domingo, outubro 16, 2016

Feminismo à brasileira




Para começar, já vou logo dizendo que nunca planejei ser “feministicamente” empoderada. Aconteceu, assim, de eu não ter aprendido a cozinhar, costurar... essas coisas. E de ter querido ser médica. E olhem que não sou tão jovem assim, me formei em medicina em 1980, para dar uma ideia. Isso nem é modelo de último tipo.


Agora, estão falando aí de uma tal de Escola de Princesas, estão dizendo que é um retrocesso em termos de feminismo, ensinando as meninas a terem como objetivo de vida o matrimônio, sendo ensinadas prendas domésticas. Realmente, se for limitado a isso, é um horror.
Mas aprender a cozinhar, fazer faxina, lavar roupa, costurar (o básico, pelo menos), etiqueta e outros babados, não é má ideia. Só que eu acho que a escola devia ser para princesas e para príncipes também. Para meninas e meninos aprenderem tudo isso. É questão de sobrevivência. Sabem por que razão? Porque esse ranço da escravidão, de ter empregada doméstica para fazer tudo em casa, isso vai acabar, da maneira como é hoje. E não vejo a hora que acabe (dou até umas ideias num texto que escrevi recentemente: 
Até acho louvável que tenha tido uma fase de transição no Brasil, para não haver desemprego em massa das pessoas que foram deixadas à deriva. E também para as patroas que não estavam acostumadas com o trabalho de casa. Mas transição não pode durar eternamente.

Como eu acho que empregada doméstica tinha que ganhar muito mais, consequentemente, seria coisa só mesmo para milionários... falando em termos de Brasil, claro, onde as pessoas insistem em ter empregada. Para quem não tem dinheiro para pagar, que aprenda a ser "príncipe e princesa", fazendo o trabalho de casa, para não precisar terceirizar.  O Brasil está precisando mudar muito mais do que a gente pensa.
Digo isso por experiência própria, porque só fiz estudar e trabalhar fora, antes de vir para o Canadá (tenho um desconto porque estudar medicina e ser médico toma tempo demais da gente); o fato é que não aprendi a cozinhar, a fazer faxina... nada. Passo vergonha aqui. Nem tanto, porque meu canadense é macho o suficiente para não ligar para essas coisas. Ele que é o rei da culinária “chez nous”. Eu arrumo a cozinha e faço a faxina... entre outras divisões de trabalho.
Agora, eu pergunto: as feministas brasileiras querem que as mulheres não aprendam mais os afazeres domésticos, para ficarem iguais aos homens brasileiros que não aprenderam?
A gente tem uma educação muito deformada aí no Brasil.

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