Impossível não tentar
refletir sobre o que está acontecendo no Brasil, com a polarização que eclodiu
no seio da sociedade, em torno do comportamento ético e moral. Tento achar o
que há de positivo nesse processo de luta entre contrários, que surgiu num país
que, pela sua formação e evolução histórica, é um verdadeiro laboratório de
antropologia, sem precedentes em todo o planeta. Por isso, tende a ter desenvolvimento
e reações inéditas.
Coisa de que eu jamais teria suspeitado antes das revelações da Operação Lava-jato, estou aqui imaginando se o
plano petista era obter um salto qualitativo da seguinte maneira:
- Melhorias sociais para os
pobres, cantadas em prosa e verso. “Que governo bom!”
- Solapamento geral e da economia,
nos bastidores, pela corrupção em alta escala, com desvio do dinheiro público. “Tudo
pelo Partido!”
- Falência total do país
(sem que o povo soubesse a verdadeira razão) e interrupção das melhorias sociais.
- Revolta
da população pobre, beneficiada/privada das melhorias, contra os “ricos”... Revolução.
Mas, neste ínterim, deu
curto-circuito, surgiu a Operação Lava-jato e revelou a trama dos bastidores
daquele teatro. Mas nem por isso os assaltantes se deixaram abalar.
Encontrariam um jeito de aproveitar da situação, inventando o “nós e eles”. E
foi feita a confusão.
Creio que, muito mais do que
uma luta de classes, estamos presenciando uma luta de posicionamentos éticos e
morais que, talvez, não estivesse prevista, não sei. Mas deu vazão à instalação
do conflito. De um lado, "eles", tudo pelo partido e pela ideologia. Do outro lado, "nós" (eu me posiciono), uma grande parcela da população que se manifesta por razões intelectuais, movida pela “matéria pensante”; e para se defender da
opressão de se ver privada, por causa de corrupção, daquilo a que julga
ter direito pelo trabalho produtivo. E não está nesse contexto somente a
classe média, todas as fatias da sociedade estão envolvidas; num país tão populoso, não são poucos.
Repetindo o exemplo já tão
batido, mas sempre útil, estamos vendo a água entrar em ebulição: havia desconforto
e uma tolerância tíbia a roubos e trapaças, mas a quantidade aumentou tanto, a
temperatura elevou-se a tal ponto que a tolerância ferveu e se evaporou. Trocando em
miúdos: já combalidos pela convivência com tantos tiradores de proveito, com
tantos ladrões que nos roubam nas ruas, mas amortecidos pelo sentimento de
compaixão pela situação desfavorável deles, nos vimos agora enfrentando ladrões
em grande escala, no poder constituído. A quantidade exorbitante alterou a
qualidade da matéria. Eis aí o salto qualitativo. Ninguém tolera mais
desonestidade de espécie alguma e a reação está à flor da pele.
Certamente, esta mudança vai
surtir efeito nos próximos passos da nossa sociedade, obviamente para melhor.
Uma pena que tudo isso nos tenha vindo de um partido que esteve doze anos no
poder, com o aval e a confiança da população, praticamente sem oposição, e que se autodestruiu pela prática da corrupção. As reformas que tinham
prometido nunca foram realizadas. Uma pena que seus líderes não tenham
enxergado a magnitude do mal que causaram e estejam atropelando tudo agora, em atitudes atabalhoadas. E
pior, tentando comprar e forçar sua permanência na história. Uma pena que parte
da população não esteja vendo isso.
Acabou, vai passar. A sociedade
tem que evoluir. Se não for de imediato, não demorará muito e este modelo
perecerá, após ter tentado seus últimos suspiros asmáticos, tragando e estrangulando um
país cheio de vida.
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