sábado, junho 30, 2018

No more

Rivière Noire, Québec, Canada
English version
Il y a un débat à propos du spectacle « SLĀV » à Montréal. Les descendants des esclaves ont manifesté contre cette représentation théâtrale, qu’ils jugent être de l’appropriation culturelle, car ils chantent des chansons tristes des esclaves noirs, pour dénoncer les rapports de pouvoir d’autrefois et d’aujourd’hui, en étant des Blancs supposément descendants de ceux qui ont profité de ces enjeux de domination et en profitent encore.
Les concepteurs du spectacle défendent que les artistes aient le droit d’aborder le sujet, indépendamment de la couleur de leur peau, tout en soulignant que leur message est une dénonciation de cette « culture de l’esclavage ». Rien de mieux que lire ce qu’ils ont dit les uns et les autres, avant d’exprimer mon opinion :

Ma peau est blanche et je viens d'un pays où il y a eu l'esclavage des Noirs. Je peux comprendre un peu les deux côtés de l'histoire.  Je crois que les descendants des esclaves n'ont pas su bien décoder ce qui leur fait outrage, où ça fait mal. C’est correct qu'ils pensent à l'appropriation culturelle, mais pire que ça c'est faire une comparaison entre ce que les esclaves noirs ont subi et ce qu'il est arrivé à d’autres peuples ou à ce qu’il arrive aujourd'hui, que les producteurs du spectacle ont dit vouloir dénoncer. Il n'y a pas de comparaison ni de possibilité de chevauchement, ces chants-là ne peuvent exprimer que ce qu'ils exprimaient dans leur temps. Ça me rappelle les Juifs qui eux non plus n'acceptent pas les comparaisons avec leur souffrance sous le nazisme, il n'y a rien de semblable. Chacun a son histoire particulière.
Je comprends les producteurs de SLĀV, quand même, leur intention est bonne, ils voulaient exprimer une douleur terrible de l’humanité et ont pris la beauté de ces chants tristes du fond de l'âme humaine comme exemple. Peut-être plus tard, dans un futur lointain, quand les cicatrices seront moins douloureuses, peut-être que n'importe qui pourra les représenter, pour dénoncer la souffrance de l'être humain. Je ne sais pas. Pour l'instant, je crois que c'est mieux de respecter leurs sentiments, quand ils disent que ça fait mal. Ce n’est pas complètement cicatrisé encore.
Je suggère aux artistes blancs de composer de belles chansons tristes aussi, pour exprimer la douleur qu'ils ressentent pour ce que leurs ancêtres blancs ont fait aux Noirs. « No more, my father », par exemple.  L'impact serait assez important et possiblement plus efficace même.

~~~~~~~~//~~~~~~~~
Un autre texte que j'ai écrit à propos de ce sujet:
https://maviemontfils.blogspot.com/2018/07/chacun-sait-ou-son-soulier-le-blesse.html

terça-feira, junho 26, 2018

Não soltem os cachorros


Tenho medo de cachorros. E eles sabem disso, todos se sentem “atraídos” por mim, mesmo os mansos rosnam e querem me atacar, apesar de eu não fazer absolutamente nada para atiçá-los. Talvez o não fazer nada seja o problema, ou talvez um olhar meu desconfiado possa ser interpretado por eles como uma ameaça e, em defesa, partem para o ataque. Dizem que exalamos um cheiro quando temos medo da adrenalina descarregada, talvez? Não sei, o fato é que, involuntariamente, provoco frustração em praticamente todos os donos de cachorro que se vangloriam de terem verdadeiros anjos, incapazes de qualquer reação agressiva.
Pouco importa o que me fez ser medrosa assim, pelo uso da razão deveria ter superado essa deficiência, eu sei. Consegui melhorar, mas o problema ainda é grave. E nesse mundo onde cada vez mais os animais merecem mais consideração do que os seres humanos por eles próprios, vou-me aperfeiçoando em minha índole de eremita. Graças ao mundo virtual, posso conversar com muita gente, sem precisar incomodar seus cachorros em seus lares.
Entre os progressos que fiz, um deles foi ter perdido o medo dos pequenos cãezinhos e percebo que eles não se importam mais comigo. É mais uma prova de que minha atitude tem algum efeito sobre a reação canina. Já consegui conviver socialmente com três grandes cães labradores o que, aparentemente, não chega a ser vantagem nenhuma, para quem não sabe o que é ter esse medo intenso que tenho, sobretudo quando são grandes – mesmo que sejam animais sabidamente inofensivos. Eram simpáticos bebezões de nossos ex-vizinhos e, como eram amigos preciosos (os donos dos cães), não tive outra opção senão tentar me acostumar com eles. Na verdade, quis mesmo usá-los como instrumento de superação. O intento não foi um sucesso completo, nunca consegui baixar a guarda.
