Tenho medo de cachorros. E
eles sabem disso, todos se sentem “atraídos” por mim, mesmo os mansos rosnam e
querem me atacar, apesar de eu não fazer absolutamente nada para atiçá-los.
Talvez o não fazer nada seja o problema, ou talvez um olhar meu desconfiado
possa ser interpretado por eles como uma ameaça e, em defesa, partem para o
ataque. Dizem que exalamos um cheiro quando temos medo – da adrenalina descarregada, talvez? Não sei, o fato é que,
involuntariamente, provoco frustração em praticamente todos os donos de
cachorro que se vangloriam de terem verdadeiros anjos, incapazes de qualquer
reação agressiva.
Pouco importa o que me fez
ser medrosa assim, pelo uso da razão deveria ter superado essa deficiência, eu sei. Consegui
melhorar, mas o problema ainda é grave. E nesse mundo onde cada vez mais os
animais merecem mais consideração do que os seres humanos por eles próprios,
vou-me aperfeiçoando em minha índole de eremita. Graças ao
mundo virtual, posso conversar com muita gente, sem precisar incomodar seus
cachorros em seus lares.
Entre os progressos que fiz,
um deles foi ter perdido o medo dos pequenos cãezinhos e percebo que eles não
se importam mais comigo. É mais uma prova de que minha atitude tem algum efeito
sobre a reação canina. Já consegui conviver socialmente com três grandes cães
labradores o que, aparentemente, não chega a ser vantagem nenhuma, para quem não
sabe o que é ter esse medo intenso que tenho, sobretudo quando são grandes –
mesmo que sejam animais sabidamente inofensivos. Eram simpáticos bebezões de
nossos ex-vizinhos e, como eram amigos preciosos (os donos dos cães), não tive
outra opção senão tentar me acostumar com eles. Na verdade, quis mesmo usá-los
como instrumento de superação. O intento não foi um sucesso completo, nunca
consegui baixar a guarda.
Não foi surpresa para mim,
pois já tentei criar cachorro por duas vezes, com o intuito de superar o meu
problema, criando-os desde bebezinhos. Deles eu não tinha medo, mesmo depois de
adultos. Mas continuei a ter medo de cachorros estranhos. Além do mais, não fui
capaz de ser o elemento dominante da relação, eles é que me dominavam, faziam o
que queriam. Da primeira vez, tive uma cadela da raça fila brasileiro. Aos seis
meses, ela já estava maior do que eu e isso também não ajudou. Da segunda vez,
tentei um fox paulistinha, o terrier brasileiro. Também foi um desastre, ele me
driblava sem a menor dificuldade. Enfim, desisti.
Nossa vizinha do lado,
atualmente, tem um cão que parece mestiço de boxer com bulldog, talvez seja o que chamam de bulldog americano, não sei – o corpo é compacto,
roliço, nem atarracado como o bulldog, nem elegante como o boxer, entre os dois. Parece
desenho animado quando ele anda ou corre, as pernas mexem e o corpo se desloca
sem rebolado nenhum, inflexível. A cara é horrorosa, de maus bofes, apesar de
uma certa tristeza no olhar, com um prognatismo acentuado, os dentes inferiores
sempre visíveis. À primeira vista, assusta, é um "colosso" de médio porte. Mas sua “mãe” – a dona do cachorro –
nos disse que ele é um doce de criatura, acostumado com vários irmãozinhos
gatos. Não é capaz de fazer mal a ninguém, segundo ela.
Pois bem... Vocês sabem que
aqui no Canadá, nossos terrenos não são fechados por muros nem cercas. Por lei,
os cães não podem circular na rua sem guia, muito menos invadir propriedade alheia.
