Église de Saint-André |
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Um novo padre está
celebrando a missa em nossa paróquia. Um novo idoso. Parcialmente calvo, o
restante do cabelo já completamente branco. Talvez tenha minha idade – vemos
mais velhice nos outros. Bem-humorado, gorducho, bonachão, daquele tipo que gosta
de cantar e que faz questão de se aproximar do povo, na hora de desejar a “Paz de
Cristo”, e sai apertando a mão de todos da beirada dos bancos da igreja – coisa
que eu só tinha visto antes no Brasil.
Uma certa paz – não sei se a
tão desejada – se cumpre mesmo e paira intensa durante as suas celebrações.
Entra-se num relaxamento que causa ansiedade nos apressados – confesso que tive
que me controlar para não ficar olhando para o relógio. Afinal, a missa não dura
mais que o tempo regulamentar; ele fala menos, compensando as grandes pausas
para reflexão.
Os longos silêncios estavam
reforçados por um ruído de fundo, um som contínuo e modulado. Após uma rápida
varredura investigativa do ambiente com meus olhos, para procurar a origem do
barulho e excluir a possibilidade de algum acufeno na minha cachola, atribuí o
som aos ventiladores de teto. Entreguei-me aos silêncios, finalmente, entrando
num estado quase torporoso que, com a ajuda do efeito sonoro, me transportou
aos meus plantões noturnos nos hospitais onde trabalhei.
À noite, os sons que não
percebemos durante o dia tomam vida e se incorporam ao silêncio. São aparelhagens
hospitalares, geladeiras, lâmpadas... modulações sonoras que habitam a insônia
do ofício, de vez em quando quebradas por passos no corredor, alguma tosse, uma
voz baixa, um telefone que toca, uma ambulância que chega. Isso na melhor das
hipóteses, quando choros e gemidos conseguiram ser remediados.
O nosso simpático padre estava
sabiamente nos vendo ali como seus pacientes, nesse enorme hospital geral em
que vivemos. Ele estava nos ajudando a tratar de nossas mazelas, a lutar pela
Vida da nossa alma, com paciência e dedicação. O melhor mesmo é fazer como ele: pacificar, oferecer
um bom tratamento, sem pressa. Nossa vida já é tão curta, para que correria?
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