quinta-feira, novembro 29, 2018

Medo de avião

Tem gente que tem medo de avião; só de entrar na aeronave, o nervosismo já vai às grimpas, antes de decolar. Eu, ao contrário, quando me acomodo na poltrona, que sei que estou no lugar certo, para o destino certo, fico tão aliviada... Relaxamento total. Quando o motor começa a funcionar, então, as pálpebras vão ficando pesadas, caio no sono solto, solta no ar.
Já passei por turbulências em que até os comissários de bordo ficaram com ar de perplexidade, mas resolvi bem o meu PAVOR nessas horas, rezando todas as orações que sabia de cor, quase em alta voz, e apertando os braços da poltrona o mais forte que consegui, nada mais. Penso que passo despercebida, mas não posso ter certeza disso, pois fecho os olhos nesses momentos, para me concentrar nas orações. Só uma vez notei que uma criança na poltrona do outro lado do corredor estava olhando para mim, com um sorriso nos lábios 😂.
O que me enerva mais mesmo são os preâmbulos. O check-in, a espera, a fala ininteligível do aeroporto – que aqui nunca chega aos pés da voz da Iris Lettieri. Aquela irritação com alguém por perto que não para de falar ALTO na hora que anunciam alguma coisa no alto-falante; será que ela falou sobre o meu voo? As malas, estas não levo mais nenhuma para ir no bagageiro. Chega do stress da mala.
Até parece que já tive algum problema mais grave antes de pegar um voo. Já tive. Com tantas vezes que já viajei Canadá-Brasil-Canadá, a chance de acontecer algum aborrecimento se apresentou em algumas delas; voos cancelados/ter que voltar para casa, mau tempo de um lado, perda do voo do outro/ter que ir para hotel/mudança de rota, mala que foi mas não foi... já perdi a conta do número de chateações que ocorreram.
Mas o pior do meu nervosismo antes de entrar no avião é mesmo pelo receio de pegar algum corredor errado no aeroporto, de perder o avião, mesmo estando bem adiantada para a conexão... Já nem ligo de ter que esperar muito tempo, quando compro minhas passagens, já peço com boas horas de folga nas escalas.
Nunca mais quero passar pelo desespero que passei no aeroporto de Chicago, então desconhecido para mim – e enorme! – por onde tive que correr desabalada pelos corredores, arrastando duas malas, ao mesmo tempo tendo que ler as indicações para chegar no ponto de um trem que tinha que pegar, dentro do próprio aeroporto, que me levaria à porta de embarque; tudo novidade para mim, tudo nos últimos minutos. Quando consegui chegar, fui a última a entrar no avião, que já estava prestes a decolar. Nunca mais! E esta foi só uma das escalas que tive que fazer nessa viagem que me custou menos dinheiro, mas quase me custou a vida – o coração parecia que ia sair pela boca.
Graças a Deus, nunca tive problemas alfandegários, jamais fui revistada, nem minhas malas. Mas acho que sei a razão disso. Primeiro que nunca transportei nada proibido nem malas exageradas (minto, já exagerei, mas só uma vez). Eles percebem quando há alguma coisa suspeita, imagino.
Segundo motivo, o definitivo, é que meu medo de errar algum caminho ou instrução é tanto, que sempre que me surge uma pequena dúvida, tenho que me certificar, fazendo perguntas aos agentes dos aeroportos ou quando passo pelos guichês da alfândega. A minha atitude é exatamente oposta à de uma pessoa que queira passar despercebida. Perco a vergonha, pergunto tudo mesmo. Meu marido disse que eles devem ficar loucos para se verem livres de mim e me liberam o mais rápido possível... hahaha.
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Links relacionados:
A mala e o que nos faz odiá-la
Por ar, por terra ou por mar