Os proprietários têm que se virar para que seus animais não burlem as leis. Nossos
vizinhos de frente colocaram um sistema de choque elétrico na coleira se os
cachorros se aproximam de um fio invisível (subterrâneo). Eles têm pena de usar
o sistema, mas parece que, ultimamente, os cãezinhos deles estão mais treinados a não virem esbravejar contra nós, “chez nous”... mas demorou. A nossa vizinha do
lado – a do desenho animado – colocou um sistema de cercas visíveis em torno do
terreno dela. Mas o colossinho escapa frequentemente, não sei como. Várias
vezes, o vemos passeando pela rua e, não raro, dá uma passadinha no nosso
terreno e não só aqui. Mas – pasmem! – este me obedece. Digo a ele “à la maison” e, apesar do meu sotaque, ele compreende e vai
embora. Nunca rosnou nem latiu para mim. Imaginem como fiquei encantada com
isso. Quase perdi o medo dele... até ontem.
Ontem, não sei o que deu
nele, no colossinho. Um casal, cada qual com um cachorro na guia, passou em
frente às nossas casas (sempre passa alguém fazendo caminhada, em companhia de seus cães). Não entendo de raça de cachorro, mas os do casal
pareciam muito com o nosso vizinho. Colossinho ficou uma fera, saiu desabalado e
aos gritos para atacar os seus congêneres. Foi uma gritaria canina impressionante, latidos
escancarados e ininterruptos misturados com rosnados em alto volume, dando a
sensação de que algo catastrófico estava ocorrendo. Já presenciei briga de cães
vira-lata nas ruas do Brasil, mas esta de ontem estava assustadora. E nem fugir
os outros podiam, pois estavam presos na guia. O que os donos deles fizeram foi
carregá-los no colo. E o colossinho não perdia o elã, começou a pular para
atingi-los. O ataque só acabou quando os nossos vizinhos, proprietários da
fera, conseguiram contê-la. Tomara que ninguém tenha se machucado.
Então é esta a doçura de
criatura. Fiquei decepcionada. Foi um aviso para mim, que andava confiante demais. Não faz muito
tempo, uma senhora mais ou menos da minha idade, foi assassinada por um pitbull
que a atacou no quintal dela. São inúmeros os casos de ataques, muitas crianças mortas ou desfiguradas – até recém-nascidos – por cães até então considerados dóceis. Na verdade, ninguém, nem os donos dos
cachorros podem prever esses rompantes dos bichos. Eles pensam que conhecem
seus animais completamente. Que ingenuidade! Que temeridade!
Update 27/06/2018: só porque eu disse que os cachorros dos vizinhos de frente não vêm mais, já vieram duas vezes hoje, aqui no nosso terreno... 😡
Update 27/06/2018: só porque eu disse que os cachorros dos vizinhos de frente não vêm mais, já vieram duas vezes hoje, aqui no nosso terreno... 😡
Update 11/07/2018:
depois do ataque a outros cachorros, a vizinha do lado reforçou a cerca da casa
dela.
Tenho pavor de cães. Mas para te contar uma historinha minha. Eu quando adolescente, tinha um vira-lata manso que eu criava desde pequeno. Um dia ele estava babando e eu pensava que ele estava engasgado, então meti a mão na garganta dele para procurar o que quer que estivesse preso por lá. Ele permitiu sem nenhuma reação e eu constatei que não havia nada. Agora, o pior: ele estava com raiva canina e, apesar disso, acho que me reconheceu e não mordeu. A sorte é que eu não tinha nenhum ferimento na mão e por isso não fui contaminada. Ou seja, tive muita sorte. Mas não confio em nenhum deles, mesmo os de pequeno porte.
ResponderExcluirQue perigo!!! Você foi realmente de sorte!!!!!!
ExcluirAdoro cachorros. Tenho muita experiência com eles. Já tive muitos, bravos e mansos. Só não tinha medo dos meus cachorros. Tenho medo dos cachorros alheios.
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Luiz Otávio de Lima Pereira
Gostaria de não ter o medo que tenho. É muito desagradável, acho que as pessoas não acreditam, pensam que a gente simplesmente não gosta. Se soubessem a descarga de adrenalina que a aproximação de um cachorro me provoca, teriam mais consideração, em vez de ficar falando: ele é mansinho... etc e tal... e não fazer nada para impedir a aproximação.
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