quarta-feira, abril 04, 2012

Eu te amo, meu Brasil


Se vocês já estiveram fora do país por longo tempo, saberão do que estou falando. Porque acho que isso é exacerbado nos brasileiros. Sentir aquele amor enrustido, com todo o respeito ao país hospedeiro, explodir em estado de euforia, ao ter algum dos cinco, ou seis, sentidos estimulado por um mínimo sinal de brasilidade. Por exemplo, acompanhar e torcer pelo Barrichello na vigésima posição, já nem mesmo na Fórmula 1. Ouvir tocar “Ai se eu te pego” no som ambiente do supermercado e ter aquela vontade de dizer para as pessoas que a música é brasileira, esperando que eles não entendam  a letra. Se bem que para a maioria do povo aqui, e aqui que eu digo é o Canadá, para eles essa canção é o que eles esperam mesmo de som proveniente do “sul”. É ritmo para dançar aquilo que eles não sabem dançar. E todo ano tem alguma música “latina” que toca sem parar, anunciando a chegada do verão. São do tipo sazonal, como tudo aqui é sazonal. A Bossa Nova não, essa é crônica, sobrevive a todas as estações. Em restaurantes elegantes, Garota de Ipanema nos mais variados instrumentais e Astrud Gilberto cantando Bossa Nova sempre têm o seu lugar. Mas só os mais velhos e mais cultos que identificam esse gênero de música como brasileiro.
Mas nem tudo são rosas. Osso duro de roer é encarar as notícias sobre a criminalidade; essas acabam com o furor da gente. E o mundo está de olho em tudo o que acontece no Brasil – esse país que vai sediar as Olimpíadas e a Copa do Mundo! Será que vai haver segurança para os atletas, para os visitantes? Não me lembro de ter visto tanta notícia e tanto documentário sobre o Brasil como agora, nos meus já quase 15 anos de Canadá.
Mas o que eu queria contar mesmo é sobre aquela música de Dom & Ravel, “Eu te amo, meu Brasil”, que disseram que tinha sido encomendada pela ditadura militar, mas que, segundo os compositores, não foi. Lembram? Ufanismo puro, mas inspirado, convenhamos. Pois bem, estava eu numa festa anual da província do Quebec como nação dentro do país Canadá (não queiram entender, isso é coisa de tribo 'mais avançada' que a nossa), o pessoal dançando animado, uma barulheira danada, a gente nem conseguia escutar a própria voz. Mas ouvido de brasileiro, ouve música do Brasil em qualquer circunstância. E começaram a tocar essa música, numa versão em francês. Lembro-me de ter comentado com alguém que a música era brasileira e as pessoas que escutaram o que eu falei, permaneceram com um olhar vago, sem dizer nada. Talvez não tenham entendido o que eu disse, pensei. Mais tarde, fiquei sabendo que, assim como todo mundo fazia versões para músicas americanas nas décadas de 60 e 70, também as brasileiras foram contempladas e já há muito tempo incorporadas no cancioneiro popular do Quebec; e essa é a música mais patriótica que eles possuem. Tabarnak! Xinguei “à la québécoise”, com meus botões. Em seguida, voltei ao meu ufanismo – o Brasil é mesmo uma terra que “tudo dá”. Exporta até patriotismo... E sobra, transborda, encanta, inspira... É um sem fim de fecundidade e de criatividade. Tem muitos erros também, e graves, eu sei, o exílio não me cegou. Mas tenho um sentimento dentro do meu coração, uma bateria que retumba e que me diz que um dia o Brasil vai dar certo. Com educação e sem criminalidade. Só acho que ainda vai demorar, eu não verei esse dia. Mas ele virá. “Eu te amo, meu Brasil”!

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