa vez, confesso que exagerei com as malas. Para ser sincera, nem foi porque ia demorar mais tempo, foi porque precisava de muitos acessórios, pois não queria fazer má figura, queria aparecer bem na fita, como se diz.
Eu tinha, na época, um conjunto de malas, incluindo uma encantadora frasqueira – gostava de arrumar mala, sobretudo a frasqueira. Pus na bagagem quase todas as minhas melhores roupas, para todas as ocasiões, todas as possibilidades, sapatos e bolsas combinando com cada indumentária, sem esquecer de toda a tralha que se pode encontrar num toucador ou penteadeira. Eram duas malas, uma grande e outra enorme, a frasqueira, além de minha bolsa normal. Sim, normal, porque as outras, reconheço hoje, não eram normais, podiam ser categorizadas como “estou de mudança”.
Primeiro encontro, o pretendente também queria fazer bonito, não poupou esforços – realmente necessários – para levantar as malas na hora de pôr no porta-malas do carro, recusando minha ajuda. Sem papas na língua, ele me perguntou se eu tinha colocado rochas lá dentro.
Mal sabia eu que ia passar minhas férias numa zona rural, visitando fazendas e florestas, na primavera do Canadá, que revelou-se um inverno rigoroso – ainda não sabia da missa a metade. Resultado: as malas voltaram para o Brasil quase intactas, a maioria das roupas sequer foi desdobrada.
Aprendi a lição e passei a usar malas cada vez menores, mas ainda despachava, além das roupas, objetos que não podiam mais entrar no avião, por medida de segurança. Depois de ter quase perdido duas que tinham sido despachadas, reduzi ainda mais, levando somente bagagem autorizada para ir dentro do avião. Se precisasse de alguma coisa a mais, compraria no local de destinação.
Pois não é que, na última vez em que fui ao Brasil, em junho/2015, tive problemas mesmo com minha bagagem de mão? Quando fiz o check-in, um funcionário da companhia aérea mediu minha mala no gabarito e disse que estava tudo correto, de bom tamanho, liberou. Já dentro daquele túnel que desemboca na porta da aeronave – passenger boarding bridge – estava lá uma funcionária da companhia com um outro gabarito, com medidas diferentes, parando todo mundo para medir de novo. A minha não passou no teste, por milímetros a mais na largura. Tive que deixá-la com a funcionária, para ser despachada, e ela me deu um ticket para recuperar a bagagem. Tudo na correria, causando stress em todo mundo. Tinha mãe de criança pequena abrindo mala para retirar roupas e outras coisas que poderiam ser necessárias durante o voo, outros passageiros pareciam meditar, tentando lembrar o que tinham colocado dentro de suas malas, que pudessem precisar. Era uma viagem longa e, de repente, todo o planejamento feito estava indo por água abaixo.
Dá muita raiva! A gente desanima de viajar de avião. Sem falar nas histórias escabrosas que passam nos noticiários. Enfim, todo cuidado é pouco, a gente tem que prestar muita atenção nos tickets, para não levar gato por lebre, ficar atento a tudo. E manter a calma, porque tem outra: se ficar nervoso, eles tiram o passageiro do avião, com polícia e choque elétrico.
Pensar que antigamente os serviços de aeroporto e das companhias de aviação eram impecáveis, com gentileza a toda prova! Atualmente, nem a pontualidade, que era rigorosamente respeitada, não existe mais.
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sábado, setembro 28, 2019

Não tem registro

Publicity photo of the CBS television  
series Lost in Space. Public domain.
About the photo, click here.



Um amigo nosso que trabalhou com programação de computador, em alto nível, agora aposentado, contou que recebeu um telefonema de uma companhia que lhe oferecia serviços de telefonia, com uma conversa aparentemente normal. Num dado momento, ele suspeitou que poderia estar conversando com uma “inteligência artificial”, coisa que, segundo ele, vem-se tornando cada vez mais difícil de perceber. Para ter certeza de que estamos conversando com uma espécie de “avatar” de computador, ele sugere que demos uma resposta inusitada, inesperada, ou simplesmente que não respondamos às perguntas. A reação do interlocutor nos dará uma ideia mais exata de quem ele realmente é.
As gerações atuais estão nascendo com este desenvolvimento tecnológico já viável, quase banalizado. É no mínimo fascinante, sobretudo para gente da minha geração, que assistiu a filmes de ficção científica nos quais isso acontecia e que parecia ser algo muito distante no futuro. Chegamos àquele futuro.
Quem da minha “era” não se lembra do engraçado seriado americano “Lost in space”, nos anos 1960, com a família Robinson e o famoso robô, “aquela lata enferrujada” – um dos inúmeros insultos que lhe dirigia o não menos famoso Dr. Smith. Diante do imprevisto, o robô dizia: “Não tem registro, não tem registro”. Eu gostava da sinceridade lógica/científica, algo ingênua, do personagem robótico. Há um remake recente do seriado, não o conheço.
Como será que as “inteligências artificiais” atuais reagiriam a situações inusitadas? Eles estão cada vez mais inteligentes! O meu receio é de que sejam cada vez mais capazes de imitar o comportamento humano.

terça-feira, setembro 24, 2019

Jesus entre os doutores


Relendo o episódio de Jesus perdido e encontrado no Templo entre os doutores e os comentários de estudiosos sobre o assunto, achei tão interessante... de novo! Há vários aspectos fascinantes, a meu ver, com todas as hipóteses aventadas e conclusões tiradas.
O ponto que mais chama a minha atenção é o fato de ter sido, ao que tudo indica, Nossa Senhora, a mãe de Jesus, quem narrou os acontecimentos ao evangelista; ele fez um trabalho de coleta de informações precioso, resultando nessa ótima “reportagem”, que nos dá uma ideia de como Jesus era antes de iniciar sua vida pública, um jovem voltado ao conhecimento, que “crescia em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens.” (Lc 2, 41-52).
Minha mãe era uma boa contadora de casos, sobretudo quando se tratava de um caso sagrado. E neste em especial, ela demonstrava empatia com a narração de Maria; um caso típico que qualquer mãe contaria com o devido realce. Lembro-me dela lendo e narrando esta passagem para nós, quando éramos pequenos, transmitindo a aflição de perder um filho de vista, naquelas circunstâncias. Como num filme, eu via José e Maria, ao darem falta do Menino, procurando-o por toda parte, fazendo a longa viagem de volta a Jerusalém, e o alívio ao encontrá-lo no Templo, entre os doutores, estes maravilhados com Seus conhecimentos.
E que orgulho sentia pela Sabedoria daquela “Nossa” criança, o que me levava a eliminar qualquer possível falha dEle em não ter-se juntado à família em viagem, principalmente pelo fato de estar cuidando das “coisas do Pai”. Essa experiência nos ensina que Deus está acima de tudo, até mesmo da submissão aos pais da Terra; ao mesmo tempo, fica bem claro que Jesus também era obediente a eles, por isso mesmo dava supremo valor “às coisas do Pai”, como José e Maria davam.
Tem-se disseminado muito, hoje em dia, a ideia que dilui Deus no cosmo, como se fosse apenas algum elemento imiscuído em tudo e não um ser com vontade própria o ser ("Eu sou aquele que sou"). E nesse caminho, perde-se Jesus de vista, bem como sua Divindade – perdemo-nos, nós mesmos. Pela internet, aprendi uma oração muito interessante. Ela pega a deixa desta passagem no Evangelho de Lucas e a aplica aos nossos momentos de busca, rogando a Maria e José que nos ajudem a encontrá-lO.
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