segunda-feira, novembro 26, 2018

Internato Rural: as Panteras

Internato Rural, Medicina-UFMG - 1979

A foto que ilustra este texto é de 1979, quando viajamos para o Internato Rural, pela Faculdade de Medicina da UFMG [1], minha colega, depois cunhada, e eu. A Medicina da UFMG foi pioneira no Brasil, nesse tipo de empreendimento, tendo iniciado o programa em 1978. 
         Naquela época, não havia "personal computer", muito menos dispositivos móveis, menos ainda internet para todos, que só foi se popularizar na década de 1990. O conhecimento ia na cabeça (ainda sem nenhum cabelo branco 😄) e no peso da mala. Levamos um bocado de livros para estudarmos no sertão. O Internato Rural era obrigatório, com duração de três meses, para conhecermos e atuarmos nas condições de localidades distantes dos grandes centros. Ao mesmo tempo, era um jeito de levar atendimento médico e atividades de saúde comunitária a esses lugares, onde a carência em atenção médica – e em tudo – era absurda.
Fomos para uma cidadezinha do norte de Minas. Eram dois estudantes que iam para cada localidade prevista no programa. Ficamos hospedadas numa casa particular, perto da pracinha central, onde se destacava a igreja, lindinha, mas “para inglês ver”. Não tinha padre. Periodicamente, ia um para realizar os batizados e casamentos, na fila de espera.
A dona da casa onde ficamos morando era viúva, tinha três filhos, duas meninas e um menino, crianças encantadoras que nos cobriam de abraços e beijos, quando voltávamos do trabalho no Posto de Saúde, de noitinha, e nos sentávamos para ver TV – Rede Globo, naturalmente; não me lembro bem, acho que era a única emissora com sinal na região.
Dormimos de luz acesa durante os três meses que passamos por lá, pois era região endêmica de Doença de Chagas, com alta incidência de “barbeiros” (o inseto vetor da doença só ataca no escuro).  A casa era velha, por mais que tenhamos tentado calafetar todas as frestas da janela, da porta e das paredes do quarto, com fitas adesivas, não nos sentíamos seguras. O teto era de forro antigo, também vulnerável.
O município era composto do vilarejo principal e algumas pequenas aglomerações no seu entorno, estas desprovidas até mesmo de eletricidade. O Posto de Saúde contava com o serviço de uma auxiliar de enfermagem. Na pequena farmácia do posto, dispúnhamos de alguns medicamentos sintomáticos, antiparasitários, penicilina (oral e injetável), material para sutura, tudo muito simples. Pelo menos, a Prefeitura possuía uma ambulância para levar casos mais graves para uma cidadezinha maior, a um pouco mais de 28 km de distância, onde havia um hospital – situação privilegiada em comparação a outros lugares.
A falta de infraestrutura nos rincões do Brasil é uma coisa lamentável. Não é de se admirar que médicos oriundos de cidades grandes não queiram se estabelecer definitivamente nessas localidades. Mas é uma boa experiência temporária e pode acelerar a melhoria das condições locais, com a presença de gente que sabe o que é necessário para melhorar o atendimento à saúde.
A experiência do contato humano foi ótima no nosso caso e soubemos que os outros estudantes também gostaram. Fomos tratadas com carinho e muito respeito. Sem faltar a parte cômica da história: na época, estava passando, na TV, aquele seriado americano (Charlie’s Angels) com três detetives chamadas, no Brasil, de “As Panteras”, com as atrizes Jaclyn Smith, Farrah Fawcett e Kate Jackson. Pois, para nossa surpresa, ficamos sabendo que éramos apelidadas pela população de “panteras”, mas não se dirigiam a nós dessa maneira, obviamente. Demos boas gargalhadas, levamos no bom sentido e ficamos até um pouco metidas... hahaha. O caso serve para não deixar dúvidas sobre o “alcance” da televisão... 
        Brincadeiras à parte, foi um aprendizado e tanto, uma experiência marcante. Mas, se me perguntassem se gostaria de me instalar naquele lugar como médica, teria dito um peremptório NÃO. Por que? Simplesmente, porque não se podia fazer grande coisa pela população, em termos médicos. O que nós fazíamos, a auxiliar de enfermagem já fazia. Qualquer procedimento minimamente mais elaborado era feito em uma cidade próxima, onde havia mais recursos. Na verdade, nossa passagem por lá foi mais proveitosa para nós do que para eles.
Que seja agora o tempo de melhorar as condições de lugares distantes dos grandes centros, então, para que os médicos queiram permanecer nessas regiões. Dinheiro não faltou para as falcatruas, nesses últimos anos. É urgente servir ao povo mais do que aos políticos e ao Estado. Por MAIS MÉDICOS, sim, mas também por MELHORES CONDIÇÕES!
        Para finalizar, preciso dar “a César o que é de César”, no Brasil há uma vantagem que aprecio muito. Há ônibus que passam em todos os cantos, mesmo os mais longínquos, pelo menos uma vez por dia. Se alguém precisa ir a uma consulta médica em outra cidade, tem como ir, mesmo se não tiver carro. Na cidade onde moro, no Canadá, não há nenhum transporte coletivo. Se eu quiser pegar um trem ou um ônibus para ir a algum lugar mais longe, tenho que ir com meu carro até uma cidade próxima e deixá-lo lá. Aqui também precisamos fazer reivindicações por melhorias.
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[1] https://site.medicina.ufmg.br/internatorural/sobre-o-internato/

