sexta-feira, agosto 21, 2020

Sismo... “Em cismar, sozinho, à noite“


De 19 para 20 de agosto de 2020, já passada a meia-noite, meu marido acordou com a cama sacolejando e teve a impressão de que eram abalos sísmicos; após um tempo o fenômeno se repetiu, já estando ele acordado, o que o fez pensar que não tinha sido um sonho. Eu não percebi nada, não acordei.
Fomos verificar o registro de sismos no Canadá e houve um de fraca intensidade, não muito longe daqui, mas na noite anterior. Pode ser que ele tenha-se confundido, que tenha sido no outro dia mesmo, pois achei a descrição do movimento idêntica à que vivenciei, há muitos anos. Já escrevi sobre isso, vou contar de novo.
Eu nunca tinha “sentido” um terremoto antes de me mudar para cá. Quando criança, os estrondos surdos que ouvíamos, que faziam tilintar os cristais na cristaleira de minha mãe e tremelicar as janelas, nos faziam pensar que fossem terremotos. Mas havia sempre alguma voz que vinha tranquilizar a todos, dizendo que eram as detonações de dinamite nas minas subterrâneas da cidade vizinha, Nova Lima. 
Nada para tranquilizar, saber que havia explosões abaixo dos nossos pés. Essas perfurações foram feitas em vários sentidos, como formigueiros, havendo galerias subterrâneas que chegam a ir além da Praça Sete, no centro de Belo Horizonte. A “Mina Grande” do grupo “Morro Velho” já está desativada, mas ainda existem outras que continuam extraindo o nosso ouro. Essas minas de Nova Lima são exploradas por companhias inglesas desde 1834, até hoje [4].
Pouco tempo depois que me mudei para o Canadá, fui acordada por um abalo sísmico, 4,7 na escala Richter. Não estávamos no epicentro, mas mesmo assim foi o suficiente para me arrancar do meu pesado sono matinal. Atordoada com o despertar forçado, não associei o sacolejar da cama ao barulho estranho que vinha das profundezas do meu travesseiro, um som grave como se fosse um motor possante longínquo ou talvez um rosnado... Isso, um rosnado de uma enorme caixa acústica distante. Só fui pensar no barulho mais tarde, diga-se de passagem, com uma sensação horrível em retrospectiva. De imediato, a minha impressão foi de que o movimento rápido da cama para um lado e para o outro, repetidas vezes, fosse uma brincadeira de mau gosto do meu marido, para me acordar. Imaginem que cena... Levantei a cabeça, já interpelando: - O que é isso? 
Estava realmente perturbada com aquilo, pois ele nunca havia feito nada parecido e nem seria possível para ninguém agitar a cama naquela rapidez, como se fosse uma leve bandeja nas mãos. Ao perceber que estava sozinha no quarto e que não havia mais movimento nenhum, pensei: Será que foi um pesadelo? Não, não podia ser, eu ainda estava sob o impacto daquela sensação desagradável tão real e que não tinha nada a ver com vibrações de dinamitação.
Fui procurar meu marido e ele, tranquilo no seu computador, respondeu à minha pergunta, antes mesmo que eu a formulasse: 
- Parece que foi um pequeno terremoto, o computador balançou, tudo parece ter tremido por alguns segundos. Vamos ver o noticiário mais tarde, devem falar sobre isso. 
Não tardou muito, a notícia estava nas manchetes dos jornais online e também nos noticiários da TV. Ainda bem que naquela época eu não sabia que um abalo sísmico sempre tem réplicas, pois teria ficado preocupada; se houve não foram sentidas.
Um sismo leve como esse me deixou tão assustada, fico pensando no pavor que devem causar esses grandes terremotos, com os agravantes dos estragos e das perdas imensuráveis que provocam. É realmente como se a terra estivesse rosnando e trincando os dentes, enquanto sacode as presas.
Como se não bastasse o clima gélido do Canadá, aqui também acontecem terremotos. A cada ano, o leste do país sofre uma média de 450 tremores [2]. Embora geralmente imperceptíveis, os abalos sísmicos são reais e bem registrados. Especialistas acreditam que há chances de que um grande terremoto ocorra no Québec, como já aconteceu no passado, com relatos de consequências devastadoras em 1663 e outros não tão destrutivos, mas significativos, em 1925 (6,2 na escala Richter), 1935 (também 6,2) e em 1988 (5,9). 
No caso da Colúmbia Britânica, no extremo oeste do país, onde se registram abalos sísmicos quase todos os dias, a causa é o fato de estar sobre os limites de placas tectônicas e o risco de grandes terremotos ainda é maior. No Québec, o fenômeno não é bem explicado, já que a província não se encontra numa região de falha geológica. Há um estudo [3] que tenta explicar o que acontece aqui pelo movimento de placas deslizando verticalmente, em direção ao centro da terra. Estas placas estariam longe da superfície e esse deslocamento se combinaria com a dinâmica de rebote pós-glacial da crosta terrestre: após o fim da última era glacial, a crosta terrestre está subindo lentamente, liberada do peso enorme do gelo. 
São tantas provações e desassossegos! Essas catástrofes nos deixam interrogações sem fim. Mas há quem retruque prontamente: - O mundo é assim, fazer o quê? Queria eu poder pensar desse jeito, como pó da terra que somos, mas o danado do sopro nas narinas [1] vira por vezes vendaval. 
Isso tudo mete medo, não é difícil constatar quão frágeis nós realmente somos. 

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