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“A resposta instintiva ao afogamento é silenciosa e limitada a movimentos sutis” Dr. Francesco A. Pia
Ficamos todos consternados
com a morte do ator brasileiro, no Rio São Francisco. Eu mesma, que já estou há
tantos anos morando fora do Brasil e nunca tinha ouvido falar dele, fiquei
muito triste e também preocupada com o estado psicológico da atriz que o
acompanhava no momento do afogamento; não deve ser fácil presenciar um
acontecimento como esse, sem poder ajudar.
O depoimento que ela deu
pela televisão me remeteu a um episódio que aconteceu comigo, eu me lembrei da
reação que tive, quando quase me afoguei. Houve comentários achando estranho o
que ela disse, por exemplo, que o ator parecia paralisado; alguns até pensaram
em desígnios sobrenaturais. Isso porque muitos imaginam que as pessoas gritam e
se debatem quando estão-se afogando. Pode até ser que haja esse tipo de
comportamento, mas parece que a reação clássica é mesmo muito "discreta", aos
olhos dos outros. Para quem não foi treinado para identificar determinados sinais, o quadro pode não ser muito evidente.
Têm surgido algumas
publicações na web, tentando entender o que pode ter acontecido, explicando
como reagem as vítimas de afogamento. Também eu quero contribuir para esses
esclarecimentos, principalmente com o intuito de apaziguar possíveis inquietudes, mas também para alertar os desavisados,
com o relato do meu próprio comportamento.
Quando aconteceu comigo,
creio que tive o que chamam de “resposta instintiva ao afogamento”, que é uma
“reação silenciosa e limitada a movimentos sutis”. O fato ocorreu durante um
curso de natação. Eu estava sozinha numa piscina para principiantes e o
instrutor, vendo que eu ia bem nos primeiros movimentos, me deixava ir
praticando e ia para outras piscinas dar instruções a outros. Num dado momento,
fiz um movimento mais brusco e meu corpo virou, e eu não sabia ainda como me
desvirar, eu ainda não sabia lidar com meus gestos no meio aquático. Não
gritei, nem me agitei, a prioridade era respirar; e o pouquíssimo tempo em que conseguia manter a cabeça acima da água, nem dava para completar um ciclo de respiração, muito menos falar alguma coisa. Acho que fiquei tão surpresa com aquilo, que fiquei
tentando raciocinar e manter minha cabeça fora da água, mas não conseguia,
ela voltava a submergir. Não sei quanto tempo durou.
A sorte foi que, nessa hora,
o instrutor devia estar passando por perto e me viu afogando, porque comecei a
ouvir sua voz a conversar comigo, me dando instruções de como sair daquela
situação... Minha atenção se voltou para a audição, para a voz dele. Tentava
fazer os movimentos que ele recomendava, mas fracassava e meu corpo voltava a
fazer as mesmas tentativas infrutíferas de antes.
O estranho é que, ouvindo
aquela voz, fui tomada por uma calma tão lerda – na certeza de que ele me
salvaria – que, se ele não tivesse decidido me puxar para fora da água, acho
que eu teria morrido calma e tranquila. Apesar de estar consciente, estava-me
sentindo completamente incapaz de me livrar daquela situação, e passei a ter
certeza de que ele, sendo um professor de natação, veria o que estava
acontecendo e seria hábil o suficiente para me salvar. Este pensamento me
acalmou. Ainda bem que ele viu mesmo. Isso não deve ter durado mais do que
alguns segundos, mas parecia uma eternidade.
Quando fui colocada a salvo,
foi difícil conseguir voltar a respirar. Só conseguia expirar, num tipo de
tosse explosiva, repetidas vezes, sem intervalo para inspiração, e só saía água
em forma de múltiplos, pequenos esguichos. Isso me causou muita aflição.
Provavelmente, quando ele me
retirou da água, eu estava na fase de fechamento da laringe, uma reação
fisiológica de defesa que ocorre antes da inundação dos pulmões. Que sensação de alívio
quando eu consegui, finalmente, inspirar um pouco de ar!
Foi aí que percebi que todos os olhares de quem estava na academia estavam apreensivamente voltados para mim... Passado o susto, veio a vergonha de ter quase me afogado numa piscina sem muita profundidade.
Foi aí que percebi que todos os olhares de quem estava na academia estavam apreensivamente voltados para mim... Passado o susto, veio a vergonha de ter quase me afogado numa piscina sem muita profundidade.
Podem rir, mas, por favor, leiam
o artigo no link abaixo, pois é muito importante saber isso. O texto é muito
esclarecedor:
Essas informações são muito importantes, tia Du! Realmente construímos uma imagem muito equivocada de que a pessoa afogando dá claros sinais do que está ocorrendo.
ResponderExcluirExatamente! O tempo que a gente tem com a cabeça fora d'água não dá nem para completar um ciclo de respiração, então, não dá para falar nada. E, pela descrição da Camila Pitanga, sobre o Montagner, quer dizer que mesmo a pessoa sabendo nadar, quando o processo de afogamento se inicia, a pessoa entra num ciclo vicioso sem volta, se não houver ajuda. Quando ela explicou que ele não fazia os gestos de nadar com os braços, em seguida, ela abriu os braços e fez exatamente a mise en scène do ato reflexo de quem está afogando: os braços tentando se apoiar na água, como se a água fosse dura para a gente se apoiar nela, na tentativa de pôr a cabeça pra fora. Puro reflexo. Ai, me deu até aflição de lembrar.
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