quinta-feira, novembro 22, 2018

The Holy Shroud

Photo of the Holy Shroud
by Secondo Pia
(public domain)

"In the mystery of the Incarnation the Word becomes flesh, and chooses to dwell among men; therefore it is normal for men to see Him, interact with Him, and perhaps have the need to preserve a concrete memory, the need of knowing exactly His human features." Barbara Frale 

 Regardless of whether it is the image of Jesus or not, of being His shroud or not, if we consider that it was not something fabricated – the science has already confirmed and disowned findings so many times – I think it is a mistake to think that the image on the "Holy Shroud" is a kind of "negative" and thus taking a photo and turning it into negative, to have the "positive" version. This negative supposedly "positive", in my view, does not enhance the face better. On the contrary, in the original, the true positive, we even can see His eyes half open. Look how impressive it is!
The dark shadow looking like long hair, on the negative, if we check on the original, it seems to be parts where the shroud would not have leaned against the body; the face does not seem to have a moustache or a beard, and the hair is not so long. By measuring distances from the base of the chin to the base of the nose, from the base of the nose to the space between eyebrows, and from the latter to the forehead end (where hair begins), we find similar distances, as usual for normal human faces. If there was a beard, the distance to the base of the nose would be longer. It may also be a short beard, close to the chin.
Around the eyes, like a circle, the tonality is lighter, exactly because the cloth suspended by the orbital arcade would not have touched this area. The skin surrounding the eyes was in a deeper plan (sunken eyes), which is a sign of intense dehydration. The mouth is perfect, look at it! The upper lip (mucosa and adjacent skin) seems to be slightly swollen. The face is of a young man, not like the old man’s impression we have with the negative version. The dark spot on the chin does not seem to be a beard. And the less dark area below the chin would be parts that shroud has not touched (precisely because of the jutting of the chin).
All places where the cloth is less dark seem to indicate where it has not touch the body or has adhered less. Looking at the darker parts of the shroud as body parts protruding, we are induced to see His body in 3D.
The relic was investigated by medical examiners and precious data were found by several scientists. It's almost like being in front of a real body, with all suffering He went through.
There are 3D reproductions of the face of Jesus stamped on the Shroud, by the negative of the photo of Secondo Pia. On the negative, there is a Christ with closed eyes, dead.
I think they should have worked with the original photo, the true positive. On the positive of the original photo (not the negative), the eyes appear half-opened. As He was already dead when they wrapped Him in cloths, the mysterious record impregnated on the shroud, then, must be from the moment His eyes were OPENING! It fits better with the eloquence of a possible "image" left purposely for us – that of the RESURRECTION and not that of death; the victory over suffering and death. Considering it was left purposely as a sign for us, it wouldn't be with the image of a dead man.
He was dead, yes, but He is risen! Alleluia!
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Related links: 

quarta-feira, novembro 21, 2018

O Santo Sudário

Foto do Santo Sudário
por Secondo Pia,
(domínio público)
English version
Version en français 
"No mistério da Encarnação, o Verbo se torna carne e escolhe habitar entre os homens; portanto, é normal que os homens O vejam, interajam com Ele e talvez tenham a necessidade de preservar uma memória concreta, de saber como são exatamente Suas características humanas."
Barbara Frale


