terça-feira, abril 23, 2019

Minha irmã

Maria Leonídia
*23/04/1950
+29/04/2001
Français
Há pessoas que nascem duas vezes, sem sombra de dúvida, na minha opinião. Uma delas é minha irmã. Leonídia nasceu para este mundo em que vivemos no dia 23 de abril de 1950, data que comemoro hoje. Nasceu de novo, mas para o mundo da felicidade plena, em 29 do mesmo mês, 51 anos terráqueos depois.
Foi uma pessoa especial. Em nosso núcleo familiar, foi um pilar dos mais sólidos que tivemos. Irmã responsável, zelosa, ajudou-nos a todos. Filha exemplar, dedicou-se incansavelmente ao bem-estar dos pais.
Tinha uma inteligência rara e vasta cultura; conhecia correntes filosóficas, ideológicas, teológicas, literárias, jurídicas; não sou capaz de enumerar tudo o que ela sabia... Tirava de letra concursos públicos. Por onde passou, foi respeitada e muito querida, não só por seu saber e por sua alta competência, também pela sua delicadeza e civilidade a toda prova.
Mas ela não dava importância ao seu sucesso. Sempre me lembro, até com um certo sentimento de culpa, de que ela não quis adquirir fotos da sua formatura em Direito na UFMG, em que foi agraciada com vários prêmios, culminando com o maior deles, o Prêmio Rio Branco (1977, clique aqui). Eu poderia ter comprado as fotos. As que temos de formatura dela são do curso de Letras. Medalhas tinha várias, que ganhou durante sua vida, bem guardadas, fadadas ao esquecimento. Sua modéstia era de um natural inegociável. Muitas vezes, tomávamos conhecimento de suas realizações na profissão, por intermédio de terceiros, porque ela não se gabava de nada.
O que era importante mesmo para ela era o testemunho da fé. Penso que o trabalho de que ela gostava mais era o de catequizar crianças e adultos. Nos fins de semana, em vez de descansar, ia trabalhar para a nossa Paróquia e a única recompensa era a alegria de transmitir o Amor pregado e realizado por Jesus.
Se ainda estivesse vivendo entre nós, ela não gostaria de ler o que estou escrevendo, sei disso. Ela não tinha vaidades. Mas preciso homenageá-la, eu a admiro e agradeço muito por tudo o que fez por nós.
Este texto não está à altura da grandeza da sua alma, mas talvez ela goste, agora, que nos lembremos de rezar por ela ou de pedir sua intercessão junto ao nosso Salvador. Ela já me atendeu algumas vezes, em situações em que estive em sofrimento, que é coisa inerente à nossa vida por aqui, neste mundo. Por mais que tente interpretar, racionalmente, como "pensamento mágico" os casos em que senti que ela intercedeu por mim, não consigo reduzir a consistência dos fatos a mero acaso.
Mas isso está muito triste, coisa que ela não era. Acabei de ter um flashback de memória com ela rindo a bandeiras despregadas. Vou deixar de lado a minha carranca, imagino que, onde ela está, deve estar achando muito engraçada toda essa minha verborragia primitiva. Mais risível do que os filmes de comédia que lhe provocavam gargalhadas homéricas. Se a gente quisesse rir, era só assistir a algum programa ou filme cômico, junto com ela, e desopilava-se o fígado.
Pronto, é assim que quero me lembrar dela hoje, com muita alegria pela oportunidade de ter convivido com ela durante tão bons tempos.
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Links relacionados:
O Prêmio Barão do Rio Branco (Maria Leonídia, 1977)

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