Não vou falar do brasileiro
abortado pela mãe-civilização, pois nem sei se é só uma intuição minha, um tanto emaranhada;
não tenho conhecimento suficiente de todas as implicações internacionais para
ousar explicações.
Isso está parecendo conversa
de doido? Espere só para ler o resto do que tenho para escrever... Ou melhor,
não espere, leia, por favor, o que penso do brasileiro abortado dentro do
Brasil. O que acontece lá já basta para horrorizar qualquer um e, certamente,
para o bem da mulher é que não é.
Nota de meio de página: o masculino genérico é usado sem discriminação, com o intuito de tornar
o texto mais ágil e, também, com finalidade inclusiva do ser humano macho, que
está se tornando minoria excluída – se não em número, em estima e autoestima. E,
pior, sem saber que nessa história é ele ainda o principal “ator”. Não que
seja, necessariamente, o mocinho bom ou o bandido do filme, mas é o alegado
leitmotiv dessa zorra toda, ora bolas! Tem, portanto, que ser incluído nos
debates e nas soluções.
Não estou julgando ninguém. Meu texto propõe uma reflexão, uma ajuda na tomada de decisões para tentar melhorar o futuro. O passado precisa
ser superado, perdoado, ao mesmo tempo que serve de aprendizado.
Bom, chega de ter que pedir desculpas por cada frase ou palavra que
escrevo! Desse jeito, não conseguirei parir o assunto desejado. Vamos lá...
Em muitos países, até do chamado “primeiro mundo”, apesar de todo o
suposto desenvolvimento científico, não conseguiram chegar a um acordo sobre o
que é o corpo de uma mulher e o de um embrião e, atabalhoadamente, os fundiram,
como se o novo ser pertencesse ao corpo da mãe (como se não tivesse metade de
seu conteúdo genético de outra pessoa que não a mulher que o abriga), ou
concluíram que aquilo é só um amontoado de células – e que amontoado, hein! Decidiram,
então, como coisa legal, amputar o embrião, em alguns casos até o feto,
enquanto “membro indesejado” – o que, na minha opinião, não passa de um “inocenticídio”
(desculpem aí o neologismo)!
No Brasil, ainda há uma grande parcela da população acreditando que
abortar é pecado, outra que tem convicção de que isso é crime, com base no
princípio de que o embrião que resulta da união entre óvulo e espermatozóide humanos é um ser humano e que o aborto é, portanto, um
homicídio – paradoxos da humanidade, pois num país com tão elevado índice de permissividade
ao crime, como o Brasil, a legalização do aborto é rejeitada pela maioria. Há
esperança.
Mas o “sim” para o aborto está crescendo e, quando não conseguem escapar
dos argumentos que convencem de que esse procedimento não é um direito da
mulher, qual é a justificativa que toma força? É aí que fica evidente a
genealogia do abortado e, talvez, não só do brasileiro.
Como? Se a ideia de que a mulher é dona do seu corpo, tendo o direito de abortar, não passa, vêm com a justificativa de que inúmeras mulheres
fazem aborto clandestino e acabam morrendo ou adquirindo sequelas irreversíveis
do ato praticado em condições precárias. Se pesquisarmos profundamente por que
essas mulheres procuram o aborto clandestino, provavelmente, encontraremos duas
razões principais: primeiro, porque o companheiro não está disposto ou não tem
condições para assumir a paternidade e compartilhar o sustento; segundo, porque
elas correm o risco de perder o emprego ou as chances de ter uma carreira
profissional.
No primeiro caso, embora o casal tenha grande parcela de
responsabilidade por não ter tomado precauções contraceptivas, há também a situação horrível em
que se vive no país, que não dá condições às pessoas de sustentarem uma família;
mas, francamente, sem vitimizações, é o “ator mascarado”, o macho, que é o
primeiro a abandonar ou a desencorajar a mulher, em vez de tentar batalhar por uma realidade
melhor. Isso desestabiliza o emocional dela que, em muitos casos, já vive
oprimida pelo companheiro.
E no segundo caso? É o patrão. Pode ser a patroa, mas esta também está
sob as rédeas do sistema que não dá o apoio necessário às mães. São leis que
foram feitas por homens para os homens, há muito tempo, e que vêm sendo adaptadas,
paulatinamente, mais lentamente do que a mulher tem conseguido sair da “prisão
domiciliar”, após muitos esforços reivindicatórios das feministas.
Não é à toa que as mulheres renegam, talvez inconscientemente, a
metade paterna do conteúdo genético do embrião, recusando-lhe a identidade de
um ser humano, originado da relação dela com outro, querendo dispor dele como
bem entender. No fundo, é uma reação à rejeição que elas sempre sofreram
dentro do sistema. E a corda sempre arrebenta do lado mais fraco e, nesse caso, é do outro lado da placenta – o bebê.
Sendo favorável ao aborto, a mulher está se colocando do lado do sistema
opressor. Este, quando representado pelos homens, na maioria das vezes, nem se
dá conta de que oprime nesse sentido, até porque a mulher está tomando para si
toda a propriedade do “membro indesejado”.
Há países que oferecem muitos benefícios para a maternidade, como o
Canadá – bom lembrar que o motivo não é tão bonzinho assim, há o interesse
econômico em incentivar a natalidade, pois o país tem crescimento demográfico
insuficiente, vai acabar faltando mão de obra. Mas é por esses benefícios para
a maternidade que deveríamos lutar, tanto os homens quanto as mulheres.
Querer resolver os problemas da mulher – que, como já disse, não são
exclusivos dela – com o aborto denota uma visão distorcida da realidade; nada
justifica o ato de matar um inocente embrião, que é um ser humano.
Pronto, essa discussão levanta a lebre para uma outra. Surge, repentina,
a pergunta: - E os embriões de laboratório? Na minha opinião, dá na mesma, melhor
não concebê-los, se for para, deliberadamente, depois, matá-los... se não
quisermos ficar dependurados nos galhos das árvores genealógicas dos abortados,
como ancestrais de um erro.
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