Até meados do século XX, nos anos
1950, o sistema telefônico era ainda muito precário, embora significasse um
grande desenvolvimento nas comunicações. Na zona rural do Canadá eram
oferecidas linhas compartilhadas (lignes partagées, party lines, shared service
line – também nos Estados Unidos). Quando um telefone tocava na casa de alguém,
os que compartilhavam a linha ouviam um sinal e sabiam que não era na casa
deles. Mas havia os curiosos que punham o aparelho no ouvido, para escutar a
conversa; o sistema não tinha privacidade garantida, embora pudesse ser ouvido
um “clic” quando o curioso tirava o aparelho do gancho, correndo o risco de
levar uma bronca do outro lado. Já ouvi muitos casos anedóticos dessa época, em
reuniões familiares, por aqui.
No Brasil, do que me lembro, nos
anos 1960, as linhas eram individuais, em Belo Horizonte. Supostamente, as
ligações não deveriam ser partilhadas com outras casas. No entanto, acontecia,
com certa frequência, de ouvirmos pequenos ruídos no aparelho e, quando retirávamos
do gancho para verificar, havia gente conversando em outra linha. Claro,
mandava a boa educação que desligássemos o telefone imediatamente, para não
ficar ouvindo conversa dos outros e, às vezes, a
gente até avisava: " – Ó, tá dando para ouvir a conversa de vocês."
Também quando estávamos em uma ligação, por vezes, ouvíamos um estalido,
dando a impressão de que mais alguém havia se juntado a nós, na escuta.
Por ser mais antiga, portanto tendo
vivenciado mais falhas da incipiente comunicação por telefone, minha mãe
costumava nos advertir, dizendo baixinho, para o interlocutor não ouvir, – “Olha a linha cruzada” – ao mesmo tempo
que fazia um gesto com as duas mãos, cruzando os dedos, toda vez que ela achava
que estávamos falando algo impróprio ou comprometedor.
Depois
a coisa melhorou, telefone grampeado só mesmo por autoridades com mandato para
tal. Mas minha mãe continuou sempre
a fazer a advertência, mesmo depois que julgávamos que a telefonia já estava
mais segura. – “Nunca fiando” era outro
bordão que ela usava, para diversas circunstâncias.
Atualmente,
apesar da enorme evolução da
tecnologia, tudo pode vazar, nem sempre por mandato
justificado, muito menos por motivos nobres. Como eu gosto de dizer, é muito difícil impugnar qualquer coisa que minha mãe dizia... Ela estava certa ao afirmar que não se podia confiar em
nada.
Por
essas e por outras, temos que pôr na cabeça que, o que não pudermos falar em um
microfone para qualquer um ouvir, é melhor não falar de jeito nenhum. Está
faltando pouco para lerem o pensamento da gente... e parece que já estão
estudando esta possibilidade.
~~~~
Links relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário