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(Com a colaboração de meus irmãos e amigos, em muitas noitadas de conversas, regadas a café com leite, com pão e manteiga 😊... Saudades... ultimamente a seco, pela internet)
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(Com a colaboração de meus irmãos e amigos, em muitas noitadas de conversas, regadas a café com leite, com pão e manteiga 😊... Saudades... ultimamente a seco, pela internet)
Para o catolicismo, a
Criação é compatível com a Teoria da Evolução de Darwin – vários papas já se
pronunciaram a esse respeito e essa “acomodação” entre religião (católica, é
bom frisar) e ciência vem progredindo cada vez mais. É possível argumentar,
nesse sentido, baseando-se nas conclusões dos estudiosos dessa esfera de
conhecimento, sem ferir a lógica.
Sei que não tenho cabedal
para explicar toda a doutrina e, mesmo que tivesse, não poderia resumir, em um
modesto texto, reflexões e teorias acumuladas em milênios, por homens sábios e
inspirados. Mesmo assim, estou fazendo este exercício mental para mim mesma,
pois há muitas questões que pairam sem respostas definitivas. Quando alguma
coisa me incomoda – embora eu me ancore na fé –, escrever me ajuda muito a colocar em ordem ora meus pensamentos, ora meus sentimentos. Se for bom para outros,
“tant mieux”.
Nós nos interrogamos, muitas
vezes, por que Deus, em sua bondade infinita, não vem em auxílio dos
sofredores. Se nós, que nem somos tão bons assim, somos tomados de compaixão e
tentamos abrandar o sofrimento das pessoas, principalmente das que amamos, como
é que Deus, que nos ama tanto, não vem nos socorrer? Partindo desse princípio,
muita gente passa a acreditar que Deus não existe e que o universo em que
vivemos é obra do acaso.
Usando, até certo ponto, a
técnica do “advogado do diabo”, conseguimos depurar o pensamento de muitas
futilidades. Gosto de usá-la, isso é muito útil. Para quem não sabe a origem da
expressão “advogado do diabo”, o link no final do texto explica muito bem [1].
- Em primeiro lugar, não podemos nos esquecer de que nossa inteligência
acabou de emergir, de se organizar em pensamento, minimamente, em precárias e
frágeis conexões neuronais, no correr duma saga penosa de evolução dessa vida
que conhecemos, e na qual conseguimos, ainda com muita dificuldade, manter o
corpo erguido contra a gravidade, num estado em que dependemos de muitas
reações químicas, físicas e sei lá mais quantas. É impossível querer encaixar
tudo em nosso parco entendimento, querer explicar tudo através de nossa
percepção das coisas.
- Isso mesmo. Sempre tento-me lembrar disso, quando me empolgo muito em
deduções e dúvidas.
Por que existe o sofrimento?
O sofrimento é consequência do “pecado original”, na explicação da Igreja. Nessa
nossa era da informática, gosto de fazer uma analogia entre o pecado original e
um “bug” no computador. Quem usa computadores com muita frequência,
provavelmente, já viu acontecer alguma falha desse tipo. Às vezes, um bug faz o
computador travar e só é possível reativá-lo se o reiniciarmos. Quando a falha
é mais grave, mesmo após ser reiniciado, o computador não vai funcionar em sua
capacidade plena e normal. Ele vai passar a apresentar “sofrimentos”. Já
adotei, também, uma outra analogia, na maior cara de pau – os teólogos que me
perdoem – a de comparar o “reiniciar” do computador com o “Big Bang”.
O universo foi reiniciado
após o pecado original, com todo esse sofrimento que constatamos nele, sem sua
capacidade plena e normal... Voilà.
- Essa analogia não foge ao que é dito nas Sagradas Escrituras? No
Gênesis?
- De modo algum. Pelo relato do Gênesis, tudo ia bem, até que Adão e Eva
(representação icônica daquela humanidade) desobedeceram. Após essa falha, eles
entraram em grande decadência e, com eles, todo o sistema de vida. As coisas
passaram a ser da maneira como aprendemos na nossa “ciência”, como a matéria
vem evoluindo – e que sofrimento
atroz até se chegar a um ser pensante! –
dentro desse processo doloroso que promove e leva à finitude. Os vários
elementos do material de que é feito o universo – matéria/energia – vão-se
rearranjando na construção de vários tipos de corpos, sistemas... Essas formações
vão-se perdendo, em seguida, e outras vão-se formando, para se perderem, cada
uma por sua vez, usando um “pool” de material autorreciclável – isso é como um
“loop infinito”, um círculo vicioso!
- Insistindo ainda no Gênesis, como dar-lhe credibilidade? Existem
outros relatos semelhantes feitos por outros povos. Isso não seria uma lenda literariamente
recontada como se fosse algo considerado verdadeiro?
- Penso que esses relatos todos são fruto de reflexões inspiradas. Do
mesmo jeito que filósofos, matemáticos, físicos do nosso tempo pegam o bonde
andando nos estudos de seus predecessores, assim também deve ter acontecido com
aqueles escritores do Antigo Testamento, num linguajar que, muitas vezes, é ou
nos parece ser alegórico e poético – já faz tanto tempo, a maneira de encarar a
ciência era outra.