Não foi surpresa para mim, pois já tentei criar cachorro por duas vezes, com o intuito de superar o meu problema, criando-os desde bebezinhos. Deles eu não tinha medo, mesmo depois de adultos. Mas continuei a ter medo de cachorros estranhos. Além do mais, não fui capaz de ser o elemento dominante da relação, eles é que me dominavam, faziam o que queriam. Da primeira vez, tive uma cadela da raça fila brasileiro. Aos seis meses, ela já estava maior do que eu e isso também não ajudou. Da segunda vez, tentei um fox paulistinha, o terrier brasileiro. Também foi um desastre, ele me driblava sem a menor dificuldade. Enfim, desisti.
Nossa vizinha do lado, atualmente, tem um cão que parece mestiço de boxer com bulldog, talvez seja o que chamam de bulldog americano, não sei – o corpo é compacto, roliço, nem atarracado como o bulldog, nem elegante como o boxer, entre os dois. Parece desenho animado quando ele anda ou corre, as pernas mexem e o corpo se desloca sem rebolado nenhum, inflexível. A cara é horrorosa, de maus bofes, apesar de uma certa tristeza no olhar, com um prognatismo acentuado, os dentes inferiores sempre visíveis. À primeira vista, assusta, é um "colosso" de médio porte. Mas sua “mãe” – a dona do cachorro – nos disse que ele é um doce de criatura, acostumado com vários irmãozinhos gatos. Não é capaz de fazer mal a ninguém, segundo ela.
Pois bem... Vocês sabem que aqui no Canadá, nossos terrenos não são fechados por muros nem cercas. Por lei, os cães não podem circular na rua sem guia, muito menos invadir propriedade alheia. Os proprietários têm que se virar para que seus animais não burlem as leis. Nossos vizinhos de frente colocaram um sistema de choque elétrico na coleira se os cachorros se aproximam de um fio invisível (subterrâneo). Eles têm pena de usar o sistema, mas parece que, ultimamente, os cãezinhos deles estão mais treinados a não virem esbravejar contra nós, “chez nous”... mas demorou. A nossa vizinha do lado – a do desenho animado – colocou um sistema de cercas visíveis em torno do terreno dela. Mas o colossinho escapa frequentemente, não sei como. Várias vezes, o vemos passeando pela rua e, não raro, dá uma passadinha no nosso terreno e não só aqui. Mas – pasmem! – este me obedece. Digo a ele “à la maison” e, apesar do meu sotaque, ele compreende e vai embora. Nunca rosnou nem latiu para mim. Imaginem como fiquei encantada com isso. Quase perdi o medo dele... até ontem.
Ontem, não sei o que deu nele, no colossinho. Um casal, cada qual com um cachorro na guia, passou em frente às nossas casas (sempre passa alguém fazendo caminhada, em companhia de seus cães). Não entendo de raça de cachorro, mas os do casal pareciam muito com o nosso vizinho. Colossinho ficou uma fera, saiu desabalado e aos gritos para atacar os seus congêneres. Foi uma gritaria canina impressionante, latidos escancarados e ininterruptos misturados com rosnados em alto volume, dando a sensação de que algo catastrófico estava ocorrendo. Já presenciei briga de cães vira-lata nas ruas do Brasil, mas esta de ontem estava assustadora. E nem fugir os outros podiam, pois estavam presos na guia. O que os donos deles fizeram foi carregá-los no colo. E o colossinho não perdia o elã, começou a pular para atingi-los. O ataque só acabou quando os nossos vizinhos, proprietários da fera, conseguiram contê-la. Tomara que ninguém tenha se machucado.
Então é esta a doçura de criatura. Fiquei decepcionada. Foi um aviso para mim, que andava confiante demais. Não faz muito tempo, uma senhora mais ou menos da minha idade, foi assassinada por um pitbull que a atacou no quintal dela. São inúmeros os casos de ataques, muitas crianças mortas ou desfiguradas até recém-nascidos por cães até então considerados dóceis. Na verdade, ninguém, nem os donos dos cachorros podem prever esses rompantes dos bichos. Eles pensam que conhecem seus animais completamente. Que ingenuidade! Que temeridade! 

Update 27/06/2018: só porque eu disse que os cachorros dos vizinhos de frente não vêm mais, já vieram duas vezes hoje, aqui no nosso terreno... 😡 

Update 11/07/2018: depois do ataque a outros cachorros, a vizinha do lado reforçou a cerca da casa dela.
 

segunda-feira, junho 25, 2018

Pas pressé

Église de Saint-André
Versão em português
