Li um texto sobre os últimos
acontecimentos no Rio de Janeiro, ótima análise de Vânia Gomes (clique aqui para ler), nos lembrando
que a corrupção está disseminada no Brasil, não está centralizada em Brasília nem no Rio.
Penso,
porém, que o Rio continua sendo quem dita as tendências do Brasil. Deixou de
ser a capital do país em 1960, mas continuou sendo o pólo de muita coisa boa,
mas de muita coisa ruim também, como a corrupção. Mesmo no caso do Aécio, citado no texto, aquele
que foi apelidado de "menino do Rio", apesar de mineiro – de onde vem
todo o seu poder? Fico intrigada com isso.
Salvador
e Rio ficaram com a marca de terem sido capitais e, até hoje, arrastam esse
mito, essa pseudossuperioridade, inconscientemente, na cabeça de todos nós,
brasileiros. E a coisa passa de geração a geração, mesmo os jovens assimilam
essa mensagem subliminar que paira no país. Não podemos negar, no entanto, que “fica
sempre um pouco de perfume” em quem já tocou em rosas, um pouco de “majestade”,
em quem já foi rei. A população das antigas capitais guarda, naturalmente, um
trato cultural e social mais apurado, que se perpetua, mesmo que seja só
oralmente, quando as instituições não se mantêm.
Infelizmente, fica também um certo mau cheiro em quem já lidou com chiqueiro... o lamaçal do poder corrompido, ou melhor, a areia movediça que afunda quase todos que chegam ao poder e que acabam
atendendo aos chamados da "sereia" que habita os pântanos da corrupção.
Posso
estar enganada, depois de tantos anos fora do Brasil. Mas a "mentalidade"
de um povo não é coisa que muda em duas décadas.
Esse
traquejo cultural e social a que me refiro não é necessariamente ligado a um
nível acadêmico mais elevado, e mantém-se, igualmente, uma certa mentalidade
tacanha em algumas camadas da população, o que denota ausência de diversidade nas opções de vida. Exemplo disso foi a declaração do menino, passista de samba, que se
apresentou na Abertura dos Jogos Olímpicos, sobre a qual escrevi, em 2016 (clique aqui para ler texto completo):
“Achei tudo lindo, tudo! Também fiquei
encantada com aquele menininho sambando tão graciosamente. Mas, depois, ao ler
reportagens sobre o evento, fiquei com o coração apertado pelo que foi falado
sobre o pequeno passista. Disseram que o seu sonho é desfilar pela Mangueira e
ter vida de artista.
Não que eu tenha alguma coisa contra isso. Sempre gostei de assistir aos
desfiles de escolas de samba do Rio, são um espetáculo grandioso. Mas eu
preferiria que o seu sonho fosse estudar e se formar em alguma coisa. Talvez ele tenha esse sonho também,
não sei. Mas o fato é que constatei, através do depoimento da criança, que
pouca coisa ou nada mudou. Desde que me entendo por gente – e isso não é pouco
tempo – lembro-me de declarações desse tipo, de pessoas de origem pobre, no
Rio, que sonhavam ser artistas em escolas de samba. Convenhamos que, hoje em
dia, há uma vantagem nisso, ou seja, o fato de não sonhar em ser traficante de
droga já é lucro.”
Talvez
toda essa influência exercida pelo Rio em todo o Brasil se deva, também, em boa
parte, ao fato de a sede da maior rede de televisão brasileira estar situada no
Rio de Janeiro, de onde, inegavelmente, emana verdadeiros comandos de
comportamento, que atingem o povo de cheio.
Nem
a cidade de São Paulo, sendo o maior centro econômico, consegue superar essa
capacidade de influenciar o país. Tenho a impressão de que o povo paulistano,
de um modo geral, é muito mais conscientizado, no bom sentido. Mas só de vez em
quando consegue fazer o país embarcar na onda deles, como aconteceu com as fantásticas
manifestações de 2013. Mas São Paulo também está atolado na corrupção, o Brasil
inteiro está, infelizmente.
Mesmo
assim, tenho confiança no povo brasileiro. O Rio de Janeiro sempre soube superar seus
problemas com arte e brilho, talentos do seu povo, espelhando o contexto do
resto do país. Tenho esperança de que melhores dias virão para a Cidade Maravilhosa e espero que o Brasil também siga esta tendência, mais
uma vez.
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