Estava
pensando na minha vinda para o Canadá... Às vezes, eu mesma me questiono sobre
esta atitude que tomei, se não poderia ser considerada quase como uma
leviandade: deixar de aplicar, em prol do ser humano, os frutos de todo o
investimento feito durante minha vida, não só por mim mesma, mas também pelos
meus pais que, com esforço, conseguiram bancar meus estudos, para que eu me
tornasse médica, para que eu frutificasse o amor que tentaram me ensinar a ter
pela humanidade.
Seria também,
por acaso, loucura, abandonar a situação profissional e financeira
“privilegiada” que alcancei no Brasil?
Tudo isso para
me aventurar em um outro país tão diferente – por amor, por certo – mas onde eu
não poderia ter uma atuação semelhante à que tinha, mesmo que continuasse sendo
médica, já que a população aqui não tem as mesmas necessidades.
Mistura,
talvez, de consolo e justificativa, respondo-me que minha atividade
profissional no Brasil era gratificante para mim mesma, que me iludia com a
idéia de ser útil para a humanidade; na verdade, era irrelevante no cômputo
geral. E com o passar do tempo, fui constatando isso, mesmo antes de aventar a
hipótese de deixar minha profissão, de modo que já estava até mesmo deixando de
ser gratificante.
As condições
para se exercer a medicina no Brasil são conflitantes: o Estado usurpa o poder
que o povo lhe confere – a população paga caro por serviços que não lhe
retornam; não há meios adequados para
que o médico possa oferecer o mesmo atendimento a todos. O exercício da
profissão médica torna-se motivo de frustração. Por outro lado, temos a
oportunidade de conviver com pessoas extraordinárias, que excedem em suas
obrigações, doando amor e coragem aos mais necessitados, procurando-lhes as
condições para sobreviverem – só como exemplo, cito profissionais que são de
importância vital para o país, como os profissionais da enfermagem, dos serviços
sociais e os voluntários, com sua devoção ao ser humano, sem a qual não sei o
que seria do nosso povo.
O Canadá é um
país muito diferente do Brasil, mas tem-me ajudado a compreendê-lo melhor, a me
compreender melhor. Na tentativa de encontrar respostas, venho tirando
conclusões tão enriquecedoras para mim, que sinto necessidade de partilhar meu
pensamento com alguém... Com minha família, com meus amigos dos dois lados do
Equador.
Às vezes,
ficamos atolados em conceitos e preconceitos
que aprendemos desde a infância, em casa, ou até mesmo nos meios
acadêmicos do país em que vivemos, fazendo uma idéia que pode tangenciar a
condição de lenda sobre nós mesmos como povo e que são desmascarados, como num
passe de mágica, quando imergimos em uma outra cultura.
Ainda bem que
escolhi a prevalência do amor na busca da minha felicidade, apesar de ter tido
que me distanciar do meu país. Mesmo que a felicidade completa seja algo
impossível de atingir, pelo menos neste mundo em que vivemos, tentar alcançar o
máximo possível dela é um objetivo que todos deveriam almejar – é, no mínimo,
gratificante, porque é uma experiência oposta ao egoísmo.
Sim, devemos
colocar nossos pensamentos em oposição ao egoísmo, com todas as nossas forças,
sobretudo agora quando nos preparamos para votar nas próximas eleições. Façamos nossa escolha
tendo como princípio, a vontade de ter um país mais digno, sem corrupção, sem esta
criminalidade que está se alastrando cada vez mais, a cada dia. Mesmo estando
longe e, até por isso mesmo, sinto mais forte ainda a obrigação de cumprir meu dever como cidadã
brasileira – não vou fugir ao meu dever e direito de votar para Presidente do
Brasil.
O dever de bem
votar é um direito de todo cidadão!
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