Sem divagar tanto, o que
está sendo colocado em xeque nas minhas interrogações aqui, como
disse no início, e que coloco como ponto de partida para puxar o raciocínio, é
a bondade de Deus no “tutorial” católico... Considerando-se que só Deus
é bom (palavras de Jesus Cristo em Mateus 19:16-22), consequentemente,
ninguém mais é bom, ou seja, ninguém nunca experimentou o que é ser bom. Logo,
o que chamamos de bom, mau, bem ou mal, não tem nada a ver com a bondade de
Deus. As expressões que usamos, como "Deus é bom", "Deus é Amor", são o que temos para articular palavras, nos limites de nossa anatomia, digamos assim, mas estão muito longe de qualquer precisão.
- Dentro do nosso contexto humano, a dualidade bem e mal tem gradações e
é avaliada e percebida de forma variada de uma comunidade para outra. Somos
muito primitivos, ainda em fase de formulação do que é bom e do que não é.
Nenhum de nós consegue ser
somente bom, nem somente mau. Essas intensidades diferentes de bondade ou
maldade são, no final das contas, variantes de sofrimentos que apresentamos. Se
falarmos numa linguagem que costumamos usar no meio médico para quantificar, grosso modo, um dado biológico ou
mórbido, poderíamos dizer: com aquela atitude, fulano apresentou bondade quatro
cruzes (++++)... digamos assim.
- É... a diferença deve estar no SER e no TER. Ser bom só Deus. Nós
conseguimos TER graus variados de bondade.
Todo sofrimento nos
incomoda. Aí também há uma gradação, um limiar. Uns sofrimentos nos incomodam
mais que os outros. O sofrimento dos outros nos incomoda também em
intensidades variadas. Enfim, vivemos dentro de uma desordem difícil de
compreender, um contexto, às vezes, difícil mesmo de aceitar. Somos defeituosos,
não somos perfeitos.
Não dá para compreender um Deus perfeito, que é pura
bondade, baseado no que chamamos de bom, entre nós. Não sabemos o que é isso. Somos incapazes de imaginar Deus. Nas palavras de
Santo Hilário de Poitiers: “Para O
exprimir, as palavras só podem calar-se; para O sondar, o pensamento fica
inerte; e para O alcançar, a inteligência sente-se limitada.”(De Trinitate, Hilário de Poitiers)
- Tudo é sofrimento nesta nossa dimensão, em maior ou em menor escala. Compreende-se
que, se Deus viesse nos socorrer a cada vez que alguém padece com um câncer, a
cada vez que há uma guerra, seria como tratar uma folha na extremidade do ramo
de uma árvore, enquanto o que está podre é a raiz. Por que não curar a raiz,
então?
- De acordo com o “tutorial”, a raiz já foi tratada, com a Ressurreição
de Cristo, vencendo toda essa degeneração que redunda na morte.
Resta-nos seguir Jesus, a
encarnação da Palavra de Deus, que sofreu, morreu e ressuscitou, para nos
resgatar desse defeito que ficou em nossa raiz, desde o famoso “Pecado
Original”. E, ainda segundo os entendidos, esse Evento Redentor vale para todos,
antes, durante e após o período em que Jesus viveu entre nós. Eles se baseiam e
se inspiram em muitos indícios e evidências para isso – assunto que dá pano
para manga, nem vou tentar escrever sobre isso agora.
- Se Deus é bondade pura, logo não pode ter criado o mal; como, então, o
mal se apresentou à humanidade, provocando sua falha e decadência? Por
intermédio de um outro elemento da Criação? Mas de onde vem, se Deus não criou
o mal? Ou criou? Além de ter dado o livre arbítrio às suas criaturas, pôs
disponível uma opção diferente do que era bom? Esta história está muito mal
contada.
- Claro que está mal contada! Nós não somos capazes de explicar nem o
que acontece conosco hoje, como explicar tudo isso? Tampouco é mais avançado imaginar um universo completamente
ao acaso, surgido de uma energia eterna? Ou do nada? O que é o nada? Essa ideia
me faz lembrar de uma fase atrasada da ciência, em que se acreditava na
“geração espontânea”, considerando possível a formação espontânea de
determinados seres vivos a partir de matéria orgânica, de matéria inorgânica ou de uma combinação de ambas –
larvas de mosquitos brotando espontaneamente de um pedaço de carne. A
comparação é grotesca, mas bastante válida.
- E se não houve pecado original nenhum? Ou seja, e se Deus criou o
nosso universo da maneira como o conhecemos, com essa evolução de matéria e
energia, para que surgisse nele o ser pensante? Aos poucos, este ser iria
adquirindo “bondades”, até estar configurado de tal maneira a ser capaz de receber
e assimilar a Sua Palavra (Jesus) e, com Ele, adquirir a “bondade” mais difícil
– a eternidade.
- Pode ser... Porque a ideia de que Deus tivesse criado um universo
perfeito que deu origem ao ser humano, um ser “bom” como Ele é – que seria, então, um clone
de Deus – me parece tão grotesca como a das larvas brotando do pedaço de carne.
Logo, se o universo criado não era perfeito, continuou não sendo, mas
evoluindo...
Chega, por agora... Penso
que nossa inteligência ainda não é capaz de compreender tanta coisa relacionada
às nossas origens! Ainda falta muito estudo... muito ainda o que desenvolver! E, provavelmente, nem assim.
Por isso mesmo, quero entrar
no clima do Natal, que comemora o nascimento de Jesus, cujo legado, com Sua
Palavra de Amor e evidências de prodígios, está ao nosso alcance. Precisamos
nos ater mais aos Seus ensinamentos.
Para sempre seja louvado!
Feliz Natal a todos!
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