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Estamos vivendo presságios
da próxima estação, com temperaturas um pouco acima de zero; a diferença é que
a neve branquinha, limpinha, ainda está cobrindo quase tudo. A paisagem é mais
bonita que a da primavera canadense, que não tem nada do que a gente aprendia
na escola, nos meus tempos de infância tropical. Penso que aqui também as
lições eram importadas da Europa, cheias de flores brotando, muitos perfumes e
cores. No Brasil, as flores brotam o ano inteiro; aqui, a floração é mais pujante
no verão.
Muita neve e muito frio
ainda por vir, estamos em pleno inverno, não nos iludamos; é sempre bom
lembrar, para que a decepção não seja muito grande.
Com a trégua dos ventos e
eventos glaciais, os pais costumam sair da toca com suas crianças, nos fins de
semana, os pequenos em trenó, os maiores em quadriciclo (quatre-roues) ou em snowmobile
(skidoo). O silêncio habitual é
substituído por esses estrondosos e estridentes veículos e pelos gritinhos e
risadinhas das crianças.
Nessa época, os filhos e
netos do agricultor, nosso vizinho, transformam o campo de plantação do
patriarca em terreno para diversão. Nossa casa fica perto, no final da rua.
Assisto ao espetáculo dos esportes de inverno de camarote. O campo de plantação
deles é nossa paisagem de fundo... sem porta dos fundos! Nossas portas são
ambas de frente... uma para a rua, a outra para o jardim.
Falar em portas me fez
lembrar da casa onde vivi toda a minha vida no Brasil, antes de vir para cá [1].
Lá também não dá para dizer que havia porta dos fundos, pois era casa de
esquina. Tínhamos duas entradas, uma em cada rua. Pensando bem, minha casa
atual é quase de esquina. Só que não há cruzamento de duas vias. A rua termina
onde começa o campo. Moro na fronteira entre “urbs et ruralis” (latinório
latinórum).
Tudo muda. Nosso cantinho já
foi tranquilo, pacato. As casas eram, na maioria, chalés de verão, frequentadas
só nos fins de semana. Hoje em dia, virou um bairro habitado o ano inteiro; além
das escapadas de cães da vizinhança, costumam passar três ou quatro veículos
por dia – incompreensível num cul-de-sac
– não podia deixar de mencionar a placa em francês, no Québec, acho
engraçado. Em português, corresponderia a “rua sem saída”, mas com o sentido
implícito de que existe uma espécie de balão de retorno no fim da rua; a rua
fica mais larga na altura da nossa casa; daí ter gente que vem fazer retorno
aqui.
É um lugar onde a neve empurrada
pelos caminhões com snowplow acaba
acumulando, carros se atolam e, também, é onde os jovens gostam de fazer
“cavalo-de-pau”. Afinal, toda essa movimentação quebra a monotonia do inverno. Não
há como se entediar.
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