domingo, agosto 24, 2014

O dever de bem votar – um direito



Estava pensando na minha vinda para o Canadá... Às vezes, eu mesma me questiono sobre esta atitude que tomei, se não poderia ser considerada quase como uma leviandade: deixar de aplicar, em prol do ser humano, os frutos de todo o investimento feito durante minha vida, não só por mim mesma, mas também pelos meus pais que, com esforço, conseguiram bancar meus estudos, para que eu me tornasse médica, para que eu frutificasse o amor que tentaram me ensinar a ter pela humanidade.
Seria também, por acaso, loucura, abandonar a situação profissional e financeira “privilegiada” que alcancei no Brasil?
Tudo isso para me aventurar em um outro país tão diferente – por amor, por certo – mas onde eu não poderia ter uma atuação semelhante à que tinha, mesmo que continuasse sendo médica, já que a população aqui não tem as mesmas necessidades.
Mistura, talvez, de consolo e justificativa, respondo-me que minha atividade profissional no Brasil era gratificante para mim mesma, que me iludia com a idéia de ser útil para a humanidade; na verdade, era irrelevante no cômputo geral. E com o passar do tempo, fui constatando isso, mesmo antes de aventar a hipótese de deixar minha profissão, de modo que já estava até mesmo deixando de ser gratificante.
As condições para se exercer a medicina no Brasil são conflitantes: o Estado usurpa o poder que o povo lhe confere – a população paga caro por serviços que não lhe retornam;  não há meios adequados para que o médico possa oferecer o mesmo atendimento a todos. O exercício da profissão médica torna-se motivo de frustração. Por outro lado, temos a oportunidade de conviver com pessoas extraordinárias, que excedem em suas obrigações, doando amor e coragem aos mais necessitados, procurando-lhes as condições para sobreviverem – só como exemplo, cito profissionais que são de importância vital para o país, como os profissionais da enfermagem, dos serviços sociais e os voluntários, com sua devoção ao ser humano, sem a qual não sei o que seria do nosso povo.
O Canadá é um país muito diferente do Brasil, mas tem-me ajudado a compreendê-lo melhor, a me compreender melhor. Na tentativa de encontrar respostas, venho tirando conclusões tão enriquecedoras para mim, que sinto necessidade de partilhar meu pensamento com alguém... Com minha família, com meus amigos dos dois lados do Equador.
Às vezes, ficamos atolados em conceitos e preconceitos  que aprendemos desde a infância, em casa, ou até mesmo nos meios acadêmicos do país em que vivemos, fazendo uma idéia que pode tangenciar a condição de lenda sobre nós mesmos como povo e que são desmascarados, como num passe de mágica, quando imergimos em uma outra cultura.
Ainda bem que escolhi a prevalência do amor na busca da minha felicidade, apesar de ter tido que me distanciar do meu país. Mesmo que a felicidade completa seja algo impossível de atingir, pelo menos neste mundo em que vivemos, tentar alcançar o máximo possível dela é um objetivo que todos deveriam almejar – é, no mínimo, gratificante, porque é uma experiência oposta ao egoísmo.
Sim, devemos colocar nossos pensamentos em oposição ao egoísmo, com todas as nossas forças, sobretudo agora quando nos preparamos para votar nas próximas eleições. Façamos nossa escolha tendo como princípio, a vontade de ter um país mais digno, sem corrupção, sem esta criminalidade que está se alastrando cada vez mais, a cada dia. Mesmo estando longe e, até por isso mesmo, sinto mais forte ainda a obrigação de cumprir meu dever como cidadã brasileira – não vou fugir ao meu dever e direito de votar para Presidente do Brasil.
O dever de bem votar é um direito de todo cidadão!

Nenhum comentário:

Postar um comentário