Olho esquerdo |
Primeiramente, gostaria de
dizer que não escrevi este texto para acusar nem para defender ninguém. Tenho o
direito de ter minhas ideias e de querer expressá-las, principalmente porque
penso que muitos saberão aproveitar para compreender melhor o contexto atual.
É um duro golpe ver um
grande artista brasileiro, que eu admirava tanto, apoiar um partido político
que institucionalizou a corrupção no Brasil, este mesmo partido que tinha
prometido varrer tudo que pudesse prejudicar o povo. Justamente um compositor
que tinha-nos encantado com suas lindas canções engajadas, a serviço da luta
contra as práticas abomináveis da ditadura militar, nos anos 1960 e 70. Foi uma
grande decepção para muitos admiradores, a “desconstrução” de tudo o que tinha
sido construído como representação de sua personalidade.
Na semana passada, para
minha grande surpresa, vi circular, nas redes sociais, um vídeo no qual ele declara não ser o autor de suas canções, que ele as compra de vários
fornecedores. Claro que não acreditei e dou os motivos mais adiante. Como já há vários anos que não vivo no Brasil, que não sigo mais
os passos da vida cultural do país, fiz uma pesquisa a respeito do vídeo e achei que se tratava
de uma brincadeira, por ocasião do lançamento de um de seus DVD, em 2006,
chamado “Desconstrução”, justamente (https://www.youtube.com/watch?v=bUj0qffqQoU).
Esta história, supostamente
engraçada, nos faz lembrar, entre outras coisas, do velho ditado proverbial que nos adverte da
possibilidade de verdade por trás de brincadeiras.
Há três fortes razões
para crer que ele é o verdadeiro autor de suas canções, ele não conseguiu
convencer que o mundo está desprovido de moral e ética a este ponto, se é que
foi esta a sua intenção. Sim, essas pessoas, ditas intelectuais, que se
envolveram com esse partido político, se tornaram fanáticas o bastante para
serem capazes de degradar sua própria imagem com o intuito de destruir todas as
etapas civilizatórias já conquistadas pela humanidade, é terrível.
Aqui estão minhas razões contra
o que ele diz:
1.
As
músicas dele têm melodias e letras sempre num estilo típico, logo não poderiam
ser de vários autores de quem ele supostamente teria comprado. Reparem que,
quando há parceria com outro qualquer, o estilo muda. Quando a autoria é alegadamente
só dele, o estilo é sempre parecido, mesmo quando são músicas femininas. Não
estou falando que isto é um defeito, é uma coisa muito comum. Do mesmo jeito
que a gente detecta um traço marcante comum na obra de um pintor, por exemplo.
2.
Fazer
uma brincadeira desse tipo, se autodesconstruindo, está bem de acordo com ele,
que não dá a mínima para o que possam pensar dele. Tivemos prova disso,
recentemente, quando soubemos que ele foi e se confessou ladrão de carros na
época da “juventude transviada”, nos anos 1950 e 60, e achava isso engraçado (https://www.youtube.com/watch?v=wmUK1YTupYA). E, recentemente, mais uma prova de seu
comportamento delinquente, quando ele apoia os políticos corruptos, sem se
envergonhar nem um pouco, longe disso. O compositor é partidário de um grupo
que milita sem compromisso com a ética ou com a moral, pelo que temos
testemunhado ultimamente; o partido político brasileiro chamado Partido dos
Trabalhadores (PT) cometeu a campanha de corrupção mais monstruosa, jamais
vista anteriormente, e mergulhou o país numa crise sem precedentes. O caráter
da personalidade destas pessoas se flexibiliza em função dos objetivos
idealizados. Então, o que esperar de alguém que apoia um partido como este?
Vemos que eles são capazes de se desapegar de suas próprias crias (as canções,
no caso), para praticar, como num exercício mental, o desapego a tudo, enfim,
incluindo a moral, a ética... o que mais?
3.
A
terceira razão possível, que eu gostaria que substituísse a segunda, é que ele
tivesse querido dizer que encarna as pessoas, o povo, que assume seus
sentimentos numa profunda empatia, quando compõe suas canções. Gostaria também
que, apesar de toda a bela poesia que escreveu, que talvez fosse pela falta
deste talento quando se trata de falar, que tenha grosseiramente chamado suas
musas de “fornecedores”. Muito triste ter transfigurado a alteridade de suas
composições em ato comercial, mesmo que seja de brincadeira. Ele se afundou no
mais profundo...
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