English version

Un nouveau prêtre célèbre la messe dans notre paroisse. Partiellement chauve, le restant des cheveux est déjà complètement blanc. Il n’est pas un jeune. Peut-être qu'il a mon âge – nous voyons plus de vieillesse chez les autres. De bonne humeur, grassouillet, joyeux, du genre qui aime chanter et aussi s’adresser au peuple au moment des souhaits pour la "Paix du Christ", et il serre la main de tout le monde assis plus proche du couloir central de l'église – je n’avais vu cela auparavant qu’au Brésil.  
Une certaine paix – je ne sais pas si celle que l'on désire – s'installe vraiment pendant ses célébrations. On plonge dans une relaxation qui provoque de l'anxiété chez les pressés – j'avoue que j'ai dû me contrôler pour ne pas regarder ma montre de temps en temps. Après tout, la messe ne dure pas plus que le temps régulier; il parle moins, ce qui compense les grandes pauses pour réflexion.
Les longs silences étaient renforcés par un bruit de fond, un son continu et modulé. Après un balayage rapide de l'environnement avec mes yeux, pour rechercher la source du bruit et exclure la possibilité d'un acouphène dans ma tête, j'ai attribué le son aux ventilateurs de plafond. J'ai succombé, finalement, aux silences, j'ai embarqué dans un état presque de torpeur qui, avec l'aide de l'effet sonore, m'a transporté à mes quarts de nuit dans les hôpitaux où j'ai travaillé.
La nuit, les sons que nous ne remarquons pas pendant la journée prennent vie et s'intègrent dans le silence. Ce sont des équipements hospitaliers, des réfrigérateurs, des luminaires... des modulations sonores qui habitent l'insomnie de la profession, de temps en temps brisées par des pas dans le couloir, quelqu'un qui tousse, un chuchotement, un téléphone qui sonne, une ambulance qui arrive. Ceci au mieux, quand pleurs et gémissements ont pu être remédiés.
Notre gentil curé nous voit sagement comme ses patients dans cet immense hôpital général où nous vivons. Avec patience et dévouement, il était en train de nous aider à faire face à nos maux, à nous battre pour la Vie de notre âme. La meilleure façon est la sienne: pacifier, offrir un bon traitement, sans hâte. La vie est si courte, pourquoi se dépêcher?

sábado, junho 23, 2018

Sem pressa

Église de Saint-André
Version en français
English version 
Um novo padre está celebrando a missa em nossa paróquia. Um novo idoso. Parcialmente calvo, o restante do cabelo já completamente branco. Talvez tenha minha idade – vemos mais velhice nos outros. Bem-humorado, gorducho, bonachão, daquele tipo que gosta de cantar e que faz questão de se aproximar do povo, na hora de desejar a “Paz de Cristo”, e sai apertando a mão de todos da beirada dos bancos da igreja – coisa que eu só tinha visto antes no Brasil.
Uma certa paz – não sei se a tão desejada – se cumpre mesmo e paira intensa durante as suas celebrações. Entra-se num relaxamento que causa ansiedade nos apressados – confesso que tive que me controlar para não ficar olhando para o relógio. Afinal, a missa não dura mais que o tempo regulamentar; ele fala menos, compensando as grandes pausas para reflexão.
Os longos silêncios estavam reforçados por um ruído de fundo, um som contínuo e modulado. Após uma rápida varredura investigativa do ambiente com meus olhos, para procurar a origem do barulho e excluir a possibilidade de algum acufeno na minha cachola, atribuí o som aos ventiladores de teto. Entreguei-me aos silêncios, finalmente, entrando num estado quase torporoso que, com a ajuda do efeito sonoro, me transportou aos meus plantões noturnos nos hospitais onde trabalhei.
À noite, os sons que não percebemos durante o dia tomam vida e se incorporam ao silêncio. São aparelhagens hospitalares, geladeiras, lâmpadas... modulações sonoras que habitam a insônia do ofício, de vez em quando quebradas por passos no corredor, alguma tosse, uma voz baixa, um telefone que toca, uma ambulância que chega. Isso na melhor das hipóteses, quando choros e gemidos conseguiram ser remediados.
O nosso simpático padre estava sabiamente nos vendo ali como seus pacientes, nesse enorme hospital geral em que vivemos. Ele estava nos ajudando a tratar de nossas mazelas, a lutar pela Vida da nossa alma, com paciência e dedicação. O melhor mesmo é fazer como ele: pacificar, oferecer um bom tratamento, sem pressa. Nossa vida já é tão curta, para que correria?
~~~~
Link relacionado:
Falsíssimo

