quarta-feira, setembro 16, 2015

Crise

Também publicado pela KBR Editora Digital em 12 de setembro de 2015:
https://cronicasdakbr.kbrinternational.org/2015/09/12/crise-2/
http://www.kbrdigital.com.br/blog/crise-2/
e
https://www.cronicasdakbr.com/2015/09/12/crise-2/


A palavra mais usada no momento atual e em todas as línguas é "crise". Mais uma se juntou, neste mundo já tão desvairado: a mais notória agora é a migratória, verdadeira comoção geral, retratada e amplamente divulgada. A imagem que percorreu o mundo, daquela criancinha morta, deixada na praia pelas ondas do mar, exorta à hombridade. O coração da humanidade foi tocado, fustigado. Todo mundo está à beira de uma crise existencial.
Para ser sincera, ando muito desiludida com os rumos que o ser humano vem tomando e fiquei admirada com o fato de que as pessoas ainda se comovam ao verem crianças mortas. O afogamento deste pequerrucho me causou enorme tristeza mas, por outro lado, fiquei aliviada com a reação do mundo, comovido com o que aconteceu.
Este episódio me fez lembrar de um caso, entre outros, de um menininho de dois anos que morreu afogado aqui no Canadá, há pouco tempo, em águas pluviais – imaginem! – na vala de drenagem que existe à beira das ruas e estradas. Um instante de distração dos pais – será? – e a criança desapareceu. Mais tarde foi encontrada afogada. Eu não vi a cena, não houve divulgação de fotos. Mas quando soube do caso, tive um aperto tão forte no peito, que pensei que estava com angina. Não vi muita gente comovida. Será que a maioria das pessoas precisa ver para se comover?
E já que o assunto é crise e criança, seria uma grave omissão de minha parte não mencionar as crianças do Brasil que não têm uma vida minimamente normal, condenadas ao cárcere domiciliar sem serem criminosas; as crianças do Brasil que morrem todos os dias, vítimas da violência de crimes de toda sorte; as crianças do Brasil que são irremediavelmente transformadas em monstros criminosos – esse é o pior escândalo, transformar crianças em criminosos é muito pior do que causar sua morte.
Voltando à crise migratória, a questão é onde encaixar toda essa população que se evade, deixando tudo para trás, em busca de paz. Pelo que li nos noticiários, estas últimas levas de migrantes que estão chegando à Europa são de sírios que estavam em acampamentos de países vizinhos ao deles. Apesar de não estarem em zonas de bombardeio e perigo iminente, são famílias que sonham com uma vida melhor do que simplesmente sobreviver.
Aqui no Canadá, em pleno período de campanha eleitoral, cada candidato quer se mostrar mais receptivo aos refugiados, exigindo rapidez nos processos de aceitação. O Premier Stephen Harper, que também está na corrida eleitoral, está tendo que “rebolar” para satisfazer a opinião pública, ao mesmo tempo que tenta manter os critérios de avaliação de imigrantes, para evitar o risco de entrarem terroristas infiltrados na leva de refugiados.
Além de enviar importantes somas de dinheiro aos países necessitados de ajuda, que já acolhem os fugitivos, o Canadá está tomando medidas concretas para acelerar o processo de entrada desses imigrantes, mas sem negligenciar a segurança dos cidadãos canadenses. Já existe um grande contingente de refugiados no Canadá, que é um país acolhedor. Mas uma invasão em massa pode desestruturar qualquer um, por mais que haja infraestrutura. E um país desestruturado não poderá oferecer as melhores condições de vida desejadas.
Acho boa a ideia de ajudar os países onde os fugitivos já se encontram em acampamentos, para que possam ter uma vida mais normal. Ou, quem sabe, a ideia do milionário egípcio, citada por Ângela Dutra de Menezes[1], de comprar uma ilha e fundar um país para os que fogem da violência do Oriente Médio.
O mundo está conturbado demais. Não sei o que será das gerações futuras. Mais um motivo para darmos melhores possibilidades às crianças de hoje. Quem sabe, assim, elas encontrarão soluções mais promissoras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário