Esther |
Vem
aí o Dia das Mães e este grande papel que a mulher ainda desempenha, para
garantir a existência humana, tem que ser celebrado! Vai ser o primeiro que
vamos passar sem a nossa mãezinha. Mas não quero que seja triste, ela não era. A
ideia é homenageá-la de tabela, cutucando cada um dos meus irmãos, com
histórias engraçadas que ela gostava de contar, dando boas risadas. Vamos vê-la através de nós mesmos. A partir do
meu ângulo de visão, claro, mas com o toque materno sempre por perto, para
corresponder à realidade de sua presença constante em nossas vidas. Por certo que
nós mesmos é que vamos rir, ou quem nos conhece, mas são casos herdeiros da
humanidade, todos estão convidados a esta reunião de família.
Que coisa sublime é ver o
irmãozinho mais novo crescer, começar a andar e falar; cabelos lindos,
cachinhos que minha mãe não queria cortar. Um menino dócil, mas firme na sua
personalidade, desde pequerrucho: “Ranheta, não. Ranheto!”. Coisa que, por
sinal, nunca foi. Mas a sua especialidade mesmo, muito antes de ingressar na escola, era a concordância verbal:
“nós vai, não; nós vamos”, assim reagia às provocações da sua babá que, já às
gargalhadas, esperava a resposta gramaticalmente correta. Isto, eu mesma
presenciei, e a memória foi reforçada muitas vezes, quando minha mãe
relembrava.
Quando éramos pequenos, ela
dizia que gostaria que fôssemos freiras e padres. Isso não era colocado como
exigência, tanto que rendeu muito riso. É difícil saber quem não tenha
sofrido algum tipo de influência dos pais, mesmo aqueles que dizem que deixarão
seus filhos fazerem suas escolhas – já nesta conduta está embutida uma atitude
de alheamento a possíveis convicções. Estas posturas, de uma forma ou de outra, são tomadas, certamente, visando o bem. Além do mais, mesmo que os pais não sejam
doutrinadores, os radares apurados das crianças são capazes de detectar os
princípios, as crenças ou as opiniões parentais.
Certa vez, fomos visitar uma
irmã de minha mãe, freira enclausurada, e eu fui transferida dos braços
maternos aos braços da tia, que quis carregar a criança, num provável arroubo do seu instinto
maternal reprimido. No momento da passagem, meu irmão logo acima de mim em
idade, sussurrou no meu ouvido: “já é para ficar”. Pronto, foi o que bastou,
mal minha tia me tomou nos braços, eu caí em prantos e repeti o que ele me
dissera, em tom de pergunta, dirigida à minha mãe: “já é para ficar?”. Apesar
de muito nova, lembro-me bem disso e da vergonha que tive quando todos
começaram a rir de mim.
Esse meu irmão, ele mesmo já
tinha sofrido, anteriormente, a pressão de ter que escolher o sacerdócio e
respondera, por sua vez: “vou ser padre, mas vou casar também” - não se falou mais no assunto. Não presenciei
esta passagem, as histórias que conto aqui dos irmãos mais velhos, são memórias
do que ouvi minha mãe dizer.
Ainda sobre o irmão que não
era favorável ao celibato, ela dizia que ele tinha espírito científico, desmontava
tudo o que lhe passava pelas mãos, para saber como funcionava. Ela tinha razão. Lá de casa, é o que mais investiga e escarafuncha as origens de tudo
quanto há no universo e para além do que podemos perceber. E olhe que também
tem lá o seu lado pastoral: é o nosso irmão conciliador, o que mais se esforça
para nos manter unidos e altruístas.
Se todas as mães soubessem
quão importante é o incentivo que suas palavras podem dar para o resto da vida
de seus filhos... Vale muito mais fazer um elogio, do que recriminar colocando
mil defeitos. A nossa era brava, não nego. E nos corrigia com muita energia em
nossas faltas, mas não economizava elogios, quando era a hora certa, justiça
seja feita. Tanto ela quanto nosso pai.
Minha amada e saudosa irmã,
aquela ali era extraordinária. Minha mãe sempre contou que ela nunca deu
trabalho, nem para nascer, pois no seu parto ela saiu sozinha, sem nenhum
esforço, para surpresa do médico, que teve que correr para segurar sua cabeça,
que "escorregou" para fora. Já aí começou sua característica
independência, traço importante de sua personalidade. Não vou repetir todos os
dons, todas as conquistas, todas as bondades dela, sempre relembradas por minha
mãe (e por todos nós), pois me faltariam palavras e, pior, corro o risco de
pensarem que falo assim porque ela já morreu. Mas quem a conheceu sabe que é
verdade.
O mais velho de todos é
sempre o que tem mais fotos e mais histórias contadas. Mesmo não tendo
presenciado a infância do meu irmão mais velho, sei de mais histórias dele, contadas
por minha mãe, do que sei de minha própria infância. Bem pequeno ainda, já
tinha uma voz possante e pregava sermões, na casa da avó, no alto do patamar da
escada, à guisa de púlpito de igreja, para gáudio de todos. Hoje, ele não gosta
de se lembrar disso, mas que ele me desculpe, não podia deixar de contar esta
passagem tão engraçada e que fazia minha mãe rir tanto. No ônibus, confundiu o
motorista algumas vezes, imitando o trocador dizer “Bora!”; ninguém podia
imaginar que aquela voz grave vinha de uma criança de colo. Na escolinha, ele era
o motorista, punha os alunos todos alinhados atrás dele, formando o corpo do
veículo, e saíam em corrida desabalada pelos corredores; era um ônibus vivo! E
por aí vai, são inúmeras as suas histórias. Continua, ainda, com o dom da
oratória e deu até para escrever livros.
Mas a família não acaba aí.
Nós dizemos que somos (éramos) cinco irmãos. Mas, na verdade, éramos sete.
Tivemos um irmãozinho e uma irmãzinha que morreram recém-nascidos e minha mãe
sempre contou como eles eram, com riqueza de detalhes e com muito pesar por
tê-los perdido. Ela nunca se esqueceu deles.
Esse elo, esse amor de mãe
para filho é algo muito forte. Cortar esta ligação com a mãe, mesmo após sua
morte, é impossível e jamais fará parte do meu lote
de desejos. Quero
sempre me lembrar dela, com toda a boa energia que ela nos deu.
Saúde e longa vida a todas
as mães!
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