sexta-feira, junho 22, 2018

Vive le Québec !


Il était une fois une rivière d’antan aux cheveux blancs, toujours en turbulence autour de ses roches – on l’appelait Rivière Blanche. Elle connaissait de belles et longues histoires, car elle serpentait à travers beaucoup de villages, avant de se déverser dans d’autres mots.
Marie, une fille venue de loin, aimait aller au bord de la rivière pour écouter les histoires du pays qu’elle racontait au vent. Ses paroles étaient poétiques, parfois tristes, parfois joyeuses… C’était comme de la musique pleine de sentiments:
On avait un roi, je me souviens, j’étais fier de moi. J’avais un monde à bâtir. Il était donc une fois. L’océan immense, déjà qu’il était connu. La traversée parfois dure. Toutefois, l’espérance ne mourait pas.

On avait un roi, j’avais la foi, je me souviens, j’étais fier de moi. Une mission à accomplir. C’était alors autrefois. J’ai vu l’intempérance et les intempéries, la récompense de la terre, la vie. Mon brin de gloire et les petites victoires.

On avait un roi, j’avais la foi, j’avais la joie, je me souviens, j’étais fier de moi. La vie à réjouir, on avait le droit. J’étais comblé, j’étais riche. Les champs plein la vue. Je pouvais travailler, défricher la terre que l’on avait reçue, cultiver, échanger, s’entraider. Tous ces mots pleins d’amour, à ma façon de parler.

On avait un roi, j’avais la foi, j’avais la joie…Un jour, le désarroi. Tout ce dont j’étais fier n’était plus serviable. C’était fini. Ma terre n’était plus fiable. « Ces quelques arpents de neige » n’étaient qu’un piège, on me l’a dit, mieux vaut le taire.

On avait un roi, il nous a laissé, était-il mort? J’avais la foi, elle s’est brisée, j’avais eu tort? Non, ce n’est pas de ma faute, mon âme sursaute, ma voix s’est affaiblie, mon esprit s’évanouit.

Long temps s’est écoulé depuis ce passé d’incertitude, je me sens fatigué de ma solitude. Mais je m’aperçois, j’ai encore mes droits. J’ai survécu, j’ai fait ma place. Ce n’est pas tout perdu sur « les arpents de glace ».

Je me souviens, j’ai encore la joie, je suis fier de moi !

Plein de mots de partage, je ne suis pas anonyme. J’ai été peut-être sage, je suis vivant. Voilà mon héritage. Maintenant, j’ai d’autres rimes et l’espoir qui m’anime.

Le vent tombe, le silence. Marie se demande si elle est seule. Puis, elle a l’impression que quelqu’un lui parle. Ce n’est plus la voix triste de la rivière qui dit :

Si tu as froid, viens avec moi. Je t’offre ma laine, sans désarroi, pure et saine. Je t’offre aussi mon poème, que je déclame moi-même, sans haine.

-                 C’est vrai, l’histoire que je raconte, ce n’est pas un conte. Ce sont des vers pour réciter, pour écouter, sans honte. Si les mots de mon cœur, s’ils font ton bonheur, si cela te soulage sans peine, voilà, la poésie n’est pas vaine !