terça-feira, março 22, 2016

Paradoxo e dissonância cognitiva

Também publicado pela KBR Digital, em 22/03/2016:
https://cronicasdakbr.kbrinternational.org/2016/03/22/paradoxo-e-dissonancia-cognitiva/
http://www.kbrdigital.com.br/blog/paradoxo-e-dissonancia-cognitiva/
e
https://www.cronicasdakbr.com/2016/03/22/paradoxo-e-dissonancia-cognitiva/

(Leon Festinger, psicólogo norte-americano (1919-1989) tornou-se Bacharel em Ciência pelo City College de Nova Iorque e desenvolveu a Teoria da Dissonância Cognitiva)


Escrevi este texto no intuito de tentar contribuir de alguma forma para diminuir um pouco os conflitos que estão dividindo a população brasileira; tentando entender a tolerância de alguns com relação à corrupção monstruosa institucionalizada pelo PT. São pessoas que, como várias conhecidas minhas e estimadas (alguns médicos, portanto instruídos), ainda defendem esse partido. É um fenômeno que me intriga, pois não duvido da honestidade dessas pessoas que conheço, muito pelo contrário.
Em conversa com um médico, amigo meu, acabamos chegando a uma hipótese que julgamos plausível, mas que merece ainda muita reflexão, e a uma conclusão.
Concluímos que é muito importante não ofender esses petistas "bem intencionados", como temos visto acontecer tão frequentemente, pois não resolve nada, só piora, porque eles se sentem extremamente honestos. Nesses casos, dos petistas instruídos e honestos (excluindo-se os que levam vantagens e os que estão diretamente implicados nos meandros do Foro de São Paulo), parece que caíram na chamada Dissonância Cognitiva.
Segundo essa teoria, todos nós usamos este mecanismo de defesa psicológico, automaticamente, conforme fui informada (não sou especialista), em maior ou menor grau de complexidade, para não nos contrariarmos. O perigo é nos auto-enganarmos. Um exemplo bem simples, do meu cotidiano: sei que preciso fazer uma caminhada todos os dias. Um dia, não vou. Aí passa pela minha cabeça que foi até bom não ter ido porque estava muito frio, poderia pegar um resfriado. É o meu cérebro tentando conciliar a minha atitude com a minha convicção, com a minha consciência. É um exemplo simplista, mas dá para ter uma ideia.
Por favor, leiam a sequência abaixo, supostamente com relação a essas pessoas que apoiam o PT e me digam se concordam.
1. Tiveram boa noção de honestidade em sua formação.
2. Foram bem educados de modo a querer a igualdade entre os seres humanos ou se chocaram ao presenciar situações graves de desigualdade.
3. Foram bem motivados a rejeitarem atitudes contrárias a 1 e 2.
Os 3 primeiros itens são sólidos em seu caráter, o que é bastante louvável.
4. Acreditaram muito no PT como portadores e realizadores desta nova ordem de coisas.
5. Investiram muito psicologicamente (muitas vezes até financeiramente) para chegarem próximos à realização de uma utopia.
6. Tiveram uma sensação de grande felicidade em contribuir para o bem da humanidade (pelo voto e outras contribuições).
Os itens 4, 5 e 6 representam um engajamento de corpo e alma, uma crença em que apostaram com fé... como numa religião.
7. Vieram as acusações e provas de desonestidade e populismo por parte do executor da utopia (PT).
8. Estas pessoas sofreram um aviltamento terrível em suas convicções.
9. Encontram dificuldades em aceitar a perda de tudo aquilo em que acreditavam e depositaram em confiança ao PT (dissonância cognitiva).
10. Tentam achar a culpa em outras entidades, fora do PT (tentativa de resolver o conflito interior).
11. Tentam minimizar a culpa do PT, em prol da realização da utopia, incapazes de aceitarem o fracasso daquilo em que acreditavam (tentativa de resolver o conflito interior). Tentam minimizar a culpa também pelo processo de encontrar culpa em outros.
Ora, quanto mais são acuados e pressionados por seus opositores, mais se sentem conflituados. Além do mais, as cobranças “dos dois lados” ativam reações de defesa sob a forma de ataque. E os conflitos se perpetuam, deixando a nação dividida, em frangalhos.
Muito mais simples seria para todos o fato de compreenderem que a intensificação no combate à corrupção não tem sua origem em nenhuma disputa interna do nosso país. Essas investigações e punições vêm sendo fortemente recomendadas pela Organização das Nações Unidas.
Já ficou devidamente esclarecido que a situação de miserabilidade em que se encontram dois terços da humanidade se deve, em grande parte, à corrupção que grassa no planeta, principalmente nos países do terceiro-mundo, onde a população ignorante não é capaz de exigir seus direitos, sequer de ter conhecimento deles. A determinação feita pela organização é para que máximos esforços se façam para combater a corrupção.
Para tal, existem modelos de estrutura policial e judiciária que são recomendáveis, e estão sendo usados em vários países, para que as ações de investigação e punição não possam ser coibidas por interesses escusos nem sujeitas a embaraços. Assim tem agido a UPAC (Unité Permanente Anticorruption) no Quebec, bem como em todo o Canadá.
Recentemente, uma ex-vice Premier do PLQ (Partido Liberal do Quebec), entre outros, foi presa, situação rara por aqui, e o Ministro da Segurança Pública disse que "é importante lembrar que não há absolutamente ninguém acima da lei, e que a UPAC deve fazer e faz seu trabalho de forma independente."
O atual Premier, que é do mesmo partido, está com as barbas de molho, as investigações ainda não terminaram. Leiam o artigo sobre o assunto[1], é interessante; há semelhanças e diferenças com os casos do Brasil.
Entre as semelhanças, está o fato de haver uma equipe que funciona de modo bastante parecido com o da equipe do Juiz Sérgio Moro, no Brasil, da qual tenho podido me orgulhar e, quando alguém aqui no Canadá me questiona sobre o que está-se passando no meu país de origem, posso responder de cabeça erguida que temos uma “UPAC” lá também.
Entre as diferenças está o fato de o povo todo aqui estar querendo a punição aos corruptos, e não são necessárias manifestações para isso, a punição vem. Não há ninguém da população, mesmo os partidários do PLQ, ninguém a favor dos corruptos. Todos querem limpar esta mancha imediatamente.
Quando se tenta levantar do berço esplêndido um Brasil adormecido, quando alguém tenta agir conforme as tendências mundiais anticorrupção, padrão primeiro-mundo, vêm as críticas um tanto paradoxais... na verdade, tento compreender esse tipo de reação, mas não consigo. Como assim? Isso é um desejo de que o Brasil fique eternamente fadado a ser um país do terceiro-mundo? É isso mesmo que querem?

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