Podemos ser desapegados
ou estarmos longe de nossas origens, nos atirarmos no mundo como cidadãos sem pátria, "mas de tudo fica um pouco" (1)
daquela gota absurda que pinga na memória; se não foi um pouco
do queixo da minha mãe no meu queixo, ficou um pouco da pele macia do
braço dela, com preguinha de neném, ou do excesso de carne colada nas unhas do meu
pai – não se pode cortar rente.
"Fica sempre um pouco de perfume" (2) que se evaporou das mãos que não tocamos mais.
Impossível
sair completamente do molde em que fomos formados; até o gosto, as escolhas, em
tudo trazemos um legado genético ou adquirido com o aprendizado.
Temos, literalmente,
a nossos pés, um exemplo banal disso, que são os sapatos e sandálias. Já
repararam como é comum as filhas usarem calçados parecidos com os da mãe? Não
bastasse o fato de os pés já terem traços genéticos semelhantes, fica também o
resquício de uma preferência materna.
Essas
predileções acabam tendo um reflexo na grande família nacional. Tenho provas
disso por experiência própria. Já aconteceu comigo mais de uma vez – duas 😄 – de ir comprar calçados
para o verão e escolher, sem premeditação, um modelo feito no Brasil. Os de
inverno feitos aqui são imbatíveis, obviamente. Sempre olho de onde os produtos
vêm, mas vi que era “Made in Brazil” depois de ter escolhido. Fui em direção ao
modelo como que magnetizada por ele. E que surpresa boa!
No que
diz respeito a essa alegria de encontrar, tão longe, um pedacinho da nossa
Pátria Mãe, não aconteceu comigo só por minhas escolhas. Aqui em casa mesmo, encontrei
dois produtos fabricados no Brasil: a nossa vassoura para uso interior, que já
estava aqui antes de mim, ou seja, há mais de vinte anos, e dura até hoje,
apesar de ser utilizada diariamente; e a nossa lavadora de roupa, também de
ótima qualidade! (3)
Ouvi uma conhecida daqui dizendo que os imigrantes, saudosos de suas
origens, têm a tendência a supervalorizar seu país, esquecendo-se das mazelas. Penso
que não é o caso dos brasileiros. Já há tantos anos que estamos sofrendo com os
males do Brasil que, quando nos deparamos com alguma coisa boa, ficamos
contentes. Mas o que eu penso do meu país é que, se está dormindo em berço
esplêndido, deve ser sonâmbulo. Sofrendo ou não com mazelas, ele continua
caminhando, impávido colosso (4).
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Links relacionados:
(4) Hino Nacional
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