Tenho
visto tantas jovens, do mundo inteiro, achando normal terem um relacionamento
do tipo “amizade colorida” – sem compromisso com sentimento – que achei que
deveria meditar sobre o tema, embora eu seja antiga ao ponto de usar, ainda,
essa expressão – “amizade colorida”. Sou antiga, por certo, por isso peço que
dêem os descontos que julgarem procedentes, considerando, no entanto, que
justamente por isso, eu possa oferecer alguma utilidade no campo da
experiência. Mesmo que não seja experiência vivida pessoalmente, posso
contribuir com um maior tempo de observação do comportamento humano. Outro
fator que me autoriza a opinar sobre o assunto, considerando a humanidade em
geral, é que tenho tido contato, no correr da vida, com pessoas provenientes de
diferentes pontos do planeta.
Vou expor aqui um pensamento meu, fruto dessa observação do
comportamento humano, associado ao que aprendi nos livros. Ao mesmo tempo, vou
tentar me abster de qualquer influência excessivamente religiosa, evitando
também a esmagadora e irritante postura politicamente correta. Pode ser que um psicólogo que
leia isso, ache a minha colocação completamente estapafúrdia ou, quem sabe,
tendenciosa. Mas creio que pode haver algum embasamento correto.
Acho
que as mulheres, por mais “liberadas” que sejam, mental e sexualmente falando,
incorrem no erro de acharem que podem abordar intelectualmente o sexo como os
homens. Não podemos. O que vou dizer parece óbvio... e é mesmo :-) Somos feitas anatômica e
hormonalmente diferentes do homem. O nosso cérebro tem conexões diferentes. O
nosso sexo é diferente. Porque estamos presos, homens e mulheres, a funções e
instintos primitivos distintos, dos quais não escapamos, por mais que queiramos
achar que o nosso intelecto os tenha sobrepujado.
O
sexo do homem, o sistema designado para a cópula e reprodução, é um aparelho
externo, por assim dizer. É tão comum vermos os homens fazerem brincadeiras
sobre pênis e escroto, como se fossem alguma coisa independente, autônoma, que
lhes dá prazer, que muitas vezes os surpreende, como um brinquedo... Como se
fosse algo que vem de fora. Parece haver uma sintonia entre esta exterioridade
anatômica e a maneira como os homens experimentam a sexualidade, isto é, o sexo
está em um compartimento separado, distinto e independente do recôndito da
intimidade dos sentimentos. Obviamente, há homens que, por força da educação
que tiveram, conseguem estabelecer conexões entre os compartimentos mais facilmente.
Na
mulher, o sexo tem uma posição mais interna, é mais interiorizado. A ereção
feminina não é visível como a do homem e os órgãos genitais de cópula e
reprodução não são tão aparentes. As mulheres, de um modo geral, não têm
tendência a fazerem gracejos e piadas com o próprio sexo, com suas próprias
reações, como se não fossem coisa ligada ao seu íntimo. Também na mulher parece
haver uma sintonia entre a interioridade do aparelho genital e a maneira como
ela experimenta a sexualidade. Esta parece estar mais associada ao interior de
seu ser, não havendo uma divisória evidente que separe compartimentos. O
compartimento da sexualidade parece se avizinhar ou mesmo se fundir com o
compartimento dos sentimentos, no âmago do feminino estado de ser.
Por
esta razão, penso que a mulher não é capaz de ir muito longe em um
relacionamento do tipo “amizade colorida”. Ela vai, inevitavelmente, sentir os
efeitos da fusão dos compartimentos do sexo e do sentimento – ela vai
interiorizar a experiência que estiver tendo, por mais que tente
intelectualizá-la. O relacionamento não vai ficar isento de sentimento por
muito tempo. Aliás, ouso dizer que uma mulher sempre imprime sentimento em seus
relacionamentos, desde o início, por mais que tente se convencer do contrário.
A não ser que seja uma abordagem profissional... Mas aí já é outra história.
Mas
suponhamos que uma mulher consiga esta peripécia da separação de compartimentos.
Se a motivação é embarcar em uma “amizade colorida”, o compromisso mútuo de
sentimento não tem espaço. Seria como querer “tirar leite da pedra”. Se, por
outro lado, a motivação é embarcar em um relacionamento mais sério, com algum
grau de compromisso mútuo de sentimento, a “amizade colorida” não tem sentido,
não pode ser adotada.
Voltando
às diferenças entre homem e mulher... Pelo exposto, na minha opinião, os homens
embarcam muito mais à vontade numa “amizade colorida” que as mulheres. Esta é a
“praia” deles. E eles não vão se esforçar para explorar o compartimento
interior deles mesmos, se não lhes for apresentada esta necessidade. E essa
necessidade é da mulher, é ela que tem que levantar a sua bandeira e
estabelecer critérios. “Mulher é desdobrável”, como diz Adélia Prado, ela vai
se desdobrar para se adaptar às situações, mas não sem estar sacrificando
alguma parte da sua interioridade.
Então,
eu acho que, muitas vezes, quando as mulheres pensam que estão ficando mais
“modernas” e “feministas”, elas estão é perdendo sua identidade, moldando-se à
moda dos homens. E vou mais longe. Sem saber ao certo do que se trata, o homem
quer que uma mulher lhe mostre o caminho do sentimento. É aí que ele vai se
descobrir e se completar. Se não, ele não vai além da “amizade colorida”, e não
vai explorar seus próprios compartimentos internos.
Como
eu sou mulher, posso estar sendo muito tendenciosa nessa análise. Seria
interessante saber o que os homens pensam da minha colocação...
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