Para começar, já vou logo
dizendo que nunca planejei ser “feministicamente” empoderada. Aconteceu, assim,
de eu não ter aprendido a cozinhar, costurar... essas coisas. E de ter querido
ser médica. E olhem que não sou tão jovem assim, me formei em medicina em 1980,
para dar uma ideia. Isso nem é modelo de último tipo.
Agora, estão falando aí de uma tal
de Escola de Princesas, estão dizendo que é um retrocesso em termos de
feminismo, ensinando as meninas a terem como objetivo de vida o matrimônio,
sendo ensinadas prendas domésticas. Realmente, se for limitado a isso, é um horror.
Mas aprender a cozinhar,
fazer faxina, lavar roupa, costurar (o básico, pelo menos), etiqueta e outros
babados, não é má ideia. Só que eu acho que a escola devia ser para princesas e
para príncipes também. Para meninas e meninos
aprenderem tudo isso. É questão de sobrevivência. Sabem por que razão? Porque esse ranço da escravidão, de
ter empregada doméstica para fazer tudo em casa, isso vai acabar, da maneira
como é hoje. E não vejo a hora que acabe (dou até umas ideias num texto que
escrevi recentemente:
Até
acho louvável que tenha tido uma fase de transição no Brasil, para não haver
desemprego em massa das pessoas que foram deixadas à deriva. E também para as
patroas que não estavam acostumadas com o trabalho de casa. Mas transição não
pode durar eternamente.
Como eu acho que empregada doméstica tinha que ganhar muito mais, consequentemente, seria coisa só mesmo para milionários... falando em termos de Brasil, claro, onde as pessoas insistem em ter empregada. Para quem não tem dinheiro para pagar, que aprenda a ser "príncipe e princesa", fazendo o trabalho de casa, para não precisar terceirizar. O Brasil está precisando mudar muito mais do que a gente pensa.
Digo
isso por experiência própria, porque só fiz estudar e trabalhar fora, antes de vir
para o Canadá (tenho um desconto porque estudar medicina e ser médico toma
tempo demais da gente); o fato é que não aprendi a cozinhar, a fazer faxina...
nada. Passo vergonha aqui. Nem tanto, porque meu canadense é macho o suficiente
para não ligar para essas coisas. Ele que é o rei da culinária “chez nous”. Eu
arrumo a cozinha e faço a faxina... entre outras divisões de trabalho.
Agora,
eu pergunto: as feministas brasileiras querem que as mulheres não aprendam mais
os afazeres domésticos, para ficarem iguais aos homens brasileiros que não
aprenderam?
A
gente tem uma educação muito deformada aí no Brasil.
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