Uma coisa puxa a outra. Li dois textos do escritor Eduardo Affonso, que
me induziram a escrever este. Os textos dele são ótimos! Como ele diz, o
critério do que é cruel ou não, ou melhor, do que é ético ou não, foi mudando,
conforme foi evoluindo a civilização. Embora não condene quem come carne, ele defende o hábito de não comê-la,
pois evita-se a crueldade com que são tratados seres sencientes e o fim que
lhes é destinado (1,2).
Recebeu críticas duras de pessoas não vegetarianas, dizendo que maltratar
vegetais seria algo semelhante. Eu mesma passei pela fase de questionar os
vegetarianos ou veganos, alegando que os vegetais também são seres vivos e que
também devem sofrer quando os extirpamos da terra – nós apenas não somos
capazes de ter empatia com o sofrimento deles, porque não se assemelha ao
nosso, já mais sofisticado, neurologicamente falando (3).
Quando me mudei para o Canadá, há 20 anos, e escutei os “gemidos” agudos
das agulhas das árvores “evergreen” (pinheiros da floresta boreal) ao serem queimadas
em pequenas fogueiras de quintal, fiquei incomodada; sei que não são gemidos,
mas o som semelhante me fez pensar que os vegetais poderiam “sentir” algum tipo
de sofrimento também.
Ainda não temos
métodos para sobreviver sem ter que abater outros seres vivos para nos alimentar,
mas penso que já é um grande passo ter empatia com outros seres do reino animal,
classificados como sencientes (4); talvez facilite nossa sensibilização ao
sofrimento até dos próprios seres humanos.
Esse tema “dá pano pra manga”. Podemos nos lembrar de religiões que preconizam
jejum e abstinência de carne, por exemplo. Seria um princípio de empatia
embutida, alguma intuição “inspirada”, alguma memória arcaica? Não quero entrar
nesta seara.
Apesar de saber que o ponto nevrálgico da nossa condição de viventes é a
morte – ela é cruel a priori – a
ideia de criar seres para matá-los e comê-los é atroz, realmente, e isso vale
para os vegetais também, claro. Talvez esta seja uma empatia cuja obviedade
ainda não percebemos completamente, nós que também nos nutrimos para servirmos de alimento,
um dia, a esse “pool” de matéria e
energia que se mantém no estranho círculo vicioso do “nada se perde, nada se
cria, tudo se transforma”.
Mas, certamente, podemos e devemos atenuar as misérias deste ciclo de
vida e morte... ferina em que vivemos. É o mínimo que se pode esperar de seres
que se autodenominam racionais, como bem explicou o talentoso escritor, Eduardo Affonso.
Não gastarei muita saliva, isto é, muitos toques no meu velho teclado de
computador, para explicar a solução que passou pela minha cabeça. Basta ir ao link
de número (5), ao final deste texto, para conhecer a técnica pela qual os
alimentos são sintetizados naquela série televisiva que eu adorava – “Star Trek”. É fascinante! Creio que não
é impossível e que a humanidade chegará lá um dia, não sem muitos debates
éticos e econômicos antes... Somos “sapiens”, mas lentos.
Bom, vou parar por aqui e desculpem-me o proselitismo de viés ético-científico.
Pelo menos, é mais tolerável do que se eu me emaranhasse num proselitismo
religioso... não o farei hoje. 😄
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