Hoje, pleno primeiro domingo
de Quaresma, tive vontade de cantar antigas marchinhas de carnaval, enquanto
lavava a louça do jantar. Fiquei contente, ainda me lembro das letras. Nem sei
mais há quanto tempo não as cantava; 20 anos com certeza, mais que isso talvez.
Eu me lembrei rapidamente
de que era Quaresma, pois tenho tentado seguir bem de perto os preceitos da Igreja
Católica, num reflorescimento de fé extremamente agradável – e recomendável –
que estou vivenciando. Tive um reflexo antigo de censurar o canto, mas achei
que não precisava; eu estava apenas sussurrando as palavras, cantarolando tão
baixinho... não havia nenhuma conotação festiva. Além do mais, tempo de penitência não exclui alegria.
Foi um momento de pura nostalgia, sem muito a ver com o Carnaval – marchinhas todas
de compositores já mortos, de um tempo tão distante... que direi, então, da
distância em latitudes! Muitas dessas canções estão hoje condenadas pelo “politicamente
correto”, cantá-las parece mais um réquiem. Entre outras, Nega do cabelo duro, Loirinha,
Linda Morena, Índio quer apito, Alá lá ô, Máscara negra... e por aí fui, me
embalando num ritual quase fúnebre.
Quando fiz uma pausa no meu
repertório, o silêncio em casa era espantoso. Meu marido tinha ferrado no sono.
Com minha cantoria em baixo volume, ele foi quase cambaleando para o quarto, já com
os olhos semifechados, segundo sua descrição, e caiu na cama, nocauteado; tirou uma boa
soneca. Pronto, as marchinhas de carnaval foram recicladas em cantigas de ninar. Nada se perde.
Mas o que foi que me
aconteceu? Meu coração se deixou levar. Vou calar-me agora, não me leve a mal. Foi
bom cantar outra vez, mas o carnaval já passou.
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