English version
“O sol vai se pondo na janela / As árvores e os postes correndo para
trás / Lá vou eu nesse comboio sem trela / Trem que não pára, tempo fugaz”
(Janela Real III, M.C. V.-Montfils)
O mês de agosto chega
ao fim. Inevitável constatar que o verão vai dando seus últimos suspiros, suas
últimas baforadas quentes do vento amigo que vem do sul. O outono não tardará e
já vemos sinais disso no verde cansado das folhagens, algumas já revelando seus
últimos anseios, metamorfoseados em diversos matizes, que vão sangrar beleza
aos nossos olhos, brevemente.
Antes que a natureza
entre em hibernação, as cores da paisagem farão um espetáculo feérico, para nos
deixar maravilhados. Felizmente, nos é permitido sentir a beleza; ela é frágil
mas nos imprime sensações reconfortantes que alimentam nossa esperança.
No meu jardim,
excetuando-se as flores anuais que plantei, das quais cuido com muito carinho,
e que ainda estão vigorosas, restam poucas das silvestres, que estavam tão
lindas, mas já começam a perder o viço. Não há nada que eu possa fazer para
mudar esse percurso, elas cumpriram o papel que lhes cabia.
Um novo ano letivo começa
(fim de agosto/início de setembro), os ônibus escolares estarão por toda parte, tingindo de
laranja as ruas e estradas. Irão levando o futuro dentro das cabecinhas dos
jovens, que se preparam para enfrentar uma jornada que não será nada fácil, com
desafios incalculáveis. Em pouco tempo, essas crianças que hoje pegam a
condução para a escola cedinho, voltando a casa ao final da tarde, estarão
crescidas e a elas caberá agir e decidir.
Tudo passa tão
rápido...
Todos os habitantes
deste país se apressam em terminar as atividades que ainda são possíveis antes
que a neve comece a cair. Na nossa região, isso pode acontecer a qualquer
momento, logo que o verão vai acabando. Os ventos gélidos vindos do vizinho
polo norte, logo, logo, começarão a soprar e a desnudar as árvores.
Dentro de pouco tempo,
o céu e suas correntes de ar mostrarão o caminho do sul vivificante às aves
migratórias; com seus gritos lancinantes, elas irão embora nos alertando que
virá, para nós, o tempo do silêncio frígido e inflexível das águas, da lenta e
inóspita brancura que esconde os segredos da vida.
Mas a neve traz alento quando a claridade do dia nos falta, refletindo e intensificando as luzes que restam para iluminar a escuridão. Na verdade, nós, canadenses, não temos medo. Reclamar é só uma questão de praxe. Tudo já está preparado para enfrentar o inverno e, por isso mesmo, a melhor postura é a de que “basta a cada dia o seu mal” [1], un jour à la fois.
Os sistemas de
aquecimento estão funcionais, aquilo que tinha que ser reparado já foi. Janelas
e portas estão prontas para não deixar passar sequer uma réstia de ar. Os
telhados estão prontos para receber e despejar o peso do gelo. A lenha já está
estocada para o caso de faltar eletricidade.
Falta recolher o que
está lá fora, que usamos no verão, mas isso ainda pode esperar. Ainda está cedo
também para a troca de pneus: por lei, somos obrigados a trocá-los o mais tardar em 15 de
dezembro, mas sempre trocamos antes, pois a neve não conhece as leis dos homens.
Os armários já começam
a se transfigurar... As roupas e lençóis mais leves de verão já estão indo para
o baú, depois de lavados, e os agasalhos mais leves já retornam aos cabides.
Tudo de leve ainda... slowly but surely.
Casacos, gorros, luvas, cachecóis, meias de variadas espessuras, esperam sua
vez para se espreguiçarem fora dos guardados.
Ah! E as botas! Vou
poder usar aquelas novas que comprei para o inverno passado e não pude calçar
porque estava com o dedinho do pé machucado! Lembrar delas agora me deu o mesmo
prazer de quando as comprei.
Mas a melhor parte da
indumentária de inverno, na minha opinião, são as luvas. Quando era criança, achava
elegantes e charmosas as fotos antigas de minha mãe e minhas tias, usando
luvas. Assim como as personagens dos filmes. Ficava encantada e me dava vontade
de imitar os gestos das mocinhas, que ficavam mais graciosos com esse acessório.
Pude ter essa catarse aqui, no inverno, usando minhas próprias luvas. Nada mais
chique que pegar uma bolsa com a mão enluvada. E que charme, então, dar aquele
adeusinho estando assim bem equipada!
Bye bye verão! À
la prochaine !
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Publicado também pela KBR Editora Digital em 29 de agosto de 2015:
https://cronicasdakbr.kbrinternational.org/2015/08/29/o-ultimo-aceno-bye-bye-verao/
http://www.kbrdigital.com.br/blog/o-ultimo-aceno-bye-bye-verao/
e
https://www.cronicasdakbr.com/2015/08/29/o-ultimo-aceno-bye-bye-verao/
https://cronicasdakbr.kbrinternational.org/2015/08/29/o-ultimo-aceno-bye-bye-verao/
http://www.kbrdigital.com.br/blog/o-ultimo-aceno-bye-bye-verao/
e
https://www.cronicasdakbr.com/2015/08/29/o-ultimo-aceno-bye-bye-verao/
[1]
“Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará
de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.” Mt 6: 34
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