domingo, agosto 24, 2014

Escravidão - até quando?

(texto escrito na minha página Facebook em 11 de julho de 2013)

Para algumas pessoas – e eu me incluo nesse grupo – não adianta ler, estudar, viajar, para compreender a falta de educação no seu país, a sua própria falta de educação. Sim, a expressão está aplicada no seu significado óbvio.
Sim, falo como filha desse Brasil que amo tanto e, por isto mesmo, desejo que melhore, que tenha “ordem e progresso”.

Ainda temos muito que aprender. Estamos ainda muito no começo da nossa “civilização”. Já ouvi isso de algum professor, mas não soube interpretar bem, na época. A evolução de uma sociedade não se copia de outras, tampouco se aprende tudo com estudo. É preciso vivenciar etapa por etapa – e há muitas etapas que são dolorosas. Mas, infelizmente, parece que, na prática, não é possível saltá-las.

Por que resolvi falar sobre este tema hoje? Devo confessar que me comovi ao ver uma foto que meu irmão, Francisco, me enviou. Uma foto de uma nossa AMIGA, que foi nossa empregada, nos tempos em que eu era criança. Nossa saudosa Maria Antônia... exemplo de dignidade! Ela está bem guardada no meu coração ♥

A nova lei que trata dos empregados domésticos foi um passo significativo, claro, mas ainda não é suficiente.

Se me perguntarem aonde quero chegar com isto... Eu me explico.

Como pudemos achar normal o fato de termos empregados domésticos a baixo custo? Aos quais dávamos ordens peremptórias? Como pudemos continuar com esta mentalidade escravocrata que se manifesta até mesmo na arquitetura brasileira? Não sei se ainda continua assim, mas até a última vez em que ouvi falar de algum projeto de casa ou apartamento, este sempre incluía uma pequena senzala – os aposentos da empregada doméstica. Eu precisei viver em um outro país, para enxergar o disparate deste “pequeno” detalhe arquitetural das construções no Brasil. O país onde vivo hoje, diga-se de passagem, longe de ser perfeito, não padeceu desse grande mal de ter tido escravidão em grande escala, como no Brasil.

Causas e propostas de solução para essa mentalidade escravocrata  costumam ser confundidas com este ou aquele sistema econômico adotado. Costumam também ser confundidas com questões de racismo. Na minha opinião, não se trata nem de uma coisa nem de outra.

Para dar sustento à minha idéia, venho de novo com o exemplo do país onde vivo atualmente: o Canadá. É um país que não precisou ser “de esquerda” para ter a maior parte da população em condições de igualdade, um país onde cada um cuida da sua casa, sem sequer por vislumbre, pensar em uma empregada doméstica.

E o racismo? Não digo que não há racismo aqui, muito pelo contrário. Foi vivendo aqui que cheguei à conclusão de que, no Brasil, somos muito menos racistas do que pensamos ser. Mas mesmo as pessoas que são racistas aqui, têm como óbvio o fato de que todos têm os mesmos direitos.

Para concluir, se um país quer se dizer democrático, os cidadãos devem ser tratados, todos, com dignidade e com os mesmos direitos e obrigações, qualquer que seja a índole do governo. Mas para que isso se concretize, é preciso mudar radicalmente a mentalidade tacanha que nos escraviza. Sim, somos nós os escravos, quando aceitamos pensar que os seres humanos podem ser considerados inferiores ou superiores, segundo critérios de status sócio-econômico. E, na prática, é isto que acontece, cá para nós!

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