Independente de ser a imagem de Jesus ou não, de ser uma mortalha dEle mesmo ou não, se considerarmos que não foi algo fabricado – a ciência já disse e desdisse tantas vezes – penso  ser um erro achar que a imagem no “Santo Sudário” é uma espécie de “negativo” e que, então, fazendo uma foto e convertendo-a em negativo, tem-se a versão “positiva”. Esse negativo supostamente “positivado”, a meu ver, não realça melhor o rosto. Pelo contrário, no original, o verdadeiro positivo, a gente vê até os olhos entreabertos. Olhem que impressionante!
O que parece cabelo comprido no negativo, vê-se no original que é onde o tecido não teria encostado no corpo, ficou com o mesmo aspecto das partes do tecido ao redor do corpo, mais claro. O rosto não parece ter bigode nem barba, o cabelo não é tão comprido. Medindo as distâncias da base do queixo à base do nariz, da base do nariz ao espaço entre as sobrancelhas, e entre este último até o final da testa (onde começa o cabelo), pode-se ver que as distâncias são semelhantes, como costuma ser o normal de um rosto humano. Se houvesse barba, a distância até a base do nariz seria maior. Também pode ser uma barba curtinha, rente ao queixo.
Em torno dos olhos, como um círculo, a tonalidade é mais clara, justamente porque o tecido suspenso pela arcada orbitária não teria encostado; o entorno dos olhos estava fundo, sinal de desidratação intensa. A boca é perfeita, reparem! O lábio superior (mucosa e pele adjacente) parece estar um pouco inchado. O rosto é jovem, não como a impressão de velho que se tem no negativo. O escuro no queixo não parece ser barba. E aquilo que aparece claro abaixo do queixo, seria onde o tecido não encostou (justamente por causa da saliência do queixo).
Todos os locais onde está mais claro parecem indicar onde o tecido não encostou no corpo ou aderiu menos. Olhando para as partes mais escuras do sudário como partes salientes do corpo, somos induzidos a ver o corpo dEle em 3D.
A relíquia passou pelo exame de médicos legistas e dados preciosíssimos foram encontrados (links abaixo). É quase como estar diante de um corpo de verdade, com todo o sofrimento por que passou.
Foram feitas reproduções em 3D do rosto de Jesus estampado no Sudário, pelo negativo da foto de Secondo Pia. No negativo, aparece um Cristo de olhos fechados, morto. 
Penso que deveriam ter feito com o positivo da foto original (não o negativo), pois no positivo os olhos aparecem entreabertos. Como Ele já estava morto quando foi envolto nos panos, o misterioso registro impregnado no tecido, então, deve ser do momento em que os olhos estavam-se ABRINDO! Bate melhor com a eloquência de uma possível "imagem" deixada propositalmente para nós – a da RESSURREIÇÃO e não a da morte; a vitória sobre o sofrimento e sobre a morte. Se foi deixado como sinal para nós, de propósito, não havia de ser com a imagem de um morto.
Estava morto, sim, mas ressuscitou! Aleluia!

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Links relacionados: 

- Foto do Santo Sudário

Collegamento pro Sindone (English)

https://loscrignodeitemplari.blogspot.com/

http://www.30giorni.it/articoli_id_18760_l6.htm

https://pt.aleteia.org/2018/05/09/tudo-sobre-santo-sudario/


https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2018-07/sudario-estudo-que-define-manchas-sangue-falsas-nao-confiavel.html

https://pt.aleteia.org/2018/03/28/o-homem-do-sudario-reconstruido-em-3d-era-jesus-sera-que-ele-era-assim/