sexta-feira, novembro 08, 2019

Novembro de novo


En français
Velas em nossos castiçais ouro-pretanos de pedra-sabão, velas flutuantes, lanternas, lampiões e a escuridão lá fora – trevas de novembro, o mês mais triste do ano, no Hemisfério Norte.
Hoje, 3 de novembro, é o terceiro dia sem eletricidade em inúmeros setores da província de Québec. Escapamos várias vezes, mas desta fomos afetados. Na noite de 31 de outubro ao 1° de novembro choveu muito e ventou – « méchant Halloween ! » Mas pior ainda foi no dia 1°, tivemos ventos a mais de 100 km/h, durante todo o dia, árvores caíram por todo lado, incluindo a nossa rua. Uma delas derrubou um poste pela manhã e, desde então, ficamos sem luz. Rezei o dia inteiro, com medo do vento...
Pensamento, palavra, fé,
corpo que lavra o sofrimento,
em busca de alento.
E ao espaço de um momento
– pobre mortal que é –
pode partir com o vento.
Preces, súplicas, louvores
a todos os santos, aos anjos,
pelos mortos em penhora
e suas dores,
a Nossa Senhora, a Nosso Senhor,
por Seu Amor.
Alguém que socorra, por favor,
antes que morra.
Algumas cidades haviam adiado para o dia seguinte as atividades de Halloween das crianças, devido à previsão de chuva, mas não contavam com um vendaval tão intenso.
Ficar sem eletricidade na zona rural, sem gerador – como nós que dependemos de poço artesiano e bombeamento – significa não ter água, o que é um grande problema. Para o aquecimento da casa temos o « poêle à bois », felizmente.
São tantos os estragos que o vento causou, que a companhia de luz – Hydro-Québec – está tendo dificuldades em atender a todos prontamente, e não estamos nas prioridades. Paciência... “Os últimos serão os primeiros.
Levantar de manhã, com café e muffin que o marido foi comprar na cidade não tem preço. Luxos do amor de cada dia... 😍
Interessante ver os amigos se ajudando uns aos outros. « Les gars », entre eles o Léo, se colocam em modo ação, quebrando os galhos literalmente, cortando e retirando os que ficaram obstruindo as passagens.
No dia 1° de novembro, tivemos carro com alto-falante passando na rua para avisar que, quem precisasse, poderia ir ao Abrigo (« Centre d’hébergement ») da cidade, para lanches, ducha e até para dormir; há casas que têm aquecimento só por eletricidade e pode ser que faça frio. Ainda bem que ainda não estamos no inverno. As temperaturas estão girando em torno de zero, mas as casas são construídas para conservar o calor – bons agasalhos e bons cobertores resolvem bem o problema.
Tivemos, também, por duas vezes, a visita do Corpo de Bombeiros – meus cumprimentos a esta instituição. Eles estão passando de porta em porta para verificar se tudo está bem, se os alarmes de fumaça e de monóxido de carbono estão funcionando, para saber se precisamos de alguma ajuda. Afinal, não é todo mundo que tem um Léo em casa, que sempre acha um jeito de resolver tudo.
Ontem, dois amigos do Léo trouxeram um pequeno gerador portátil, emprestado por uma alma caridosa que partiu em viagem e deixou o aparelho com eles, caso alguém precisasse – claro que aceitamos a oferta e estamos pensando em comprar um semelhante. É um quebra-galho fantástico – estamos com a bomba de água, a geladeira e o freezer funcionando, graças a esta pequena maravilha e aos bons amigos.
Há muito tempo não jantávamos à luz de velas. O nosso lado romântico foi reforçado, compulsoriamente. De tudo se tira proveito – “pas si mal”. 😃
Afinal de contas, o mês de novembro não é tão tenebroso assim. Após apagarmos todas as velas e lampiões, a lua crescente, surpreendentemente grande, abriu espaço entre nuvens rasgadas, prateando a nossa “Rivière Noire”. Em seguida, escondeu-se de novo, mas deixou a amplidão cósmica do céu claro-escuro iluminando nosso mundo, nossa casa.
4 de novembro: fomos à cidade para “déjeuner”. Os trabalhos avançam. Aproveitei o Wi-Fi do restaurante para enviar mensagens.
Às 13:30 h, surpresa, “facta est lux”! A vida continua... mas ainda sem internet.
7 de novembro: novamente conectados ao mundo.
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Links relacionados:
Hydro-Québec demande de la patience (em francês)
Novembro

Verglas, 20 anos depois

2 comentários:

  1. Parabéns para você e Leo, que enfrentam as dificuldades com perseverança e sabedoria. Abralo do primo Luiz Otávio

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