O mês de novembro é sombrio em muitos lugares do planeta. No hemisfério norte, onde vivo, é o mês em que mais sentimos a perda de luz do sol, embora a obscuridade ainda não tenha alcançado o seu máximo. A temperatura cai consideravelmente e ainda não há neve suficiente para refletir e potencializar a claridade que nos resta. No hemisfério sul, apesar de a luz do sol estar em ascensão, é tempo de chuvas torrenciais em muitas regiões, o que acaba por esconder a claridade.
No início do mês, acontecem as comemorações de Todos os Santos e de Finados, nos levando a reflexões sobre o além-túmulo. Convenhamos que, por mais fervorosos que sejamos, por mais alegria que possamos ter desenvolvido com a esperança na Eternidade, somos invadidos por sentimentos tristes, lembrando-nos de nossos entes queridos que já se foram.
Em suma, o mês de novembro é lúgubre, em minha opinião.
Estou vivendo um ano particularmente melancólico, pois fiquei « órfã » de meu marido há dez meses. Não gosto da palavra « viúva » e estar órfã parece que se encaixa melhor ao meu caso. Meu marido era tão protetor e provedor, que fiquei mesmo muito dependente dele, sentindo-me desamparada após a sua morte.
Ele levou muito a sério o compromisso assumido durante os trâmites para a obtenção de minha cidadania canadense, de ser responsável por mim. E nunca mais deixou de ser, o que considerava, também, um compromisso do matrimônio. Apesar de sempre ter sido uma pessoa independente, tornei-me presa feliz desse amor cheio de cuidados e atenções, que eu retribuía da melhor maneira que podia, mas ele era imbatível.
Nós nos amávamos cada dia mais, cada vez mais alto era o grau da nossa felicidade. Como diz o ditado, quanto mais alto, maior o tombo. A perda do meu amor foi um tombo descomunal.
Mas nem tudo são lugubridades, amarguras, há também sincronicidades e canduras, para consolar o meu coração. Usei a palavra sincronicidade, que parece ser a preferida por muitos por aqui, tenho notado isso. Para esse fenômeno, as minhas palavras preferidas são Providência Divina ou Consolação, conforme o caso. Vou contar para quem me lê uma das Consolações que recebi.
No Dia de Finados, pensei o dia inteiro no meu marido, mais ainda do que todo dia, e em outros entes queridos já falecidos; rezei muito. As lembranças dele ainda estão muito intensas, assim como o sentimento de perda. Ao sair de uma mercearia, naquele dia, qual não foi a minha surpresa ao ver estacionada, bem ao lado do meu carro, uma caminhonete idêntica à do meu marido, um modelo que nem é fabricado mais. Nunca tinha visto outra igual, antes. Foi, sem dúvida, uma enorme Consolação, da tristeza passei a um sentimento de paz muito confortável.
Carl Gustav Jung teria, provavelmente, catalogado esse caso como uma sincronicidade, entremeando conceitos até de física quântica.
Sou médica, prezo enormemente a nossa ciência – ainda que incipiente – respeitando a dignidade humana. Reservo-me o direito e a coragem de acreditar em outros ramos da ciência, ainda insondáveis para nós, outras « instâncias ». « Le Tout Autre », nosso Amor Maior... sem sentimentalismos, creiam.
Deus não tem sentimentalismos, mas Ele é misericordioso, nos acode de algum jeito, quando estamos « au bout du rouleau », quase sem mais nenhum recurso... mesmo que não seja para mudar o curso dos acontecimentos, mesmo que não seja um milagre. Nem sempre nos é dado compreender, entretanto, como e por quê. Todos nós recebemos Consolações, mas nem sempre sabemos reconhecer e interpretar as delicadezas desse Amor desconhecido da nossa ciência.
Acho que a Psicologia é o estudo que está mais próximo de, um dia, poder perscrutar instâncias da alma ainda ignoradas, no caminho do que denominamos, hoje, sobrenatural. A Psicologia, a meu ver, será a mais apta para ajudar a « faire la part des choses », evoluir no esclarecimento de uns tantos canais ainda camuflados para os nossos olhos míopes.
Tenho-me beneficiado, pela grande « sorte » – Providência Divina – de ter psicólogos gabaritados na família, que têm-me guiado na travessia desses momentos difíceis, e da ajuda preciosa da família do meu marido e amigos aqui de Québec, assim como da minha família e amigos do Brasil.
A todos, meu muito obrigado! Nunca terei palavras suficientes para agradecer.
Sigo com minha fé.
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« Jesus, Maria, José, meu coração vosso é. »
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