En français
Botas bonitinhas, na moda?
Deixa pra lá. Passei da idade e... ó... não sou canadense desde criança. Apesar de todo o
esforço que faço para me integrar, não é a mesma coisa. Não estou reclamando. É que não sou hábil em
esportes. Não sei sair deslizando, elegante, no "Holiday on ice"
nosso de cada dia. Nada como minhas velhas botas de inverno. Não são lindas :-) mas – tabarnoush ! – são boas.
Mesmo assim, todo cuidado é
pouco. Há que se desconfiar de todos os "chãos", nem sempre estão
completamente "descongelados" e seguros. O pequeno trajeto entre o
lugar onde estacionamos o carro e a entrada de um
estabelecimento qualquer pode representar um risco terrível. Por isso, não
banco mais a valentona, trato de colocar meus “crampons” para não escorregar.
Este
ano, não precisei ir buscar meus presentes de Natal, enfrentando as intempéries.
Os que ganhei vieram até mim, ainda bem. Ano passado, fui a uma loja, cuja
entrada estava um horror. Do passeio até a porta, uns 20 metros. – Vou ou não vou? – me perguntei, olhando para o pequeno trecho que,
pelo estado glacial, parecia sem fim. "Crampons"
dentro de uma sacolinha... – Calço ou não
calço? Antes de entrar, teria que retirá-los
para não estragar o piso da loja. Arrisquei
só de bota mesmo. Lá fui eu, andando como um
pinguim, procurando pequenas "poças" de neve, menos escorregadias, em
meio a médias e grandes lombadas de gelo duro como rocha. Não, não é redundância dizer gelo duro como rocha.
Só vivendo aqui para compreender essas intensidades.
Pequena
verificação se estava sendo observada na minha desenvoltura de anciã: olhei
para todos os lados, discretamente, dei de cara com dois rostos atentos, do
outro lado do vidro da porta da loja. Envergonhada, pensei em me apressar, mas
meu Anjo da Guarda me advertiu que seria imprudente. – Calma, o que você prefere: uma perna quebrada ou uns risinhos até bons
para alegrar o dia?
Finalmente,
consegui atravessar o oceano. A porta se abriu e duas gentis vendedoras me
perguntaram, quase em coro, se estava muito escorregadio, se desculpando pelo
mau estado da entrada.
Aliviadas todas, passamos ao que interessava:
escolher alguma peça da loja com o cartão-presente que ganhara do maridão. Esta
parte foi bem mais agradável :-)
Esta é uma das pequenas alegrias do inverno: conseguir escapar
de cair no gelo. Mas parece que eu estava fadada ao tombo, naquele ano. Alguns dias mais tarde, após outro coquetel meteorológico, sofri minha
primeira queda... Esperando que seja a última. Not so
bad, anyway... uma vez em 18 anos
morando no Québec! Apesar de ser extremamente cuidadosa, falhei.
Ao sair da porta de casa, olhando para minha bolsa, já meio inclinada
para a frente, sem prestar atenção no piso, meus pés derraparam para trás;
num reflexo, minhas mãos – enluvadas – foram se apoiar no chão e também saíram escorregando, para a frente, a bolsa lançada ao
ar. Voilà, esparramei por completo e fui deslizando, deitada, até a beirada da escada.
Quase saí em voo livre. Por sorte, o show parou poucos milímetros antes dos degraus... Que
cena!
Fora uma dorzinha no joelho
esquerdo e no punho direito, não houve maiores estragos. Outra alegria do
inverno: aprumar-se de um tombo e constatar que não está com tudo quebrado. Como
sempre na vida, sobrevivemos aos males todo o tempo, para construir nossa
alegria de viver. Quando ninguém se machuca, pode até ser engraçado. Contudo, é
preciso muito cuidado, pois o que parece cômico pode ficar trágico.
Mas há muitas vantagens macro
e microbiológicas em ter um inverno glacial. Para dizer a verdade, somos de
sorte!
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