sábado, março 07, 2020

Gafes e timidez



Um texto que li hoje, do escritor Eduardo Affonso (Era uma vez: link ao final do texto), fez-me pensar no meu caso, no que diz respeito à timidez, talvez relacionada ao gosto que tenho de escrever que, para mim, é como uma terapia.
Imediatamente, lembrei-me também de minhas gafes, que não são o caso dele, diga-se de passagem. Não sei se uma coisa causou a outra – por ser tímida cometo gafes ou por cometer gafes sou tímida – ou, então, se recebi ou desenvolvi as duas características simultaneamente.
Como já relatei, de outra feita, “Rir de nós mesmos é muito melhor do que rir dos outros. Além de ser realmente muito engraçado, é um jeito de resgatar o controle da situação... e “Rir primeiro é muito melhor do que rir por último.” (Viva a Lusofonia!, link ao final) Com a idade e a experiência, acabei aprendendo a ser menos tímida, porém as mancadas continuam.
Atualmente, as mais frequentes são no falar, porque escrevendo tem jeito de corrigir a tempo... mas nem sempre. Todos os idiomas apresentam certas dificuldades, para quem não os aprendeu desde o berço, mas vou reclamar aqui do francês, pois é a língua que se fala onde moro. Reclamo sem ter razão, certamente, pois, como não podia deixar de ser, as gafes são minhas.
Tem coisa mais chata do que chamar uma sobremesa de chausson aux pommes? Claro que eu iria falar chaussette aux pommes e provocar gargalhadas no balcão de pedidos do restaurante Subway da cidadezinha onde moro e, ao me desculpar, dizendo que “às vezes” cometo algumas gafes em francês, ouvir da mocinha que me servia: “Je sais”. Foi quando descobri que as cidades pequenas aqui no Canadá são como as do Brasil, onde todo mundo sabe de tudo o que acontece. Ela conhecia uma pessoa do escritório onde eu trabalhava e já tinha ouvido falar das minhas “habilidades”. Depois disso, sempre que voltava lá, ela me perguntava: “Des chaussettes, aujourd’hui? – e ríamos, ambas.
Não vou gastar muito tempo com a minha lista de erros, já vou direto ao mais engraçado. Tinha eu, já sem aquela timidez providencial, que comentar sobre os meus sintomas de menopausa com minhas colegas de trabalho? Tinha o idioma francês que chamar isso de “bouffées de chaleur” para que eu pudesse trocar por “chaleurs”, que tem outro significado, completamente diferente?
Só de lembrar-me dos meus foras, ruborizo. Este sintoma ainda persiste, mas dei para falar “trop”. Deve ser para compensar tantos anos de mudez. Melhor assim, quem sabe, partilhando essas confissões, podemos ajudar algum semelhante que ainda não superou essas "diferenças" que nos atravancam tanto tempo.
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