segunda-feira, fevereiro 19, 2018

Paróquia de Santa Helena

Padre Oscar com as crianças da Paróquia
de Santa Helena, após Coroação de Nossa Senhora
(acervo pessoal da autora)



Não se encontra quase nada na web sobre aquela que sempre foi a minha Paróquia, enquanto vivi no Brasil. Nem mesmo no site da Arquidiocese de Belo Horizonte há uma linha sequer sobre a história dessa paróquia. O único dado histórico que consta é que foi criada em 1949 (http://arquivo.arquidiocesebh.org.br/catalogo/paroquia.php?id=182).
Sendo assim, vou eu mesma contar o que sei.
Construção modesta e discreta, a igrejinha de Santa Helena passa despercebida no meio de um quarteirão residencial do Bairro dos Funcionários, na rua Maranhão, 875. 
Inicialmente, era para ter sido construída no quarteirão formado pelo entroncamento das avenidas Francisco Sales, Carandaí e Contorno, logo ali perto, onde haveria mais espaço e visibilidade para uma igreja paroquial. Mas, por razões que me fogem à memória, acabaram mantendo a construção provisória definitivamente no local atual. Tenho certeza de que ouvi falar sobre essas razões, mas eu era muito criança, por mais que me esforce não consigo me lembrar.
O primeiro pároco foi o Padre Clóvis, mas não o conheci. Quando nasci, em 1955, o pároco já era o Padre Carlos Oscar Bitner, que me batizou e a meu irmão mais novo. Éramos seus “pedacinhos do céu”, como ele sempre costumava chamar as criancinhas, com aquele sotaque alemão. Apesar de toda a rigorosa disciplina germânica, ele sempre tinha um sorriso para as crianças, principalmente na época das Coroações de Nossa Senhora, em maio, muito apreciadas por ele. De longe, de pé lá ao fundo do altar, ele observava a movimentação e a cantoria, os braços cruzados, e uma boa risada de vez em quando. Mas nada de se envolver diretamente com a meninada. Para isso, existia a temida Dona Mirtes, que se virava muito bem para manter a ordem na igreja. E como mantinha!
A igreja era muito feia, inacabada. Não tinha teto, a estrutura do telhado era visível, e as paredes mal rebocadas, deixando visíveis também os tijolos. Mas funcionava, com todas as atividades normais de uma paróquia, propiciando aos paroquianos o principal: os sacramentos, o aprendizado da Palavra de Deus e o estímulo à fé, simplesmente... muito simplesmente! Assim foi até fins da década de 1970, se não me engano.
Nessa época, creio que antes ainda da morte do Padre Oscar, houve uma doação significativa por parte de paroquianos ricos, que decidiram renovar a construção. Pela primeira vez, então, a igreja tomou novos ares, bem acabada e até com mais segurança. É o aspecto que mantém até hoje.
No início da década de 1980, um novo pároco assumiu a Igreja de Santa Helena, o padre espanhol José Maria Oribe Salazar, hoje também já falecido. Foi um vigário bastante ativo liturgicamente, gostava de louvar a Deus com todos os rigores dos rituais da igreja católica. Deu, assim, uma nova movimentação espiritual à paróquia, com a ajuda de muitos paroquianos, entre tantos, as sempre presentes Leonídia e Nadège, além das dedicadas irmãzinhas Discípulas de Jesus Eucarístico.
Esta foi minha última vivência como paroquiana da Igreja de Santa Helena, antes de me mudar para o Canadá.
Quem quiser contribuir com mais dados históricos, esteja à vontade para usar os comentários. Não esqueçam de se identificarem, por favor. Obrigada.

sexta-feira, fevereiro 09, 2018

Alegrias do inverno no Québec

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Botas bonitinhas, na moda? Deixa pra lá. Passei da idade e... ó... não sou canadense desde criança. Apesar de todo o esforço que faço para me integrar, não é a mesma coisa. Não estou reclamando. É que não sou hábil em esportes. Não sei sair deslizando, elegante, no "Holiday on ice" nosso de cada dia. Nada como minhas velhas botas de inverno. Não são lindas :-) mas – tabarnoush ! – são boas.
Mesmo assim, todo cuidado é pouco. Há que se desconfiar de todos os "chãos", nem sempre estão completamente "descongelados" e seguros. O pequeno trajeto entre o lugar onde estacionamos o carro e a entrada de um estabelecimento qualquer pode representar um risco terrível. Por isso, não banco mais a valentona, trato de colocar meus “crampons” para não escorregar.  
Este ano, não precisei ir buscar meus presentes de Natal, enfrentando as intempéries. Os que ganhei vieram até mim, ainda bem. Ano passado, fui a uma loja, cuja entrada estava um horror. Do passeio até a porta, uns 20 metros. Vou ou não vou? – me perguntei, olhando para o pequeno trecho que, pelo estado glacial, parecia sem fim. "Crampons" dentro de uma sacolinha... – Calço ou não calço? Antes de entrar, teria que retirá-los para não estragar o piso da loja. Arrisquei só de bota mesmo. Lá fui eu, andando como um pinguim, procurando pequenas "poças" de neve, menos escorregadias, em meio a médias e grandes lombadas de gelo duro como rocha. Não, não é redundância dizer gelo duro como rocha. Só vivendo aqui para compreender essas intensidades.
Pequena verificação se estava sendo observada na minha desenvoltura de anciã: olhei para todos os lados, discretamente, dei de cara com dois rostos atentos, do outro lado do vidro da porta da loja. Envergonhada, pensei em me apressar, mas meu Anjo da Guarda me advertiu que seria imprudente. Calma, o que você prefere: uma perna quebrada ou uns risinhos até bons para alegrar o dia?
Finalmente, consegui atravessar o oceano. A porta se abriu e duas gentis vendedoras me perguntaram, quase em coro, se estava muito escorregadio, se desculpando pelo mau estado da entrada. Aliviadas todas, passamos ao que interessava: escolher alguma peça da loja com o cartão-presente que ganhara do maridão. Esta parte foi bem mais agradável :-)
Esta é uma das pequenas alegrias do inverno: conseguir escapar de cair no gelo. Mas parece que eu estava fadada ao tombo, naquele ano. Alguns dias mais tarde, após outro coquetel meteorológico, sofri minha primeira queda... Esperando que seja a última. Not so bad, anyway... uma vez em 18 anos morando no Québec! Apesar de ser extremamente cuidadosa, falhei.
Ao sair da porta de casa, olhando para minha bolsa, já meio inclinada para a frente, sem prestar atenção no piso, meus pés derraparam para trás; num reflexo, minhas mãos – enluvadas – foram se apoiar no chão e também saíram escorregando, para a frente, a bolsa lançada ao ar. Voilà, esparramei por completo e fui deslizando, deitada, até a beirada da escada. Quase saí em voo livre. Por sorte, o show parou poucos milímetros antes dos degraus... Que cena!
Fora uma dorzinha no joelho esquerdo e no punho direito, não houve maiores estragos. Outra alegria do inverno: aprumar-se de um tombo e constatar que não está com tudo quebrado. Como sempre na vida, sobrevivemos aos males todo o tempo, para construir nossa alegria de viver. Quando ninguém se machuca, pode até ser engraçado. Contudo, é preciso muito cuidado, pois o que parece cômico pode ficar trágico.
Mas há muitas vantagens macro e microbiológicas em ter um inverno glacial. Para dizer a verdade, somos de sorte!